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18/07/2022 às 22h07min - Atualizada em 18/07/2022 às 22h07min

“‘O CÉU É REAL — UM TESTEMUNHO DE ESPERANÇA PARA UM MUNDO EM COLAPSO”

Antônio Neres Oliveira: estreia com letras fortes

Edmilson Sanches
Foto: Divulgação
 
Um dos mais corajosos livros autobiográficos de Imperatriz deverá ser lançado este ano, em dia ainda a ser marcado, de setembro a novembro de 2022. Seu autor — e personagem principal – é o professor Antonio Neres Oliveira, da Universidade Federal do Maranhão, campus Imperatriz, pós-graduado em Matemática, mestre em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido e doutor em Informática na Educação.

Como observa Edmilson Sanches no prefácio que escreveu a convite do Autor, “‘O Céu é Real — Um Testemunho de Esperança Para um Mundo em Colapso’ é este título poderoso de um livro corajoso. É um livro pessoal, escrito como quem conta, e expõe atos e fatos, coisas e loisas, divinas e mundanas, sagradas e profanas, sacras e sacanas.” Sanches reconhece: “O Autor não contemporiza, não amacia, não esconde, não usa de eufemismos. A história é a sua, nua, crua, contada por ele, que a viveu, e as palavras às vezes são escritas com sangue na pele, gravadas com ferrete em brasa na alma.”

Eis a íntegra do prefácio de Edmilson Sanches:

*

PREFÁCIO

“Aqui me tens, meu Deus, em confissão.
Não roubei. Não matei. Não caluniei.
Mas nem sempre segui a Tua Lei
[...]”

Esses versos d’além-mar são uma das primeiras evocações trazidas pela leitura e releitura deste livro. “Perdão” é um dos quase quarenta que formam o livro Trinta e Nove Poemas, de 1942, da excepcional escritora, música e tradutora portuguesa Fernanda de Castro (1900-1994).

Ante o que trata e retrata, sugere e relata aquela primeira pessoa, singular, dos versos iniciais do poema ultramarino, consigo imaginá-la como sendo Antonio Neres Oliveira em seu confiteor, contrito, iluminado, após desamarrar e despedaçar todos os cordames e cordas que o elavam a vilezas do mundo laico, secular, para depois, assim desatado, deixar-se (en)levar por aros e elos que o elevam às levezas do universo espiritual, estelar, celestial.

O Céu é Real — Um Testemunho de Esperança Para um Mundo em Colapso é este título poderoso de um livro corajoso. É um livro pessoal, escrito como quem conta, e expõe atos e fatos, coisas e loisas, divinas e mundanas, sagradas e profanas, sacras e sacanas.

Sim. O Autor não contemporiza, não amacia, não esconde, não usa de eufemismos. A história é a sua, nua, crua, contada por ele, que a viveu, e as palavras às vezes são escritas com sangue na pele, gravadas com ferrete em brasa na alma.

Existem por aí, é verdade, muitos livros biográficos e autobiográficos, estes, em vezes muitas, com elevada dosagem, com substanciosa sobrecarga de palavras e fatos para valorizar onde valor não havia e dourar o que incolor se via.

Mas não neste livro inaugural de Antonio Neres Oliveira. Nada aqui parece nem aparece para “causar”, “lacrar”. Como maior autoridade em sua própria vida, Antonio Neres apenas relatou. Começou do começo, que começa mesmo bem antes de ele começar, isto é, de ele nascer. O livro traz a história do pai, guerreiro, da mãe, duas vezes guerreira. Uma história onde muita pobreza só encontra rima rica em muita decência. Aquela dignidade serena, aquela serenidade digna, próprias das famílias de antanho, para as quais feio, feio mesmo, é roubar.

De onde vem uma ética assim, uma moral assim senão de uma credulidade que não admite entrega à malignidade, um credo quia absurdum, que, por ser fé, dispensa toda lógica, qualquer explicação?

O Céu é Real, além da(s) história(s) dos pais de Antonio Neres Oliveira, traz copiosos relatos/testemunhos sobre um dos irmãos, falecido, e desvela aventuras e desventuras do Autor, detalha suas vulnerabilidades e pecados e conta seus encontros e desencontros com o Divino. Chega a descrever os Céus.

Antonio Neres traz para bem perto sua infância, exuberante de momentos que só se tem em uma infância rica de menino pobre. Os trabalhos penosos nas olarias... A venda de peixes... A comida menor que a fome... Mas também as brincadeiras, as pipas, a busca das últimas mangas nos últimos galhos (mangas a que, na minha infância, chamávamos de “pele de ovo”, no caso, o amarelo da gema, cor assemelhada à daquelas frutas douradas de sol, no alto das mais altas galhas). E o capitão, aquele bocado de comida prensada pela mão da mãe? (No caso de Dona Amélia, mãe do Antonio Neres, ela sempre ficava com o menor e às vezes nem este, repassado aos filhos pequenos que ainda não haviam matado a fome. Coisa de mãe. Responsabilidade. Zelo. Renúncia.)

A infância do Autor é muito da infância de muitos de seus leitores. Por exemplo, ler à luz da lamparina, lamparina de murrão, até ouvir o alerta da mãe, hora de apagar, para não estragar as vistas e a mente, pois, além de ficar cego, quem estuda demais fica doido... E as presepadas no rio, nos banhos? Engolir peixes vivos para ser bom nadador, hoje, quem há de? (Na minha infância havia também os que engoliam minhocas leitosas e avermelhadas, vivinhas da silva, para serem bons pescadores...). E as corridas por mexer em casa de marimbondos? Antonio Neres dá uma amostra de seu bom humor, escrevendo como se rindo de si mesmo — virtude de quem se conhece.

