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19/04/2024 às 18h11min - Atualizada em 19/04/2024 às 18h11min

Caminhos por onde andei

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

A menina da garupa do burrico

Aquele pequeno sitiante (lavrador) que morava a uma légua distante da Província, de quando em vez chapéu na cabeça, facão à cintura, ia à cidade, montado em seu burrico, para  vender sua pouca riqueza. Era mel de abelha, azeite de coco, ovos, frangos,  farinha, frutas. Essas coisas.  Nessa  lida acabou por bater na casa de uma família  cujo Barão, juntava dinheiro no rodo. Todos viam e diziam. A Baronesa, mulher do Barão era uma mulher despojada, um tipo pé no chão que falava bobagens escrachadas e imorais e o Barão endinheirado, seu marido achava era graça!  E a baronesa de meia tigela e endinheirada, comprava daquele homem tudo o quanto lhe apetecia. Quase esvaziava o seu jacá. Dinheiro não era “pobrema”.

Numa certa ocasião, o camponês levou à Província, a sua pequena filha, montada à garupa do seu burrico. Era uma menina ”feiosinha”, “simplesinha”, acanhadinha. Tolinha.  Foi quando o Barão que não tinha filho com sua mulher, logo engraçou-se daquela menina montada à garupa do burrico: Então, jogou fácil. “Me dá essa menina. Vou educar ela, botar pra estudar, vou formar. Ela vai ser uma doutora”,  disse o Barão.

O camponês, até que se entregou mas... nem tanto:  “Vou falar com a mãe dela. Se ela concordar, na próxima viagem eu lhe trago a menina”. “Sim senhor”, disse o Barão. E lá se foi a menina montada à garupa do burrico, na companhia do seu pai.

E então aquela mansão nunca mais foi a mesma: Ficaram ansiosos à espera da menina. E até parece que os dias demoravam a passar mas... como tudo na vida é sempre “um dia atrás do outro”, eis que passados uma vinte e tantos dias, a menina, enfim, chega ao palacete de mala e cuia, montada à garupa do burrico. Com a ajuda do pai, apeia e logo vai tomar a bênção aos donos da casa. Barão e Baronesa gostaram daquele gesto que indicava bons costumes e uma boa criação. Então o camponês lhes disse: “Taí a menina, cuidem dela como se fosse sua filha”*. Dito e feito!

E logo colocaram à disposição da menina um quarto com toda a guarnição, cama, guarda-roupa, vestidinhos, lençóis, cobertor, tapetes Anexo ao quarto, um banheiro com toalha sabonete, espelho, lavandas e tudo o mais. E bem aí nasce e desenvolve-se plena relação familiar, naquela  casa.

A menina concluiu o primário, depois o secundário e então foi enviada para a capital do Velho Goiás para estudar um Curso Superior. Dinheiro tinha no rodo. Formou-se. Formou-se e voltou à Província para junto da sua “família”, cujo Barão seu “pai” era um homem de largo prestígio onde quer que pusesse os pés. E então um dos imóveis do Barão, na melhor localização da Província, foi estabelecido um escritório Profissional àquela jovem que continuava “simplesinha”, “feisoinha” e assim... um tanto tolinha.

Da capital já trouxe consigo um jovem bonitão, namorador, seu marido e gigolô, este que amava a quantas lhe apetecia, menos aquela doutora que foi encontrada na garupa do burrico do camponês, seu pai. Gigolô, bonitão, dava um nó aqui; uma pernada acolá e a doutora apaixonada pelo seu gostosão. O Barão e a Baronesa não aprovavam aquele casamento” mas... se era vontade da “filha”, fazer o quê, não é? O mundo continuava na giratória.

Foi nessa ciranda que sem mais demora, a outrora mocinha do burrico, tornou-se uma AUTORIDADE DE PESO, servindo na terra-berço que a viu crescer.

Deixa, porém, que na Província estourou uma BRIGA DE CACHORROS GRANDES. Coisa pesada, envolvendo até o Governador que tomou o partido de um deles:  Um cachorrão endinheirado e político de faz de conta.

A confusão foi parar na mesa daquela AUTORIDADE que continuava “humildezinha”, ”simplesinha”, qual nos tempos do burrico. Ela que, pelo visto, não deu conta  do borogodó e logo foi afastada (?) Ou promovida(?) em suas funções. O certo é que ela desapareceu de cena. E foi para bem longe da Província, onde se enrolava a briga de Cachorros Grandes A essa altura ou... sem mais demora, o Barão dentro ode um baita paletó de madeira foi morar no infinito e a Baronesa que sempre fora reduzida a uma dona de casa e nunca tivera prestigio social, também não se meteu no quiprocó.

Como se vê, o Barão é falecido, a Baronesa não mora mais na Província e a mansão está reduzida a escombros.  E...  a outrora mocinha do burrico, que virou AUTORIDADE, dela também não mais se tem notícia. E o Bonitão das Tapiocas que “zanzava” com uma e com outra, também escafedeu-se, quem abe, talvez, comendo e bebendo da grana da doutora, em mesa farta. Essa uma LENDA DA VIDA REAL. Acredite!
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