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28/09/2021 às 00h00min - Atualizada em 28/09/2021 às 00h00min

O assessor eficiente!

O vendedor de ovo de égua - Causo XII

JAURO GURGEL

JAURO GURGEL

JAURO José Studart GURGEL, durante muitos anos Editor Regional de O PROGRESSO, em Araguaína (TO),

*Republicado a pedidos
**Publicado originalmente em 9 de novembro de 2014
  
No excelente livro “Pinga-Fogo”, do brilhante artista das letras Zacarias Martins, mais precisamente na página nº 53, está publicado o “Decálogo do Bom Político”, que no item 8 assim expressa: “Um bom político que se preza tem que ter, obrigatoriamente, pelo menos um bom puxa-saco. Se não o tiver, deixa de ser um bom político”, e no item seguinte, o de nº 9, vem uma emenda: “Contrariando o que foi dito anteriormente, um bom político nunca tem puxa-saco. Tem colaboradores fieis”. Aproveitei a obra do grande Zacarias Martins para escrever este texto, preferindo chamar estes “puxa-sacos” ou “colaboradores fiéis” de assessor eficiente, embora tudo seja a mesma coisa: o popularmente conhecido “baba-ovo”, apesar de não ser de égua.


Recentemente, um grande amigo meu, aqui de Araguaína - cujo nome eu prefiro omitir, pois tenho a convicção de que ele jamais me perdoaria se eu tornasse público este seu elevado grau de “puxa-saquismo” -, ao se encontrar com uma certa autoridade policial, com a graduação em tenente, afirmou esta verdadeira pérola: “Como está este meu querido tenente, com a competência de um coronel, mas infelizmente com um salário de soldado?”. É ou não é uma maravilha? E o interessante é que o tenente gostou tanto que ficou todo “inchado”, parecendo mais um general sem medalhas.

O fato que agora será narrado, do qual eu fui testemunha ocular e “ouvilar”, aconteceu por volta do ano de 1994, quando o prefeito de Araguaína era o pecuarista Joaquim de Lima Quinta, e eu exercia o cargo de Assessor de Imprensa da Prefeitura Municipal. Num certo dia, um auxiliar direto da administração municipal resolveu oferecer, em sua residência, um almoço para o prefeito Quinta e, para isso, convidou aqueles auxiliares mais ligados ao chefe da municipalidade. A casa do ilustre anfitrião ficou totalmente lotada, tudo dentro do figurino, pois o interesse maior daquele auxiliar não era “matar a fome” dos convidados, mas sim impressionar o senhor prefeito e sua ilustre comitiva. Já depois do almoço, quando saboreávamos a sobremesa, por sinal um delicioso doce de abóbora em calda, uma criança de aproximadamente 4 ou 5 anos entrou na casa correndo, como faria qualquer outra criança, e o prefeito carinhosamente fez o seguinte comentário: “Que linda criança, fulano! Ela é sua filha?”, e a resposta foi tão engraçada que ninguém conseguiu conter a gargalhada. Na maior cara-de-pau, no maior cinismo do mundo, o auxiliar respondeu: “Que é isso, senhor prefeito. Ela é nossa!”.

Mas a forma de “puxa-saquismo” que agora será contada extrapola todos os limites da falta de caráter do bajulador. A história não foi por mim testemunhada, mas a pessoa que me contou é da maior credibilidade, ao ponto de ter se tornado uma “fonte” para o meu trabalho jornalístico, e como costumeiramente gosto de dizer, “fonte é como amante, não se revela o nome nem que chova canivete ou que a vaca tussa”. Depois de tomar conhecimento de tanta “bajulação”, fui verificar “in loco” a sua veracidade e, para minha surpresa, as evidências: puxa-saquismo igual ainda não tinha visto.

Em uma certa cidade brasileira – são mais de 5.000, espalhadas pelos 27 estados – um certo órgão (não direi se público ou privado) era administrado por uma representante do sexo feminino, que embora fosse uma boa gestora, estava com a sua administração atrapalhada pelo elevado número de puxa-sacos que a rodeava. A sua equipe de trabalho era do mais alto nível em termos de “bajulações”, e sempre um brigava com outro, pois cada qual queria ser o melhor “puxa-saco”. Diariamente, logo ao raiar do sol, ela recebe a visita de um destes seus auxiliares, que lhe leva todos os tipos de doces e salgados para o seu café matinal, e o pior de tudo é que, lá chegando, ele declara as seguintes palavras, que já sabe de “cor e salteado”, na ponta da língua: “Minha lindinha! Aqui estou com os docinhos e salgadinhos, que a minha esposinha fez, com muito carinho, para o seu cafezinho”. E, desta forma, ele vai se fortalecendo, cada vez mais, na equipe de auxiliares daquela administração, embora a competência e a capacidade não sejam demonstradas.

O mais gozado nesta história é que, certa vez, uma outra pessoa, também do sexo masculino, ao tomar conhecimento da atitude daquele auxiliar e desejoso de conquistar a tal gestora, resolveu fazer o mesmo, ou seja, levar docinhos e salgadinhos. E em uma certa manhã, mesmo com uma chuva torrencial que caía sobre a cidade, eis que chegam os dois, ao mesmo tempo, com as bandejas de doces e salgados. E a briga foi feia, com os catiripapos para lá e para cá, enquanto o meu amigo testemunhava o fato, dando gargalhadas do outro lado da calçada. Quem são estes dois elementos brigões? Deixa pra lá!

Já estava terminando este texto quando passaram aqui na porta do meu escritório duas mulheres que acredito serem sogra e nora, com a nora brigando porque não sabia onde estava o seu marido. Foi então que a mais velha das duas, certamente a mãe do marido da outra, afirmou esta frase sensacional: “Minha filha, a única mulher que sabe onde o marido está é a viúva”. E o pior de tudo é que ela está mais do que certa! Ou não?
 
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