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26/04/2022 às 00h00min - Atualizada em 26/04/2022 às 00h00min

Solidão – Perigosa, silenciosa e mortal

Ismael Souza
[email protected] / Instagram: @psiisma
Cientistas da Universidade McGill nos EUA, fizeram dois grupos de ratos de laboratório numa experiência: no primeiro, as fêmeas tinham liberdade para cuidar de seus filhotes. No outro, os filhotes tinham pouco contato com as mães. Os filhotes que haviam passado a infância sozinhos apresentavam sinais de depressão e altos níveis de corticosterona, um hormônio liberado em situações de estresse. Segundo Pedro Antônio Lima, psiquiatra do Instituto do Cérebro da PUC-RS, “em humanos, o processo é semelhante”. No organismo humano, aumenta-se a produção de cortisol, hormônio similar à corticosterona. Um outro estudo publicado pela Universidade de Chicago diz que a solidão tem grandes efeitos no ser humano – o primeiro, ainda não completamente compreendido é enfraquecer o sistema imunológico, o segundo, é que o cortisol aumenta o grau de inflamação nos tecidos do corpo. A longo prazo, pode danificar órgãos, influenciar no diabetes, endurecimento das artérias, doenças neurológicas e até na transformação de tumores em metástases.

Assustador? Aqui vai mais alguns dados: A solidão é mais mortal que a obesidade (que eleva 20% a chance de morrer) e o alcoolismo (30% a mais de risco) e consegue ser tão danosa quanto o tabagismo; é tão letal quanto fumar 15 cigarros por dia. A psicóloga Michelle Lim, do Centro de Pesquisas em Ciências Cerebrais e Psicológicas da Universidade Swinburne (Austrália), atesta que “apesar de estar associada a altos índices de mortalidade, a solidão é uma questão de saúde pública amplamente ignorada”. É justamente por isto que temos que tomar cuidado – somos animais sociais. Na natureza, só conseguiríamos sobreviver se estivermos em grupo. Uma onça no pantanal se vira muito bem sozinha, um humano desgarrado vira almoço da onça. Isso vem desde nossos antepassados, está em nosso DNA a necessidade de senso comunitário.

 
Na idade média, a sala da casa era usada pra tudo, desde cozinhar, comer, receber visitas e dormir. Com a modernidade, avanço da tecnologia foi criando-se uma “ideologia do EU sozinho”. Nunca se morou tão só – o advento das moradias chamadas “Apartamentos” vem de “apartar”, separar, ficar só – um refúgio para a individualidade. O que é bom e saudável desde que seja uma escolha prazerosa e não uma situação indesejada. Às vezes podemos sentir sozinhos mesmo estando com uma casa cheia, pois esperamos que nos relacionaremos de um jeito e esse retorno não acontece, não deveríamos sentir solidão o tempo todo e se sentirmos dificuldade em socializar ou se relacionar com alguém, procurar ajuda do psicólogo é importante. O ser humano só tende a ser prejudicado com a solidão, que é aquela sensação de desamparo, tristeza e abandono sem fim. Fale com sua mãe, mande um alô para seu amigo, visite sua avó ou procure ajuda psicológica – como vimos, solidão faz mal para o corpo e para a mente. Não importa o quão distantes nos tornamos, o quão superficiais nossas relações estão por causas de apps de mensagens, de compras ou de namoro – Ainda somos os mesmos bichos vulneráveis que se aconchegavam juntos contra os perigos da noite 60 mil anos atrás.
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Referências: Epigenetic programming by maternal behavior (Michael Meaney e outros, 2004), The Neuroendocrinology of Social Isolation (John Cacioppo e outros, 2015), Veja Saúde (https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/solidao-faz-mal-a-saude/).
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