Na virada do milênio, a América Latina parecia ter chegado a certa estabilidade democrática após séculos de sangue, suor e lágrimas. Contudo, a crise de legitimidade política e a corrupção do Estado na maioria do continente abriram caminho para a fragmentação das democracias liberais. O como e o porquê de tais processos, e as transformações que eles orquestraram na vida das pessoas, são analisados magistralmente no livro de Fernando Calderón e Manoel Castells. Neste retrato envolto em luz e sombras, os autores apontam que, apesar de uma melhora dos indicadores básicos de desenvolvimento humano, a região permanece a mais desigual do mundo – marcada pela urbanização descontrolada, o avanço da violência e do medo, a penetração do Estado pelo narcotráfico e a destruição do meio ambiente. No entanto, há caminhos de esperança: em meio às mudanças experimentadas, surgem novos movimentos – liderados sobretudo por jovens, mulheres, povos indígenas e afrodescendentes – que marcam as possibilidades de uma história centrada na ética da dignidade, da identidade, da ecologia, do antirracismo e do feminismo. Com 352 páginas, o livro é da Editora Zahar.
Escrito após a morte do pai de Chimamanda Ngozi Adichie em junho de 2020, durante a pandemia de Covid-19 que mantinha distante a família Adichie, “Notas Sobre o Luto” é um poderoso relato sobre a imensurável dor da perda e as lembranças e resiliência trazidas por ela. Consciente de ser uma entre milhões de pessoas sofrendo naquele momento, a autora se debruça não só sobre as dimensões familiares e culturais do luto, mas também sobre a solidão e a raiva inerentes a ele. Com uma linguagem precisa e detalhes devastadores em cada capítulo, Chimamanda junta a própria experiência com a morte de seu pai às lembranças da vida de um homem forte e honrado, sobrevivente da Guerra de Biafra, professor de longa carreira, marido leal e pai exemplar. Em poucas páginas, “Notas Sobre o Luto” é um livro imprescindível, que nos conecta com o mundo atual e investiga uma das experiências mais universais do ser humano. Com 144 páginas, o livro é da Editora Companhia das Letras.
As distâncias e os pontos de contato entre o pessoal e o coletivo, entre a narrativa individual e a histórica, ocupam o centro de “O Último Gozo do Mundo”, décimo terceiro livro de Bernardo Carvalho publicado pela Companhia das Letras. Presa de um tempo em que "a leitura do mundo tornou-se descontínua e episódica", a protagonista desta novela parte, com o filho pequeno, numa jornada para um retiro no interior profundo do Brasil. Lá, mora um homem que passa a prever o futuro depois de ter sobrevivido ao vírus ameaçador. Entre lembranças obliteradas, encontros e desencontros e vidas até então previsíveis modificadas radicalmente, um rastro de perplexidade e de perguntas sem respostas vai sendo deixado para trás, numa narrativa enigmática, eletrizante e que se torna mais e mais perturbadora. Podemos distinguir as causas dos efeitos? Como damos sentido a uma narrativa? O que restou de humanidade num Brasil dominado pela morte? Podemos ter um projeto comum de futuro sem um relato coerente do passado? O livro tem 144 páginas.
Em um quarto de hotel em Veneza, onde acabou de concluir um assassinato de rotina, Villanelle recebe um telefonema tarde da noite. Eve Polastri, a funcionária do governo inglês que está em seu encalço há meses, conseguiu rastrear um oficial do MI5 a serviço dos Doze e está prestes a levá-lo a interrogatório. Enquanto Eve se prepara para procurar respostas, tentando desesperadamente encaixar as peças de um terrível quebra-cabeça, Villanelle avança para o abate. O duelo entre as duas mulheres se intensifica, assim como sua obsessão mútua, com a ação passando dos altos picos do Tirol até o coração da Rússia. Eve enfim começa a desvendar o enigma da identidade de sua adversária, e Villanelle se pega correndo riscos cada vez maiores para se aproximar da mulher que pode ser sua ruína. Um thriller cheio de descrições chocantes e também sensuais, “Não Existe Amanhã” é brilhante ao narrar a mente psicótica de uma assassina e a caçada apaixonada de sua “nêmesis”, aproximando duas rivais a ponto de não saberem mais se estão uma contra a outra... ou mais unidas do que nunca. De Luke Jennings, o livro tem 240 páginas e é da Editora Suma.