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16/07/2021 às 00h00min - Atualizada em 16/07/2021 às 00h00min

A ESCOLA DO SERTÃO ERA FOGO!

- FOGO COM PH!

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.


Cursei até o “Terceiro Livro” na Escola do Sertão. A escola do Sertão era FOGO! Fogo com PH! Lá havia uma PALMATÓRIA em tempo inteiro sobre a mesa. Escreveu não leu, pau comeu”. A palmatória tinha um furo ao centro e chamava-se “Santa Luzia”. Porque “Santa Luzia”, não sei - nunca soube. Quando conclui o Sétimo Livro”, aos sete anos de idade, numa manhã fria, o meu pai levou-me para continuar a escolaridade na Escola Pública, na Vila. A minha mãe ficou chorando pelos cantos. Um gesto de que nunca esqueci.

Era uma tarde de sol. A diretora do Grupo Escolar me fez a maior sabatina em todos os tempos. Mil perguntas. Exauriu-me o quanto pôde! Quando pensei que havia concluído a tarefa aí veio um “ditado”. Lembra do ditado?  Pensei que houvera concluído a maratona, aí veio uma “cópia”. Por último, quando o sol já caía para as cinco da tarde, aí vieram algumas operações em tabuada (matemática). Dei conta do recado.

A Diretora, dura na queda, ponderou junto ao meu pai que a Escola do Sertão, não seguia aos preceitos e métodos da Escola Pública, por isso ao invés de matricular-me no TERCEIRO OU QUARTO ANO, sugeriu que eu fosse matriculado no SEGUNDO ANO. E o meu pai disse AMÉM! “A senhora é quem sabe. Do jeito que a senhora fizer é que está certo”.

Pouco depois, no período escolar, ao faltarem duas professoras num só dia, a Diretora dispensou o meu Segundo Ano e foi para uma sabatina no QUARTO ANO. Antes porém, me pegou pelo baraço e levou-me para aquela aula extra. Pergunta vai, pergunta vem e, numa delas o ilustre Quarto Ano não deu conta. Ainda me lembro desse bendita pergunta e resposta, até hoje! Eu então, “bati com o dedo”, um costume da época, lembra? E quando todos deixaram de responder ela me passou a pergunta. Foi uma explosão em silêncio! Um desconhecido interiorano do 2º ANO, respondeu a uma pergunta ao Quarto ano! Soube depois que poderia ser promovido ao Quarto ano mas... ficou só nisso.

No QUARTO ANO, fiquei fora da sala de aula por dois meses por conta da saúde (sarampo, rubéola e catapora, tudo seguido). No Fim do ano, ainda passei com a nota SETE, mas a Diretora sugeriu me reprovar. E o meu pai, novamente, disse amém! “A senhora é que está certa”. Concluído curso primário, num ato de “insanidade” do meu pai este me levou para o Exame de Admissão na Capital. Em meio a 60 vagas, entre 510 candidatos. Eu estava lá, na Escola Federal.

A escola do Sertão era fogo! Fogo com PH! Escreveu não leu, pau comeu. Aos sábados tínhamos um terrível ARGUMENTO. A palmatória corria livre, solta. “Meu Deus do Céu, hoje é sábado. Hoje tem argumento”, a turma “se pelava” de medo! O mestre impoluto, firme, seguro, garantido, punha-se a um canto e fazia uma meia-lua com os alunos à sua frente. Eram perguntas de “TABUADA”. Lembra da Tabuada? 5 X 8?; 40 divido por 5?; 17 menos 6? Os que erravam apanhavam dos que em seguida acertavam. E tinha que bater firme. Do contrário apanhava de quem teve dó em bater. Ou, conforme o caso, o próprio mestre revidava a todos. A escola do Sertão era Fogo! Fogo com PH!

Aos sábados tínhamos um TRASLADO. Lembra do traslado? “Não brilha o diamante sem lapidação /o mesmo acontece ao homem sem educação...”. Em uma lauda, fazíamos aquele mesmo traslado, no Quarto Ano, todos os sábados, o ano inteiro.

Certa feita, andei barafustando a internet para saber de onde procedia essa frase que integrava o “cabeçalho” do nosso translado. Constatei então que a frase compunha o texto de um traslado de um antigo mestre, de uma antiga escola que houve numa cidade da Bahia. Uma escola então da vila com as mesmas características da Escola do Sertão, com palmatória e tudo! E então fiquei ma-ra-vi-lha-do!!!  Mas perdi o diamante!

Se alguém que por ventura me ler tiver acesso a essa frase do texto do translado do antigo mestre baiano, que me dê a honra de comigo dividir, através do emaill abaixo, essa PÉROLA tão auspiciosa e única, deixada em algum lugar deste Planeta...

Devo a honra e a gratidão à Escola do Sertão e nela ao Grande Mestre-Escola, como devo ao meu Grupo Escolar Primário – de um tempo do QUINTO ANO DE VERDADE, ambos que formaram a minha base escolar. Sendo que a minha eterna e áurea Escola Técnica Federal foi o arremate dessa formação. Mas uma coisa é certa: A ESCOLA DO SERTÃO ERA FOGO! FOGO COM PH!!!

* Viegas questiona o social. Email: [email protected]
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