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08/11/2023 às 18h12min - Atualizada em 08/11/2023 às 18h15min

Cirurgia bariátrica e o falso milagre

Ludmila Pereira
  
Quem me acompanha por aqui ao longo desse mais de um ano que escrevo, sabe que constantemente falo da dificuldade de se tratar a obesidade e do fato de não existir cura pra essa doença, mas apenas um eterno tratamento que exige constante vigilância.
 
Inúmeras são as formas de se tratar a obesidade e eu as cito sempre, mas hoje eu gostaria de falar de uma que ainda é, erroneamente, tratada por muitos como “cura” para o excesso de peso. No entanto, venho mais uma vez dizer que não. E isso não é uma mera fala minha como profissional, mas também de quem vive na pele a angústia de passar pelo reganho.

Há algumas semanas, o apresentador André Marques usou suas redes sociais para desabafar sobre o seu ganho de peso pós bariátrica. 

Relembrando um pouco de sua história, em 2013 ele chegou ao auge de seus 162 quilos, obviamente sendo considerado como obeso mórbido, além de uma série de doenças associadas. E foi quando decidiu pela bariátrica como tratamento contra o seu excesso de peso. 

Hoje, depois 10 anos de procedimento, André conta que após estrear seu programa de culinária ganhou 7 quilos bem rapidamente. 

O que aconteceu com o apresentador não é raro de se ver. Muito pelo contrário. Na verdade, acho até que ele demorou bastante a sofrer com esse reganho, pois muitos pacientes tornam a recuperar o peso perdido por volta dos 2 anos após a cirurgia. 

Esse dado inclusive é parte da conclusão de um estudo realizado recentemente pela Universidade de São Paulo (USP), que identificou que aproximadamente 92% dos pacientes bariátricos começam a reganhar peso. Ou seja, readquirem pelo menos 20% do peso perdido após esse período de 24 meses.

A pesquisa mostrou que coincidentemente esses pacientes tornam a ganhar peso quando deixam de frequentar as consultas com psicólogo. 

Outro apontamento importante dessa pesquisa é que em torno de 22% dos voluntários tinham algum grau de compulsão alimentar, seja grave ou leve. O que de fato figura como o transtorno mais associado ao reganho.

Segundo a Abeso – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica – aproximadamente 60% dos obesos sofrem algum distúrbio psiquiátrico. Além da compulsão alimentar, a depressão também é muito presente entre esse público.

Percebe, caro leitor, como o emagrecimento vai muito além da mudança física e da perda peso? A saúde mental é pilar importante nesse processo, mas infelizmente ignorada por pelas pessoas. 
O desconhecimento faz com que muitos encarem a cirurgia como um milagre e uma cura que não existe. E a grande maioria esquece que esse processo é árduo e que dura a vida inteira de tratamento. 

A cirurgia bariátrica veio para revolucionar o tratamento contra o excesso de peso e para salvar as pessoas da obesidade, mas é sempre bom lembrar que o milagre não existe: é reeducação alimentar, exercício físico regularmente, estilo de vida saudável e mente sã. E aí sim, temos o verdadeiro sucesso na luta contra a obesidade.
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* Ludmila Pereira de Araujo Souza é Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica com ênfase nas enfermidades renais
Instagram: @ludmilapasouza.nutri • Email: [email protected]
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