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10/06/2022 às 23h17min - Atualizada em 10/06/2022 às 23h17min

PENTATEUCO

Elson Araújo
 
O poder da palavra reside naquilo que ela consegue provocar. Tem palavra que se encerra nela mesma. Se tiver de provocar alguma transformação, é ali mesmo, no agora. Têm outras, que imortalizadas em pedras, papiros, e livros, viajam, no tempo ecoam em todos os cantos da Terra e cheias de poder, destronam reis e rainhas, influenciam comportamentos, inspiram leis, geram bandidos, heróis e déspotas. Formam, mas também deformam.
 
Discursos, ensaios acadêmicos, manifestos, a literatura, nas suas diversas escolas, e principalmente os textos sagrados, quando retirados da “zona de conforto” das prateleiras, e ainda das memórias dos computadores, e ganham as salas de aula, os fóruns de debate, e agora as redes sociais, adquirem um poder bendito, ou maldito.

Textos redigidos antes e depois de Cristo, soam como atuais quando contextualizados aos tempos de hoje. São fontes permanentesdediscussãoe de interpretações diversas, para o bem ou para mal.

Pelo poder que certas palavras encerram, a história revela que não são poucos os relatos de “tráfico de textos” que pelo contexto da época, contrariavam o poder estabelecido e por isso, na linguagem moderna, precisavam ser deletados. A luta pela emancipação dos negros americanos é rica desses relatos.

Todo esse preâmbulo sobre o poder da palavra para uma abordagem inicial sobre um texto que desde que foi disponibilizado representa a força viva da palavra:  o texto bíblico.  O livro mater de várias religiões de fundamento cristão, mas que apensa uma parte, o Antigo Testamento, que é a base de outra importante religião, o Judaísmo, que também cultua o Deus único.  

Desafiei-me! Venci aquele temor, comum da leitura dos textos sagrados, abandonei as leituras desconexas e aleatórias, e comecei, de cabo a rabo, a viajar pelo conjunto da Bíblia com o viés, não só espiritual, mas histórico. A ambientação, as narrativas, as mensagens e ensinamentos, explícitos e não explícitos, seus múltiplos personagens são conducentes a uma viagem fantástica pelos fragmentos das diversas áreas do saber

Tendo sido cuidadoso, na dúvida quanto a um ponto controverso, tenho buscado apoio em alguns textos especializados e a teólogos da cidade. Consulto sempre duas ou mais fontes para formar um juízo.  

Num mundo que desde sempre foi pautado pela força da palavra, vejo como fundamental conhecer melhor o livro que determinou, e continua a determinar tantas transformações, conflitos, mortes e vida. Pensei que desistiria, mas já conclui o pentateuco, como os teólogos cristãos chamam os cinco primeiros livros. Também já venci Josué, fechei juízes e Ruth, a bisavó do rei Davi, e agora vou encarar Samuel. O bom dessa história é que não terei, tão cedo, escassez de assunto para escrever e comentar com os amigos gostarem da temática.

Gênesis, Êxodo Levítico, Números e Deuteronômio, o Pentateuco cristão, e a Torá para o Judaísmo, mesmo com suas peculiaridades, poderiam ser classificados como um só livro. Um sequencia o outro na narrativa da criação do mundo e das origens do povo de Israel até ao seu assentamento nas terras de Canaã.

Embora alguns estudiosos discordem, a autoria do Pentateuco é atribuída ao grande líder dos hebreus Moisés, tese aceita tanto por cristãos, quanto pelos judeus. Antes, estudos apontavam que esses livros tenham sido escritos 1200 a.C , mas estudos científicos mais modernos indicam que o texto, que já vinha da tradição oral, tenha sido compilado bem antes, em 586 a.C

Minha impressão até agora é que mais do que um conjunto de livros que nos remete a questões espirituais e religiosas, o pentateuco guarda uma riqueza literária extraordinária. Além disso, é uma importante fonte histórica a partir da saga de seus personagens.

Como já mencionei, o Pentateuco narra a saga do povo hebreu até Canaã, a terra prometida, a partir da saída do Egito. Na caminhada de 40 anos pelo deserto, muitos ensinamentos e o embrião de muito da sociedade de hoje.
É perceptível, numa leitura mais atenta de cada um dos livros, o os rudimentos da sociologia, fragmentos da psicologia, e muito, mais muito do Direito. O Direito Penal é escancarado! Estão lá, por exemplo, os institutos da pena e da culpa, do direito de família, sucessão, agrário, tributário e até mesmo numa interpretação ampliada, da administração pública.

O assunto não se esgota aqui, mas para encerrar a crônica de hoje, o Pentateuco não é um conjunto de livro para uma única leitura. Pela sua simplicidade, e ao mesmo tempo complexidade, e ainda pelas flagrantes contradições, sente-se a necessidade de uma compreensão maior a respeito do que ali foi escrito e da busca de outras fontes teológicas/históricas para que se possa ter uma compreensão melhor a respeito desse texto maravilhoso. Para mim, tem sido uma experiência fantástica. Recomendo!
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