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18/07/2023 às 18h35min - Atualizada em 18/07/2023 às 18h35min

Fome dói, fome mata.

Ludmila Pereira
 
Em 2019, quando eu ainda era professora universitária e ministrava a disciplina de “Segurança Alimentar” para o curso de Nutrição, tratávamos sobre os números relacionados à fome e as políticas públicas para combatê-la. Eram muitos os debates sobre o assunto, bastante resgate histórico dentro dessa temática.

Lembro bem que, naquela época, o dado que tínhamos sobre a fome extrema no nosso país era de menos de 2% da população. Ou seja, jamais menosprezando a necessidade de ninguém, mas era um dado considerado relativamente pequeno. 

Porém, há alguns dias, li com tristeza o relatório que a ONU – Organização das Nações Unidas – divulgou sobre o estado de segurança alimentar e nutricional no mundo, afirmando que o número de pessoas afetadas pela fome subiu para 828 milhões em 2021, havendo um aumento de cerca de 150 milhões desde o início da pandemia da Covid-19. 

Fazendo o levantamento para o Brasil, o documento mostra que a prevalência de insegurança alimentar grave aumentou de 3,9 milhões (1,9% da população do país) entre 2014 e 2016 para 15,4 milhões entre 2019 e 2021, que representa 7,4% de brasileiros. Ou seja, esse número mais que triplicou. 

O mundo enfrentou uma pandemia nesse período, o que, sem dúvida alguma, fez com que o aumento desses números disparasse. 

Não foi incomum nesse tempo, vermos muitas pessoas perdendo seus empregos, tendo a renda de sustento de sua família caindo drasticamente, precisando recorrer inclusive ao auxílio emergencial oferecido pelo governo federal à época.

Mundialmente, podemos falar que “a vida voltou ao normal”, mas ainda é possível ver os estragos deixados por essa grave crise sanitária e que ainda devem perdurar sob diversos aspectos, já que o próprio relatório nos fornece evidências de que o mundo está se afastando ainda mais de sua meta de acabar com a fome, insegurança alimentar e má nutrição em todas as suas formas até 2030.

Estima-se que cerca de 670 milhões de pessoas – em torno de 8% da população mundial – ainda enfrentarão fome em 2030, mesmo que uma recuperação econômica global seja levada em consideração nesse período.

O mais angustiante é pensar que os fatos e as perspectivas ruins não param por aqui. 

Nesse intervalo de tempo, ainda tivemos a guerra na Ucrânia, que envolveu os dois dos maiores produtores globais de cereais básicos, oleaginosas e fertilizantes. Ou seja, foi afetada negativamente uma cadeia de suprimentos, elevando preços, dificultando a economia e consequentemente, impactando na chegada do alimento que chega à mesa da população.

E assim, diversos são os fatores que ainda podem afetar todo esse quadro caótico pelo qual o mundo passa: clima, ambiente, política, conflitos, economia, entre tantos outros possíveis.

Hoje, não se trata mais se as adversidades continuarão ou não. Infelizmente, a tendência é que elas sigam acontecendo. 

O que importa de verdade é a forma como tudo isso está sendo conduzido: quais políticas públicas estão sendo adotadas para combater a fome? Que apoio pode ser dado ao setor alimentício e agrícola a fim de otimizar o preço do alimento? Que ações podem ser tomadas para alavancar a economia dos países? 

Fome dói, fome mata e medidas urgentes precisam ser tomadas.

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* Ludmila Pereira de Araujo Souza é Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica com ênfase nas enfermidades renais
Instagram: @ludmilapasouza.nutri • Email: [email protected]
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