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27/02/2021 às 00h00min - Atualizada em 27/02/2021 às 00h00min

Confusão no cartório

Baseado em fatos reais

Elson Araújo
A confusão foi grande demais na semana passada, num determinado cartório do registro civil de uma cidade de 15 mil habitantes, do interior do Brasil. Pai novo, um cortador de cana havia chegado na cidade para registrar o filho. Precisava resolver logo a situação e voltar rapidinho para a serra, onde trabalhava e morava havia alguns meses. A pandemia do coronavírus, até aquele dia, não tinha mudado em nada a rotina dele, continuava a trabalhar duro do mesmo jeito.  A folga recebida do, exigente patrão, era apenas para registrar o garoto e nada mais.

Longe do serviço e do olhar do chefe, embalado pelo nascimento filho, decidiu que não custaria nada tomar uma Pitu com caju, antes de ir ao cartório. Seu primogênito havia nascido e uma comemoração era preciso. Só que o boia fria, como já era de se esperar, não ficou apenas nisso. Engatou uma atrás da outra e   quase que perdia a hora do cartório, por causa disso.

E foi assim, cambaleante e cego pela cachaça que o cortador de cana chegou ao compromisso. Apenas naquele momento percebeu que não sabia que nome pôr no filho. Nem a mulher tinha lhe dado qualquer sugestão. 

- Com qual nome o senhor vai registrar seu garoto?- Perguntou o oficial do registro.

O cortador de cana meio perdido pensou por alguns instantes e no alto da sua embriaguez levantou a cabeça e numa voz pastosa, para todo mundo ouvir, gritou ao oficial: 

- Meu filho vai se chamar Alcoolingelson Ferreira da Silva. Fiquei aqui na dúvida entre esse nome e Lockindowson,  mas Alcoolingelson acho mais bonito. Pode escrever bem ai- vociferou o bebum. 

O oficial do cartório, todo educado retrucou: 

-Infelizmente nenhum desses nomes será possível.  Imagine que no futuro qualquer um desses nomes vai prejudicar muito a vida de seu garoto- 

Ao ouvir a negativa o cortador de cana zangou na mesma da hora, e foi logo dizendo: 

-O quê, papai? O filho é meu!  Ponho nele o nome que eu quiser. Escreve do jeito que estou te dizendo, Alcoolingelson e, pronto! – 

- Senhor, já disse que com esses nomes não será possível registrar o menino- devolveu o cartorário, já irritado com a situação.

Naquele instante a confusão já era grande. Num descuido o cortador de cana já estava do outro lado do balcão, valente como nunca estivera, e derrubado uma pilha de processos que estava numa mesa.

Pense, na confusão! 

-Alcooingelson vai ser o nome do meu filho, nem que eu tenha que sangrar gente aqui! – Ameaçou o cortador de cana, que insinuou puxar algo da cintura. 

 Àquela altura a segurança do prédio já tinha sido acionada. Dois parrudos chegaram para imobilizar o exaltado boia fria, que continuava possesso por conta da negativa do pessoal do cartório. 

Já com a metade da cana suada, ao perceber que se continuasse com aquele modo ia acabar dormindo na cadeia, e   que a prisão poderia custar o emprego, o cortador de cana freou e gritou: 

-Tá bom, tá bom, já tô mais calmo!! Pensei aqui num outro nome para meu filho para resolver essa confusão. Não precisa me levar pra delegacia, não-

Mais calmo, de volta ao balcão do cartório, o cortador de cana falando baixo, mas ainda visivelmente embriagado, chamou o homem do cartório, sob o olhar dos seguranças e anunciou: 

- Pronto moço, já estou com um outro nome para meu menino- 

- Ah, bom! Finalmente. E qual é esse nome? - Perguntou o cara do cartório. 

-Vamos fazer assim: pra não ter mais confusão. Tira o álcool e deixa só Gelson. Tá certo, assim? 

O conflito acabou, e o cortador cana voltou pra casa com o registro de nascimento do filho. Nada de Lockidowson ou Alcooingelson, mas Gelson Ferreira da Silva.
 
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