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28/06/2024 às 18h03min - Atualizada em 28/06/2024 às 18h03min

O BECO

ELSON ARAÚJO

ELSON ARAÚJO

ELSON Mesquita de ARAÚJO, é membro da Academia Imperatrizense de Letras-AIL e durante alguns anos, foi repórter de O PROGRESSO.

Difícil explicar o medo. Defini-lo então, nem se fala. Viver nos revela que, em doses e momentos certos, o medo é até necessário, pois nos livra de muitos perrengues e chega a salvar vidas. Mas há também o medo mórbido, aquele que surge sem motivo aparente, tão intenso que nos paralisa e até nos adoece. O medo, como quase tudo na vida, é relativo. Às vezes mata, outras salvas. Há inúmeros exemplos espalhados pelo mundo sobre essa relatividade do medo.

Dia desses, li uma frase: “Faça o que temes e a morte do medo será certa”. Algum tempo depois, testemunhei um fato que tornou, para mim, essa frase inquestionavelmente verdadeira. Eu vi e vou contar.

Ei-la.

Fred precisava chegar o mais rápido possível ao seu destino. Era um caso de vida ou morte, mas no meio do caminho havia um beco. E ele tinha pavor de becos. Pavor esse provocado por um trauma de infância. Tinha oito anos quando, num beco estreito perto de casa, assistiu à sua prima ser estuprada e morta a facadas pelo namorado.

Aquela imagem sinistra ficou guardada no subconsciente do menino. Desde então, sempre que se deparava com um beco, até mesmo em revistas ou na TV, o gatilho daquela lembrança era acionado. Um dia, chegou até a desmaiar e foi parar numa casa de saúde.

Naquele dia, não teve escolha. Estava diante da única via que o conduziria ao seu destino imediato. Precisava seguir, e aquele maldito beco era o único caminho. Já estava na terceira tentativa. Tremia, suava frio, o coração batia descompassado; a respiração fora de sintonia. Buscava o ar, mas o ar não vinha. O mundo girava, a cabeça doía.

Precisava seguir adiante. O beco não era longo, mas para Fred parecia interminável.

O tempo passava. Ele ia tentar pela última vez. Uma vida dependia de sua coragem para atravessar aquele beco. Fechou os olhos, buscou forças onde não tinha. Ajoelhou-se, respirou fundo e levantou-se de uma vez. Fred olhou para o vazio, tentando se controlar, enfrentou aquela situação desesperadora e seguiu.

Com o coração quase saindo pela boca, conseguiu chegar ao fim da jornada. Dali em diante, estavam salvos ele e a vida que, naquele momento, dependia dele.
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