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22/07/2022 às 23h12min - Atualizada em 22/07/2022 às 23h12min

“O MAL DELE ERA MANEJAR BEM AS PALAVRAS”

Um pouquinho do padre Antônio Vieira

Elson Araújo
 
O padre Antônio Vieira foi um português (lisboeta) que chegou à Bahia aos onze anos de idade, e que pela inteligência e poder de manejar a palavra, marcou sua época. Tornou-se sacerdote pelas mãos dos Jesuítas. Viveu no Maranhão nos idos de 1652 onde se insurgiu contra a escravização dos índios, e por isso despertou o ódio dos colonos.  

Os colonos teriam se enfurecido com ele a partir do célebre “Sermão da Primeira Dominga de Quaresma” em São Luís. Ali, tentou convencer os senhores de engenho a libertarem os seus escravos indígenas. Só conseguiu o ódio dos senhores e várias denúncias contra ele ao Santo Ofício.

Dez anos depois, em 1662, o padre Vieira foi embarcado a força para a Portugal onde estava sendo processado, depois de muitas denúncias, pelo temido tribunal do Santo Ofício da Igreja Católica, mas com o poder de sua retórica/oratória/persuasão conseguiu, depois de longa batalha não só, em 1669, a revisão da sentença, como mais tarde, 1672, após ganhar a liberdade tornar-se, em Roma, pregador do papa.

Mesmo considerado gênio da pregação e da oratória, afamado diplomata a serviço da coroa portuguesa, era uma figura contraditória uma vez que ao passo que se posicionava contra a escravização dos índios, não se posicionava de igual modo e com o mesmo empenho em relação aos negros.  Já pela sua ardente defesa dos povos indígenas chegou a ser chamado por eles de Paiaçu (Grane Padre, na língua tupi)

A história narra que foi do padre Vieira, já de volta à Bahia, nos idos de 1691, quando contava com mais de 80 anos, e tinha um cargo importante na colônia, era o visitador-geral das missões no Brasil, o terrível parecer que pregou a destruição do Quilombo dos Palmares.

Para o religioso, “esta mesma liberdade assim considerada seria a total destruição do Brasil, porque conhecendo os demais negros que por este meio tinham conseguido o ficar livre, cada vila, cada lugar, cada engenho, seriam logo outros palmares”  

Apontamentos históricos revelam que o padre Vieira não queria os índios escravizados, mas entrou para a história como o enunciador da dinâmica escravista colonial, embora haja relatos que em outros momentos chegou a defender a abolição.

Vaidoso, teve o cuidado de imortalizar seus célebres sermões pregados na Bahia, no Maranhão, em Lisboa e Roma. Vieira, em um de seus sermões chegou até a “polemizar com Deus” a favor da causa portuguesa contra os invasores holandeses, que ameaçavam, pela segunda vez, a cidade de Salvador.

Na semana passada caiu nas minhas mãos um livro de bolso da coleção L&PM Pocket, de janeiro de 2006, com três dos cerca de 200 sermões do polêmico religioso que conseguiram sobreviver ao tempo. O Sermão da sexagésima (1655), uma espécie de manual para pregadores, ainda muito atual, o Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, (1640) onde ele chega contender com Deus, e o Sermão do Bom Ladrão. (1655)

Um livro que mostra um pouco da força construtora e destruidora do poder da palavra, ainda mais quando manejada por quem sabia usá-la, como o padre Antônio Vieira. Certamente capacidade adquirida não só pela sua genialidade, que demonstrava, conforme os historiadores, ainda na adolescência, mas pelas horas de leituras dos clássicos durante a formação sacerdotal.  A obra foi organizada por Homero Vizeu Araújo.

Mesmo tendo carregado para o túmulo uma certa conivência em relação à escravidão do povo negro no Brasil, e o pecado mortal de ter referendado o massacre de Palmares, não deixa de ser uma aventura histórica mergulhar na leitura e estudos dos eloquentes e virulentos sermões de Vieira, o homem que chegou a polemizar até com Deus.

O padre Vieira faleceu aos 18 de julho de 1697, aos 89 anos em Salvador, Bahia.

Filosofo, e orador, homem forte da então poderosa “Companhia de Jesus, o   padre Vieira entrou para a história, não como escritor, mas como célebre orador, um dos mais influentes personagens do século XVII na política e na arte da oratória. Seus sermões e cartas até hoje são objetos de estudo e leitura obrigatória em algumas faculdades do Brasil e da Europa.
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