Contando essas e outras coisas, o Autor parece o compadre cheio de prosa, sentado ali ao lado, na calçada de cimento cru, sob céu limpo, noite enluarada...

Impressiona e emociona o relato que Antonio Neres faz quando descreve como aprendeu a ler e a escrever “brechando” pelas frestas de uma porta as aulas dadas a outros meninos por professora particular — que o descobriu e, tocada pela força de querer aprender do garoto, passou a lhe dar aulas também, sem qualquer custo. (Machado de Assis, o escritor, foi um menino mulato e pobre, não frequentou universidade nem colégios regulares, vendia em escolas bombons e doces feitos por sua madrasta e aproveitava para assistir — na verdade, espreitar — as aulas pela janela).

Que pulsão é essa que move uma criança pobre ao encontro com seu futuro pelas vias do saber vindo através de frestas de portas e janelas? Ontem, Antonio Neres uma criança pescando conhecimentos; hoje, um homem professor, com a mais alta titulação acadêmica, ensinando gerações... É destes e é com estes que se faz melhor, humana, a Humanidade — a não opção pelo aviltamento, a anomia, o caos...

O Autor não esconde, não usa eufemismos. Penúria se escreve “penúria”. Escassez é “escassez”. Se, por tempo, assim foi a vida, assim ela deve ser contada, escrita.

Chama a atenção a franqueza com que Antonio Neres destaca suas fraquezas ante o poder de sedução do mundanismo, do Mal, do Maligno. Vez ou outra eu me pegava passando as páginas dos originais deste livro como quem abria de-va-ga-ri-nho uma folha de porta, porque me sentia como quem, atenta e ocultamente, espiona a vida alheia, mesmo esta sendo dada a público.

“Espanto-me de ver que os homens tenham coragem de fazer confidências a outros homens”. Não era só Shakespeare (1564-1616) que se surpreendia com a revelação de segredos entre pessoas, como escreveu em 1606, dez anos antes de morrer, em sua peça Tímon de Atenas... Contar confissões deve mesmo ser libertador, pois, como escreveu em suas Fábulas o francês La Fontaine (1621-1693): “Nada pesa como um segredo”...

Em suas dições, bendições e predições, a Bíblia, em diversas passagens, alerta sobre o ser humano e seus segredos. Em Salmos 44:21, antecipa que, seja se esquecermos do nome de Deus, seja se estendermos as mãos para outro deus, Deus saberá, pois Ele “esquadrinhará isso”, “pois Ele sabe os segredos do coração”. O livro seguinte, Provérbios (11:13), sem floreios “proverbiais”, adverte que “o mexeriqueiro revela o segredo, mas o fiel de espírito o mantém em oculto”. Isto é (re)confirmado catorze capítulos à frente, onde é recomendado: “[...] não reveles o segredo a outrem” (Provérbios 25:9).

Mas confidências ou confissões não se confundem com mexericos e meras contações de estórias. Há aquilo que entala e engasga no indouto, no incrédulo, aquilo que se revela: “E, portanto, os segredos do seu coração ficam manifestos, e assim, lançando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós” (1 Coríntios 14:25).

Antonio Neres Oliveira, na época, e na adjetivação coríntia, foi aquele “incrédulo” e “indouto” que, já pleno do Espírito Santo, chegou à Igreja e a chamou, para, como Moisés, falar do que antes não se falara, fazer o que antes não se fizera —  pois se tratava dele, Antonio, o convertido, o que experienciou muito o que muitos experimentaram pouco.

*

Dois religiosos amigos andavam por ermo lugar. Mais adiante, depararam-se com um rio raso e largo e, à sua margem, uma mulher em longo vestido. Ela pergunta se um dos dois poderia levá-la sentada no ombro até a outra margem. Um se prontificou e os três atravessaram. A mulher agradeceu e tomou outro rumo, enquanto os dois religiosos prosseguiam sua viagem. Quilômetros depois, o religioso que não transportara a mulher falou, recriminando: “— Meu irmão, você não sabe que nós não podemos tocar em mulher?” O outro respondeu: “— Meu irmão, o peso que eu tinha eu deixei na outra margem do rio; não sabia que você o estava trazendo até aqui...”

Antonio Neres sabe e sente que seus ombros e sua alma estão leves. Não mais carrega pesos. Crê na vida eterna. Crê na remissão das faltas — pois, como desde o século 11 considera Petrus Alphonsi: “É razoável absolver de sua pena quem confessa o próprio pecado”.

Que a conversão de Antonio Neres Oliveira transcenda as páginas deste seu livro e estimule e inspire outras mentes e espíritos.

*

Repita-se: este é um livro de coragem. E de Fé. Nada dirá aos que carregam peso nos ombros, mas calará fundo nos que trazem peso na alma...

Este livro contém verdades — humanas e divinas.

O Autor é real.
A história é real.
O Mal é real.
A cura é real.
O céu é real.
Porque Deus é real.

EDMILSON SANCHES
[email protected]
Da Academia Imperatrizense de Letras
Do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Da Academia Maranhense de Ciências
Da União Brasileira de Escritores (MA)
Da Sociedade de Cultura Latina do Brasil (MA)

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