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14/03/2023 às 18h32min - Atualizada em 14/03/2023 às 18h32min

Mulher tocantinense processa taróloga por não devolver marido ‘enfeitiçado pelo Thanos dos demônios’

Mulher usou todas as suas economias para trazer o marido de volta

AF Notícias
Taróloga prometeu devolver parte do dinheiro pago pelo serviços - Foto: Ilustrativa
 
“Um caso jurídico que perpassa o plano físico e adentra no mundo das sombras”, assim descreve o defensor público Marlon Costa Luz Amorim sobre um atendimento que realizou na Defensoria Pública do Tocantins (DPE-TO).

Apesar de inusitada entre as demandas recebidas na instituição, a situação trazida por uma mulher – referente ao pagamento a uma taróloga – resultou em uma Ação de Indenização por Danos Morais e Materiais na Vara Cível da Comarca de Palmas.

Na petição inicial, o Defensor Público narra que a moradora de Palmas procurou a Defensoria para relatar que buscou atendimento de uma mulher (que se apresenta como taróloga) a fim de reatar seu casamento. A moradora acredita que a separação havia sido causada por “forças espirituais negativas”.

O motivo da busca pela Defensoria Pública é que a taróloga prometeu devolver parte do dinheiro pago pelos serviços esotéricos. O pagamento foi feito em agosto de 2021 e até o momento, a devolução do dinheiro não ocorreu.

 

O caso em questão

Inconformada com a separação e determinada a salvar a relação com o, então, ex-companheiro, a moradora de Palmas pesquisou referências em todo o País e encontrou no Instagram um perfil que aborda alguns temas relacionados à convivência e resiliência humana.

Os números da conta no Instagram impressionaram: mais de 11 milhões seguidores, o que impactou a mulher, dando a ela a sensação de segurança para confiar na taróloga indicada pelo citado perfil da rede social.

O contato entre as duas (assistida e “taróloga”) teve início com uma consulta no valor de R$ 100 (cem reais). O atendimento para dar fim aos trabalhos malignos que supostamente haviam acabado com o casamento da assistida seria feito mediante pagamento de R$ 800 (oitocentos reais), valor pago pela assistida. Conforme o Defensor Público autor da Ação, “a taróloga garantiu que o varão enfeitiçado voltaria para casa, apaixonado, são e salvo. Porém, a assistida não imaginava que as palavras da ré serviriam apenas de adorno ao seu sofrimento”.

Isso porque, após o pagamento, houve reviravoltas: “Tão logo recebera o pagamento, a taróloga veio a perceber que a magia era obra de um espectro decaído poderosíssimo e que os oitocentos reais seriam insuficientes para estimular seu Guia Espiritual a desfazer aquela cilada satânica. (...) Foi então que a taróloga exigiu da Autora [a assistida da DPE-TO] que fosse colocado ao pé do Guia todo o dinheiro que tivesse consigo ou fosse capaz de arrecadar”, consta na Ação apresentada à Justiça por Marlon Amorim.

Desse modo, a moradora de Palmas depositou na conta indicada pela taróloga a quantia de R$ 7 mil (sete mil reais), todo o dinheiro que havia poupado para fazer um curso de micro pigmentação de sobrancelhas.

Na expectativa do retorno do atendimento na mesma data do pagamento, sobretudo porque a taróloga havia lhe prometido resolver a situação e, ainda, revelar o nome da pessoa que havia feito a “amarração”, a mulher se viu diante de um pedido para um novo pagamento, desta vez na quantia de R$ 8 mil (oito mil reais).

Conforme o Defensor Público, a dita taróloga argumentou que o caso era muito mais grave do que ela havia previsto, daí a necessidade de mais recursos financeiros: “(...) o trabalho havia sido feito (...) por uma espécie de Thanos dos Demônios. Que havia subestimado o poder do coisa-ruim e que os sete mil não fizeram nem cócegas. Pediu, assim, mais R$ 8.000,00, e garantiu que, dessa vez, partiria com tudo para cima do tinhoso.”, narra o Defensor Público na Ação.

Como a mulher não tinha mais nenhum recurso financeiro para continuar com o atendimento, a prestadora do serviço esotérico disse que promoveria a devolução de R$ 7 mil, o que seria feito em 41 dias para não causar problemas com o guia espiritual. O prazo foi aceito pela assistida, porém, os 41 dias se passaram...o tempo passou e com isso, mais de um ano já se foi desde aquele 11 de agosto de 2021 (data do pagamento). Até o momento, o dinheiro não foi devolvido.

 

Denúncia

Conforme a Defensoria Pública, a mulher tem perfil para ser atendida pela Instituição, pois o dinheiro que ela usou para pagar a taróloga é proveniente de economias que ela havia conseguido poupar para fazer um curso profissionalizante. Quando procurou a Instituição para acionar a Justiça, já não tinha mais recursos que havia poupado.

A mulher também recorreu à Delegacia de Polícia e registrou um boletim de ocorrência, requerendo a apuração dos fatos supostamente criminosos, além de manifestamente danosos a sua honra, crença e boa-fé. Procurou, ainda, o perfil do Instagram que, segundo a assistida, divulgava, entre outros conteúdos, os atendimentos da taróloga, porém, foi informada que a mesma não prestava mais serviços àquela conta da rede social.

Na Ação, o Defensor Público requer a condenação de pagamento solidário (entre o perfil que divulgou a taróloga e a própria taróloga) no valor de R$ 20 mil (vinte mil reais) a título de danos morais; e R$ 7 mil (sete mil reais) a título de danos materiais. A Ação está na Vara Cível da comarca de Palmas para apreciação.

“Nem tudo são trevas. Como numa comédia adocicada de sessão da tarde, o casal reatou num clima de paixão florescente e juras eternas”, conclui o Defensor Público, na Ação.

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