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29/09/2023 às 22h50min - Atualizada em 29/09/2023 às 23h00min

Desastres de Cassandra

Mario Eugênio
 
Nestes últimos anos, estamos testemunhando desastres naturais sem precedentes em diversas partes do mundo e em regiões inesperadas. No estado de São Paulo, em fevereiro, as mais fortes chuvas já registradas no litoral norte causaram inundações e deslizamentos de terra em áreas costeiras. Morreram 48 pessoas, muitas desaparecidas e foram 1.158 pessoas que perderam suas casas.

Neste mês de setembro, um ciclone extratropical atingiu os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, causando inundações, deslizamentos de terra e ventos fortes. O ciclone deixou pelo menos 47 mortos, 46 desaparecidos, cerca de mil feridos e mais de 25 mil pessoas desabrigadas.

Esses desastres não são fenômenos isolados, basta uma consulta rápida para ver que desde outubro de 2021 foram registrados 11 eventos causados por temporais no país, não incluídos os desse ano. Cerca de 500 pessoas haviam morrido em enchentes ou deslizamentos de terra e pedra. Os números são do Cemaden, Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais. Nesse período, o Brasil registrou os maiores volumes de chuva da história em 24 horas.

As tempestades no Brasil ficaram muito mais fortes e frequentes nos últimos dois anos, e estão aumentando por causa das mudanças climáticas, segundo o Cemaden. E aumentando a vulnerabilidade e exposição das pessoas. Hoje, no Brasil, há 40 mil áreas de risco, onde mais de 10 milhões de brasileiros vivem.

O Cemaden foi criado em 2011, após a tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro, em janeiro daquele ano e é considerada a maior catástrofe climática do Brasil, que matou 918 pessoas, deixou 30 mil desalojados e 99 desaparecidos. O Cemaden está localizado em São José dos Campos, São Paulo, e gerencia radares meteorológicos, pluviômetros e previsões climáticas para prevenir eventos climáticos.

Os desastres naturais estão piorando pelo mundo todo. Mas, o mais surpreendente é que foram previstos há décadas pelos cientistas, e são poucos os que acreditam de verdade, já que não fazem nada. É a Síndrome de Cassandra, a personagem da Ilíada de Homero, troiana, filha do rei Príamo, irmã de Páris, que seduziu Helena e matou Aquiles com uma flecha no tendão. Cassandra tinha o dom da profecia mas ninguém acreditava nela. Os descrentes foram punidos com morte terrível.

Apesar das evidências, as autoridades políticas ainda não fizeram nada. Ao contrário, mostram descaso. No orçamento federal, os valores destinados para prevenção de desastres naturais vem caindo, R$ 5 bilhões em 2014, R$ 2,8 bi nos dois anos seguintes, R$ 1,3 bi nos últimos dois e R$ 1,2 bi para este ano. Orçamentos baixos e nunca são totalmente gastos, nos últimos 13 anos, dos R$ 64 bilhões nos orçamentos, apenas R$ 40 bilhões foram investidos.

Para prefeitos, governadores, presidente, vereadores, deputados e senadores, um recado do Padre Zezinho: a decisão é tua, se ouvires a voz de Deus. Se ouvires a voz do mundo querendo te enganar, o trigo já se perdeu, cresceu, ninguém colheu, e o mundo passando fome, de paz, de pão e de Deus.
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Mario Eugenio Saturno
(fb.com/Mario.Eugenio.Saturno) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano
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