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21/07/2022 às 22h53min - Atualizada em 21/07/2022 às 22h53min

Bebê indígena de 1 ano morre após quase 2 horas esperando por transporte até hospital

Ela morava na aldeia Macaúba, localizada na parte tocantinense da Ilha do Bananal

Da Assessoria
Utai Kureheru Iny, de um ano, sofria de pneumonia - Foto: Arquivo Pessoal
 
A pequena Utai Kureheru Iny, de apenas 1 ano, estava com pneumonia e não resistiu às complicações da doença em razão da demora para ser transferida do posto de saúde da aldeia Macaúba (TO), na Ilha do Bananal, até o hospital mais próximo, em Santa Teresinha, no Mato Grosso, estado que faz divisa com o Tocantins. O caso aconteceu na última segunda-feira (18/7).

A criança esperou por quase duas horas pelo transporte, que é de responsabilidade do Distrito Indígena do Araguaia (DSEI - Araguaia). O transporte poderia ter sido feito em menos de 10 minutos

A menina chegou na unidade de saúde em estado grave e foi encaminhada para o Hospital de Confresa (MT), onde sofreu um ataque cardíaco causado pela grave pneumonia e não resistiu.

O tio da menina, Josué Wakari, que é presidente da Associação Indígena da Aldeia Macaúba, fez a denúncia do descaso ao Instituto Indígena do Tocantins (INDTINS) e contou detalhes sobre todo o caso.

“Atrasou lá no posto da balsa, o carro demorou, ligamos no plantonista que não atendeu no telefone, a menina esperou lá no sol quente… Nós precisamos só da demissão do motorista, Luiz Antônio, eu quero só isso”, desabafou o tio. Para que a criança não ficasse só aguardando, o cacique da aldeia Renato Karajá a levou até o hospital.

Ainda segundo o cacique, os familiares foram até a casa do motorista, mas encontraram apenas o carro oficial parado. O DSEI comunicou aos familiares da criança que o motorista será demitido, por não estar em seu posto de trabalho.

PROBLEMA RECORRENTE
De acordo com o INDTINS, essa não é a primeira vez que o povo Karajá (autodenominado Iny) enfrenta problemas com o serviço de saúde pública. Em maio, o órgão denunciou que todos os motoristas do DSEI haviam sido demitidos e que três aldeias sofriam com a falta de transporte.

Na época, Aguinaldo Teiakurei Karajá sofreu com fortes dores por 15 dias e não recebeu atendimento médico pela falta de transporte e de posto de saúde em sua aldeia, São João.

A maior parte das aldeias na parte tocantinense da Ilha do Bananal não conta com postos de saúde e os técnicos de saúde não fazem visitas às aldeias distantes dos centros urbanos, segundo o cacique da aldeia São João, Diego Marauwá.

OUTRAS DENÚNCIAS
No final de 2021, o ativista indígena Juanahu Karajá que integrava o Conselho de Saúde Indígena e trabalhava como agente de saúde Indígena foi demitido após questionar sobre o uso indevido do combustível por parte do DSEI.

Além dele, outros líderes indígenas sofreram ameaças por membros da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), e membros indígenas da saúde foram demitidos sem razão, como é o caso Rabuwenona Karajá dispensado no início do ano após sua esposa e líder indígena cobrar melhorias à saúde prestada ao Povo Iny.

POSIÇÃO DO INDTINS
Em nota, o INDTINS afirmou que repudia a ingerência na saúde indígena prestada pelo Distrito de Saúde Indígena do Araguaia, que é de responsabilidade da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI).

“O acesso à vida e à saúde estão assegurados na Constituição Federal e a falta de estrutura e eficiência no atendimento à saúde prestado ao Povo Iny tiraram a vida de um bebê de um ano”, afirmou o órgão.

“Utai Kureheru Iny morreu vítima de um ataque cardíaco após esperar por quase duas horas por um transporte que poderia ter sido feito em menos de 10 minutos. São responsáveis por essa morte e por toda a dor que ela causa a família a ao Povo Karajá não apenas o motorista Luiz Antonio Strutz, que negligenciou seu trabalho, mas todo o DSEI Araguaia que vem fechando os olhos para seu dever com os Povos Indígenas da Ilha do Bananal”, declarou o instituto.

“Mais do que negligenciar, a coordenação indígena do DSEI Araguaia persegue lideranças indígenas que cobram melhoria ameaçando demitir e de fato demitindo parentes e pessoas próximas às lideranças que trabalham na saúde indígena. Repudiamos a perseguição, a ingerência e exigimos que o trabalho do DSEI seja investigado pelo Ministério Público Federal”, ressaltou o órgão.

“A morte de Utai Kureheru Iny não pode ser esquecida nem condenada ao silêncio, ela faz parte de um projeto de genocídio da população indígena iniciado com a colonização e ainda em curso. Temos direito à autonomia, dignidade e vida e exigimos que o Estado brasileiro aja para garantir os nossos direitos”, finalizou na nota.

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