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18/10/2023 às 08h10min - Atualizada em 18/10/2023 às 08h10min

Alimentação da criança

Ludmila Pereira de Araujo Souza

 
No último dia 12, comemoramos o Dia das Crianças e por isso, considero bastante oportuno falar justamente dos seus hábitos alimentares. E apesar de eu não atender esse público, acho fascinante debater a alimentação infantil, pois é exatamente quando o conceito de saúde começa na vida do ser humano.

Na verdade, refaço a minha fala. A construção do hábito alimentar começa bem antes do nascimento e acontece ainda durante o crescimento e desenvolvimento do embrião no útero materno.

Já se sabe que o bebê pode sentir alguns gostos, principalmente os mais adocicados, por meio do líquido amniótico – fluído que o envolve durante a gestação. Então, dessa forma, as preferências alimentares da mãe tendem a ser também as do bebê.

Quando essa criança nasce, a orientação padrão ouro é que ela seja alimentada de leite materno. Este que, não é segredo pra ninguém, é considerado nutricionalmente completo e o alimento perfeito a ser oferecido.

Mas assim como os hábitos alimentares da mãe interferem na preferência do bebê desde a gestação, o mesmo acontece com o leite materno, já que o consumo alimentar da mãe também altera o seu sabor. Portanto, o leque de gostos a que o bebê está sendo exposto é de inteira responsabilidade da mãe desde a gestação até o aleitamento materno exclusivo que dura em média 6 meses, se cumprido orientação da OMS – Organização Mundial de Saúde –, do Ministério da Saúde e da SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria.

Após o aleitamento materno exclusivo, inicia-se a introdução alimentar. A partir daí, costumo dizer que a tarefa de construir de hábitos alimentares saudáveis na vida dessa criança é da família. Assim como a personalidade e o caráter, os gostos, preferências e a relação com a comida são todas construídas durante o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo. A disponibilidade e o acesso ao alimento em casa, as práticas alimentares e o preparo do alimento influenciam diretamente no consumo alimentar da criança.

Do ponto de vista psicológico, socioeconômico e cultural, o indivíduo é diretamente influenciado pelo ambiente em que vive. E isso, obviamente, interfere diretamente na sua alimentação. Ou seja, o grande responsável pela criança comer ou não são os pais e/ou cuidadores. E o período mais importante para construção da base desses hábitos alimentares se dá nos primeiros mil dias de vida do indivíduo, que compreende desde o momento de sua concepção até os 2 anos de idade.

No início desse texto, eu falei que não atendia crianças na minha rotina de consultório, mas há muitos anos, quando eu ainda atendia em UBS – Unidade Básica de Saúde –, eu recebia todos os públicos e logicamente, isso inclui o infantil.

E era muitíssimo comum de ouvir mães lamentando que o filho não comia ou só comia “bobagens”. E logo eu as questionava a respeito de quem comprava o alimento, quem oferecia e logicamente, como eram os hábitos alimentares da família. E a resposta era sempre a mesma e mais óbvia: os próprios pais compravam ou permitiam que comprasse e a alimentação da família era semelhante à da criança (e vice-versa). Ou seja, como querer que uma criança coma frutas, se ela só acha disponível (e em grande quantidade) biscoito recheado? Como cobrar que essa criança coma verduras e legumes, se ela não vê a família comendo? Como insistir pra que essa criança beba água, se os familiares passam o dia tomando suco artificial e refrigerante?

Conforme orientação dos principais órgãos de saúde já citados por mim anteriormente, o açúcar, por exemplo, só deve ser inserido na rotina alimentar da criança a partir dos 2 anos de idade e esporadicamente.

Você conhece, caro leitor, alguma família próxima da sua que siga essa orientação?

E nem vou falar do consumo de ultraprocessados, conhecidamente tão prejudiciais, e que também estão sendo inseridos cada vez mais cedo, muitas vezes ainda no início da introdução alimentar.

É triste falar, mas o desfecho de toda essa “catástrofe alimentar” da criança já começa a ser visto e cada dia mais cedo na vida de muitas famílias: é sobrepeso e obesidade infantil, são os índices de colesterol e glicose já altos desde a infância, além de crianças extremamente seletivas.
 
Quer que seu filho tenha uma alimentação saudável? Comece você a se alimentar melhor.

A palavra até convence, mas é o exemplo quem arrasta.

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* Ludmila Pereira de Araujo Souza é Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica com ênfase nas enfermidades renais
Instagram: @ludmilapasouza.nutri • Email: [email protected]

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