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30/05/2021 às 18h03min - Atualizada em 30/05/2021 às 18h03min

Entre a gestão e a poesia

Da Redação
À frente do desafio da sua terceira experiência como gestora pública, a poeta Lilia Diniz revela, nesta entrevista, as principais ações que realizou na Superintendência Regional de Cultura e Turismo do Estado, órgão ligado à Secretaria da Cultura, o que tem planejado para os próximos anos e como se divide entre a gestão e a sua atividade existencial com a poesia. Academica Lília Diniz - Foto: Divulgação/AIL

O Progresso - Qual é a atuação do órgão que você dirige, na região tocantina?
Lília Diniz - Nossa atuação é pautada na articulação entre os gestores dos 27 municípios que compõem a nossa área de atuação, artistas, produtores culturais e demais setores, com a agenda de políticas públicas para a cultura da Secretaria de Cultura do Estado/SECMA. Ouvir, orientar e encaminhar as propostas para o Secretário, que por orientação do Governador Flávio Dino, busca descentralizar cada vez mais os recursos, democratizar o acesso e fortalecer a diversidade cultural do nosso estado. 

OP - Houve alguma ação, neste período de pandemia, que merece destaque?
LD - O estado do Maranhão foi o primeiro estado brasileiro a publicar editais voltados para o setor cultural. Vale ressaltar que não somente os artistas estão sendo contemplados. Produtores culturais e trabalhadores da área de eventos também estão sendo beneficiados, inclusive com Auxílio Emergencial, demonstrando a sensibilidade do governador e a grande articulação que o Secretário Anderson Lindoso tem feito em benefício do setor, em todo o estado do Maranhão. 

OP - Para você, qual o maior desafio de um gestor cultural?
LD
- Cada gestão tem um desafio específico, por ser a cultura diversificada e cada estado ou município ter suas peculiaridades. Contudo, creio que o desafio de compreender e colocar em prática políticas estruturantes, norteadas pelas três dimensões: simbólica, cidadã e econômica, pode ser um dos maiores desafios. Lembrando que tais dimensões foram amplamente discutidas durante a preparação da 2ª Conferência Nacional de Cultura, em todos os municípios brasileiros em 2010, e que nortearam as políticas públicas para a cultura elaboradas a partir de então, incluindo a criação do Sistema Nacional de Cultura e o Plano Nacional de Cultura, desmontado pela atual gestão do governo Bolsonaro. Infelizmente a Política Cultural não é vista ainda, por muitos gestores, como algo importante para o desenvolvimento do país, e isso é visto claramente nas decisões de destinação recursos mínimos para o investimento no setor cultural. Contudo, os dados apontam que uma grande fatia do PIB é movimentada pela economia da cultura.No Maranhão temos buscado, com seriedade e inventividade, ampliar os recursos, realizar boas parcerias, democratizar o acesso por meio de editais para que um maior número de pessoas dos 217 municípios possam ser contempladas diretamente e o estado todo receba e perceba o fazer cultural de sua região.

OP - Como se dividir entre a gestora e a artista?
LD
- Para mim tem sido um desafio interessante. Sou apaixonada pela gestão cultural, inclusive com especialização acadêmica e, o melhor, na vivência, discutindo em seminários, conferências e fóruns diversos proposta para a gestão pública. E ao longo de 30 anos de estrada, elaborando e executando projetos culturais. Essa é a minha terceira experiência na gestão pública e, para mim, o desafio maior é estar atenta para não deixar de lado a minha produção pessoal, anular o processo criativo para mim é letal, e ao mesmo tempo zelar para honrar as competências técnicas e políticas do cargo, mediando conflitos, gerindo com inventividade em meio a tantas dificuldades e desafios. 

OP - Quais os projetos da superintendência para os próximos meses?
LD
- Estamos focados nesse momento na criação e montagem do tão esperado Museu Histórico de Imperatriz Adalberto Franklin. E é um grande desafio. Estávamos, em março de 2020, com tudo pronto para locação do espaço, com as diretrizes de trabalho traçadas, inclusive com a vinda do secretário Anderson Lindoso para visitação ao espaço, a eleição da comissão provisória para criação do Plano Museológico, quando a Pandemia chegou mudando todas as prioridades. E naquele momento o governo optou em salvar vidas e seguir as recomendações dos cientistas. Agora é o nosso principal foco, retomar as ações nos adaptando ao novo tempo que a crise sanitária nos impôs pela Covid-19.

OP - Você é membro da Academia Imperatrizense de Letras, que acabou de fazer 30 anos. Qual é a sua visão sobre o papel da entidade?
LD
- A AIL tem um papel relevante na região. Seja pela ação empreendedora ao realizar um dos maiores eventos literários, e porque não dizer multicultural, e de comercialização de livros, ou ainda pelas camadas sociais diversas com que ela consegue dialogar, estimulando a formação do pensamento por meio da literatura, da leitura e das artes em geral. É um dos faróis que norteiam a formação de leitores críticos na região. Muito me alegra fazer parte desta Casa.   

OP - Você é poeta reconhecida nacionalmente. Qual é a importância da poesia?
LD
- Gosto muito de um texto do Rubem Alves que fala sobre a importância das coisas e das pessoas, chamado “A caixa de Brinquedos”, ele me faz refletir muito sobre o quanto a desimportância é urgente. E gosto ainda de lembrar sobre uma palestra do Poeta Salgado Maranhão, quando relatou sobre o fato de alguém ter dito a ele que a poesia não servia para coisa alguma, e ele respondeu: “A poesia me deu a dignidade de ser o ser o humano que eu me tornei”. E a exemplo de Salgado, eu digo que foi a poesia que me resgatou da lama. Foi a poesia que sacudiu meus escombros e a mim revelou nuances e coisas grotescas, para que eu as lapidasse e pudesse olhar o mundo pelos olhos da poesia de Manoel de Barros, Carlos Drummond de Andrade, Zeca Tocantins, Catulo da Paixão Cearense, Cora Coralina, Patativa do Assaré, Sérgio Vaz, Ana Cristina Cesar, Cecília Meireles e outros tantos poetas que, de tanta desimportância, tornaram o mundo mais bonito. 
 
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