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02/07/2022 às 00h00min - Atualizada em 02/07/2022 às 00h00min

SILÊNCIO NO TRIBUNAL

(vida real)

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

 
O velho lavrador cioso de suas terras, pagava regiamente, todos os anos, o seu ITR – Imposto Territorial Rural, junto à Prefeitura de sua cidade. Esse tal Imposto é a honra e a dignidade exposta e a consagrada titularidade do proprietário de suas terras. Ele se ufana do cumprimento da obrigação. Faz questão disso.

Ocorreu que o outrora servidor do Município, encarregado desse tal ITR, estava em litígio trabalhista com a Prefeitura, sua ex-empregadora que, entre outras versões, alegava que o Reclamante NUNCA FORA SEU EMPREGADO. É o que em litígio trabalhista chama-se “NEGATIVA DE VÍNCULO”. O litígio estava lançado!

À procura de testemunhas que se lhe dessem testemunho, lembrou-se o Reclamante que aquele velho lavrador estivera consigo no recinto da Prefeitura quando do lançamento e pagamento do tal imposto e que, portanto, poderia lhe servir como testemunha. Uma luva em suas mãos!  Então foi procurá-lo. De logo perguntou ao velho lavrador se dele lembrava-se ao atendimento na Prefeitura, quando do pagamento dos seus ITR, no que recebeu resposta POSITIVA. O lavrador confirmou.

O litigante manifestou então que queria que o lavrador lhe servisse de TESTEMUNHA numa ação judicial contra a tal Prefeitura. O roceiro esquivou-se, alegando que, em realidade não sabia integralmente do seu trabalho junto à Prefeitura e apenas tivera sido recebido por si (litigante) e consigo tratado do tal Imposto Territorial, por diversas vezes. Pronto! É só isso que eu quero, disse o litigante. O lavrador então deixou claro que nesse ponto e só nesse ponto poderia servir-lhe de testemunhas.  E então, segue o baile...

No dia da audiência – como bem assim são as audiências judiciais litigiosas, o clima era tenso. O litigante alegava ter sido empregado da Prefeitura e queria uma vultosa indenização. A prefeitura “NEGAVA O VÍNCULO”, quer dizer: o tal Reclamante não tivera sido seu empregado. Olha a situação! E segue o baile... O ambiente estava repleto de juiz, preposto da prefeitura, testemunhas, advogado da prefeitura, litigante e seu advogado, servidores da justiça além de uma pequena plateia de estagiários e outros ali presentes. E segue o baile...

Chamado o velho roceiro como testemunha do suposto empregado, e, uma vez perguntado, respondeu que conhecera aquele Reclamante, em serviço junto à Prefeitura por diversas vezes, anuais, quando ali comparecia para tratar e pagar o seu ITR – Imposto Territorial Rural. O clima ficou tenso, com essa declaração. Segue o baile...

O ilustre advogado, naquele sufoco onde começava a perder na sua defesa, imaginou que levaria o lavrador à contradição e,então lançou-lhe um bote: “O senhor me conhece? Perguntou o advogado.  - Conheço sim senhor, respondeu o lavrador. Sabendo o advogado que nunca tivera qualquer relação, nem aproximação nem qualquer outro motivo aparente par tal “conhecimento”, lançou-lhe nova pergunta: - Conhece de onde? Conheço da minha casa, respondeu o roceiro. Da sua casa??????????? Estupefato, pergunta o advogado com veemência.  Sim senhor, da minha casa, respondeu o lavrador seguro e sóbrio. Como assim, da sua casa???? Se eu nunca estive em sua casa!!! Insistiu o advogado.

Responde o lavrador: certa vez, ainda pela manhã, o senhor amanheceu bêbado e caído na minha calçada. O sol esquentava. Eu sabia como sei que você é um “doutor-formado,” gente de família. Então peguei você com auxílio de outras pessoas e lhe pus para dentro do meu pequeno comércio, na sombra. Logo depois, vieram colegas seus e te puseram dentro de um carro de mão e te levaram. É da minha casa que eu conheço você. Disse o lavrador, cara a cara com o advogado.

Ah, pra quê?! Bem ali as pessoas presentes puseram-se em sorrisos e cochichos. Estabeleceu-se uma algazarra. O juiz então, espancou um tímpano e determinou: SILÊNCIO NO TRIBUNAL. Feito o silêncio, o juiz retomou a palavra e pergunta ao advogado: - Mais alguma pergunta, doutor? No que o advogado responde; “Nada mais a perguntar”. Estava bem ali lançada a sorte da Prefeitura, do seu litigante e... do advogado em suas perguntas.

*- O velho lavrador era o meu pai!!* Um advogado nato que aprendeu “até a cartilha”, como ele costumava dizer.

* Viegas questiona o social.
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