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17/02/2024 às 00h00min - Atualizada em 17/02/2024 às 00h00min

DA PERVERSÃO Á SANTIDADE

ELSON ARAÚJO

ELSON ARAÚJO

ELSON Mesquita de ARAÚJO, é membro da Academia Imperatrizense de Letras-AIL e durante alguns anos, foi repórter de O PROGRESSO.

 
Sempre quis saber o porquê, de Aurelius Augustinus Hipponensis, ou simplesmente Santo Agostinho ser tão aclamado pelos teólogos e citado por muitos como um dos doutores da Igreja. Sabia, assim por alto, que ele é considerado uma figura icônica do Cristianismo e muito respeitado pela teologia católica por ser fundador e o mais importante nome da filosofia patrística, a que fundamentou doutrinalmente as bases teológicas do Cristianismo, e só.

Pois nesses quatros dias de Carnaval pude conhecer mais um pouco sobre a trajetória desse santo católico. Fi-lo pelos olhos, pesquisa e texto de Huberto Rohden que me conduziu literariamente pela história dos descaminhos e caminhos do sapiente filho de Santa Mônica.

Pensador e filósofo, Huberto Rohden nasceu em 1893, no Estado de Santa Catarina, e morreu em São Paulo em outubro de 1981. É autor de mais de cem obras entre elas, Agostinho, um drama de humana miséria e divina misericórdia, livro que me acompanhou nos dias de folia momesca. Rohden é apontado como o precursor da literatura espiritualista.  Dele também já li o maravilhoso Metafisica do Cristianismo.

Pois em Agostinho, um drama de humana miséria e divina misericórdia, faz-se conhecer um pouco do que foi a movimentada vida desse Santo Católico.  Do nascimento à vida profana em Tagaste e Cartago (regiões onde se situam a Argélia e parte da Tunisia) , onde viveu os prazeres e desprazeres da carne, além de, antes  da conversão ao Cristianismo, quedar-se pelo Hedonismo, Ceticismo e Maniqueísmo, influentes filosofias/religiões de sua época.

Agostinho, segundo Huberto Rohden, antes da iluminação cristã, chegou a ser um dos arautos do Maniqueísmo, a religião do conflito cósmico entre o reino da luz e o das sombras, do bem e do mal. Foi assim até, já na casa dos 30 anos de idade, para alegria e prazer e emoção da mãe, cristã-católica, que por aquilo rezava desde que o menino se entendeu por gente, se converteu terrivelmente ao Cristianismo, se filiando à Igreja de Roma.

Huberto Rohden  relata a história de Agostinho, mas não deixa de luxuosamente como diria meu amigo radialista Jerry Alves,  entre um parágrafo e outro, florir  a pegada de homem de literatura e de  pensador que foi.

Uma beleza descrição que o autor faz do lugar de nascimento de Agostinho,  ocorrido em 13 de novembro do ano  354 da Era Cristã. Ele assim se refere “No topo duma das colinas arredondadas que circundam o planalto de Tagaste, verdejava farto vinhedo, por detrás do qual alvejavam os muros duma casa modesta, onde residia o casal Patrício-Mônica”. Quem não queria ter nascido num ambiente assim tão bem descrito, não é mesmo?

Entre a narrativa dos principais episódios que marcaram a vida de Agostinho, permeia a veia literária e de pensador do autor. “Nenhum homem se torna o que não é”, escreveu ele.

Além da conversão ao cristianismo, ocorrida aos 33 anos, quando foi batizado e catequizado por Santo Ambrósio, aconteceu uma outra importante, na linguagem de hoje, virada de chave na vida de Agostinho, pouco difundida e explorada. É que até  os 12 anos de idade, conforme  Rohden, ele era averso aos livros, por conta dos maus tratos de alguns professores que teriam traumatizado o menino com castigos físicos,  até que o garoto enamora-se, apaixonar-se delirantemente pelos clássicos da época. O autor deixa a entender que o Agostinho se encontrou no universo da literatura/leitura  e  lia tudo que via pela frente. “E quem descobre o EU descobre a chave para todos os universos... Grande era sua fome de saber-maior ainda sua sede de amar”, definiu.

Agostinho chegou a casar, casamento do qual foi gerado um filho, Adeodato, que morreu aos 15 anos de idade. Mesmo assim, e tendo se relacionado com várias mulheres, um escritor renomado chamado Papini chegou a insinuar ser ele homossexual, no que Rohden o defende.

“Dificilmente, o homem pervertido contaminado no profundo manancial das suas  energias vitais e das suas potências criadoras chegará a construir algo de grande e notável para a humanidade - seja no campo intelectual, seja no terreno social, seja na esfera espiritual”

Agostinho, um drama de humana miséria e divina misericórdia é um livro cheio de beleza. A obra é enriquecida pela erudição do autor que não deixa de pontuar, diria, sua compreensão sobre a caminhada de Agostinho homem que “ Grande era a sua fome de saber- maior ainda sua sede amar”

A trajetória de Agostinho contraria a lógica segunda a qual “pau que nasce torno nunca se endireita” e tem muito a ensinar. Caminhou por vários caminhos, diversos vales, se deparou com diversos ramos do conhecimento, leu muito, viveu muito o amor eros até se capturado pelo Ágape, o amor da misericórdia de Deus.

Agostinho de Hipona morreu com 76 anos de idade (no ano 430), Depois de “perder” sua mãe, voltou para a África, onde fundou uma comunidade cristã ocupada na oração, estudo da Palavra e caridade. Isto, até ser ordenado Sacerdote e Bispo de Hipona, santo, sábio, apologista e fecundo filósofo e teólogo da Graça e da Verdade.
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