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09/03/2024 às 00h00min - Atualizada em 09/03/2024 às 00h00min

Caminhos por onde andei

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

O TROMBA DE ELEFANTE

O Bairro do João Paulo, na capital, era pródigo em absolutamente tudo. Pessoas e personagens. Mulherada e casa de mulheres: prostitutas, cafetinas, cafetões, rufiões, gigolôs. Tudo de 3ª., de 4ª., de 5ª. Porém completo! O bairro atraía simpatizantes, cachaceiros e interesseiros de todas as bandas. Bota pra Moer,  famoso em suas excentricidades, bobo da corte assumido e declarado, volta e meia andava por lá.

Naquelas tardes frias ou ainda que a céu aberto costumava aparecer O TROMBA DE ELEFANTE, ou... O ELEFANTE. Quaisquer que lhes fosse o codinome, casava-lhe bem. ELEFANTE era um sujeito alto, corpulento que  lembrava uma tromba e, seu rosto, tinha traços de um ELEFANTE. Cruzes!!!

Elefante trajava-se razoável, mormente quando pelos  arrabaldes do João Paulo. Era um pregoeiro profissional Aproveitava-se do ambiente e, a todos os pulmões gritava a sua mídia: COMPRO OURO VELHO (COMPRO OURO QUEBRADO): Compro anel, aliança, compro cordão, pulseira, brinco. Compro ouro quebrado.” Fazia pequena pausa e emendava com outra propaganda: “CONSERTO FOGÃO: Conserto panela de pressão, papeiro, conserto utilidades de alumínio. Na compra do OURO QUEBRADO  ele acendia uma vela ao patrocínio de terceiro. E, no conserto de objetos domésticos, acendia a sua própria vela, era como aquele colegial, sobrevivente do João Paulo, o interpretava.

A esse tempo, nos arrabaldes em ruas insalubres do João  Paulo, beira da Vala, um galo mariscava em companhia de sua família: uma galinha e seus pintos.

Era quando ELEFANTE dava o seu grito:  “CONSERTO FOGÃO. Conserto panela de pressão, papeiro, conserto utilidades de alumínio. U-RI- NÓOÓÓÓÓL. Era quando o galo parava de mariscar e já ficava cismado, e esconjurava com um estranho CO-CO-RI-ÓÓÓÓÓÓ...*

ELEFANTE ia embora e só uns oito ou dez dias depois ele voltava:  “COMPRO OURO VELHO. OURO QUEBRADO: Compro anel, aliança, compro cordão, pulseira, brinco. COMPRO OURO QUEBRADO. Compro também documento de penhor de joia perante a Caixa Federal.

Naquela época havia uma prática maldita em que a Caixa FEDERAL, mediante contrato de PENHOR, emprestava a preço vil algum dinheiro a pessoas “argoladas”. Em garantia, acautelava objetos de ouro previamente testado: corrente, pulseira, brincos, anéis,  alianças, tudo com prévias e rigorosas datas de resgate. Era algo como cem, cento e cinquenta reais dos nossos dias. Aquela “CAUTELA” (documento do penhor) - qual uma moeda, poderia ser resgatada pelo portador. Simples, assim!

“O argolado” ou a “argolada” costumava perder as suas joias dadas em PENHOR. Elefante comprava aquela CAUTELA (documento do negócio)  e pagava o preço. Em seguia procedia ao resgate dos objetos acautelados perante a Caixa Federal. Era o seu negócio, seu meio de vida.

E quando nas tardes, no João Paulo, nas ruas insalubres ele dava o seu grito: COMPRO OURO VELHO! OURO QUEBRADO! Compro cordão, anel, pulseira, como bracelete, brinco. Anéis e alianças. Compro CAUTELA DE PENHOR, da Caixa.   Em seguida acendia a sua vela, em interesse próprio: *CONSERTO FOGÃO. Conserto papeiro, panela de pressão e outras panelas. Também conserto U-RI-NÓ-ÓÓÓÓÓLLLLLL. Aí o galo estranhava, esconjurava e emitia o seu protesto: *Co-co-ri-oóóóóóó....*

* Viegas interpreta e questiona o social
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