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24/05/2023 às 18h09min - Atualizada em 24/05/2023 às 18h09min

“É com ou sem adoçante?”

Ludmila Pereira
Na última semana, um assunto tomou conta dos consultórios, dos noticiários de televisão, rádio e jornal, além das rodas de conversas tanto de profissionais de saúde, como do público em geral que faz uso de adoçante. É que a OMS – Organização Mundial de Saúde – publicou uma nova diretriz sobre o seu uso.
A recomendação veio por conta de uma revisão sistemática de evidências disponíveis que sugere que esse tipo de produto, em longo prazo, não traz resultado na redução de gordura corporal, tanto em adultos, como em crianças.

Os adoçantes citados são aspartame, ciclamato, sacarina, sucralose, stevia, entre outros. O xilitol e o eritriol não foram mencionados por não possuírem muitos estudos a respeito.

A diretriz afirma ainda que o uso prolongado desse tipo de aditivo pode provocar outros efeitos, como maior risco de desenvolver diabetes mellitus tipo 2, doenças cardiovasculares, além do aumento da mortalidade em adultos.

Como nutricionista, profissional de saúde, que trabalha com emagrecimento e com as doenças associadas ao excesso de peso, faço questão de pontuar algumas questões sobre o uso do adoçante.

O Brasil é um dos países que mais consome açúcar no mundo. Vivemos o ciclo da cana de açúcar, quando o açúcar representou a primeira riqueza agrícola do Brasil e durante muito tempo foi a base da economia colonial. Desse período até os dias atuais, a abundância desse ingrediente faz parte da cultura alimentar de praticamente todo o país.

Os brasileiros chegam a consumir 50% a mais de açúcar do que o recomendado pela própria OMS.

Como já falei em outros momentos e, obviamente, é de conhecimento público e notório, o excesso do consumo de açúcar está associado a uma série de doenças, como obesidade, esteatose hepática (“gordura no fígado”), diabetes mellitus, entre tantas outras.

Com base em todas essas informações, sabemos da dificuldade de se fazer retirada do açúcar do dia a dia da população. A verdade é que já temos um paladar muito moldado e “viciado” para isso.

A chegada dos adoçantes foi vista como “uma luz no fim do túnel” para muitas pessoas que querem e precisam diminuir o consumo do açúcar e buscam os benefícios oferecidos pela sua retirada. Hoje, é grande o número de indivíduos que já incorporaram essa troca no seu dia a dia.

É fato que a substituição do açúcar pelo adoçante auxilia no emagrecimento, na perda de gordura corporal e no cuidado de tantas outras doenças. Mas, veja bem, ratificando: auxilia. Ele é apenas coadjuvante nesse processo. Sozinho, de fato, ele não faz nada.

A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, a ABESO, divulgou em sua rede social algumas considerações sobre a diretriz: o documento é destinado aos governos, responsáveis pela elaboração de políticas públicas, e não faz menção para que o indivíduo pare de consumir adoçantes. Inclusive, a própria OMS reafirma a segurança dos adoçantes.
Além disso, ainda, a diretriz se baseia em estudos, na sua maioria, com nível de evidência baixo ou muito baixo. E alguns deles foram feitos em animais e outros foram observacionais.

Outro ponto importante citado pela ABESO é que muitas vezes, quem consome adoçante, opta também por produtos processados e ultraprocessados, o que, sem dúvida alguma, aumenta riscos para as doenças mencionadas e que vai totalmente contra o guia alimentar para a população brasileira que preconiza que a preferência de consumo seja por alimentos naturais.

Passado todo o sensacionalismo da notícia provocado pela imprensa e até por instituições, é importante enfatizar que a prescrição do uso do adoçante deve ser individualizada e que nenhum alimento, isoladamente, tem capacidade de emagrecer ou engordar ninguém, tampouco ser responsável pelo aparecimento de qualquer enfermidade. Analisa-se padrão de vida de cada indivíduo.

E agora... É com ou sem adoçante?

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* Ludmila Pereira de Araujo Souza é Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica com ênfase nas enfermidades renais
Instagram: @ludmilapasouza.nutri • Email: [email protected]

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