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20/01/2024 às 00h00min - Atualizada em 20/01/2024 às 00h00min

Caminhos por onde andei

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

O ASSALTO (“Um filme”)

Vejo o quanto a mente é um fator de extraordinária e INCRÍVEL importância na vida humana. Só uma dádiva da CRIAÇÃO, chegaria a tanto! Capaz de trazer à baila, em fração de segundos, fatos pretéritos ou lembranças ocorridas há mais de 30, 40, 50, 60, 70 e tantos anos.

Faz uns quarenta e poucos anos e, numa manhã de sol, de mero diletantismo, eu lia, no então Cartório do Primeiro Ofício, do saudoso Doutorzinho Bandeira,  uma CARTA PRECATÓRIA oriunda da Comarca de Goiás-GO, dirigida ao Juízo da Comarca local, supostamente para a oitiva de uma testemunha.

A denúncia, como peça principal dos autos narrava sobre um assalto (um roubo), ocorrido à luz do dia, em uma loja de confecções, no centro de Goiânia. A leitura me dava a sensação de que eu estaria assistindo à cena. E então, um “filme”, em cores, passava-se na minha mente. A loja, no meu imaginário, ficaria nas proximidades do Cine Marabá, aqui na Avenida Getúlio Vargas.

O ASSALTO: Na loja, segundo a denúncia, (agora de livre interpretação), adentram dois indivíduos: Um mais corpulento e maior de idade e líder da ação e o outro, um “garoto”, menor de idade. O líder vai logo dizendo: “Baixem as portas, é um assalto, mas fiquem tranquilos, nada de negativo lhes acontecerá”. E decretou: “Não liguem, para a Polícia para não complicar”. Em seguida cortou o fio de telefone (fixo - ainda não existia o Celular). E determinou que duas funcionárias entrassem no banheiro e trancassem a porta por dentro. A dona da loja que assistia ao roubo, essa foi simbolicamente “amarrada” nas duas mãos com um lenço, obtido no local. Parece um “filme”, não é?

E seguem os dois fazendo o “raspa”, aos olhos inertes da dona da loja em roupas e mais roupas. Em seguida, entra uma senhora (uma cliente da loja) com uma chave de carro nas mãos. O assaltante-líder, dirige-se à senhora e diz: “Muito bem, você é a peça que estava faltando. Isto aqui é um assalto em andamento. Fique tranquila”. Olha o sufoco! Em seguida, baixou por completo as portas da loja e prosseguiram os dois no “raspa” já iniciado, aos olhos das duas: a dona da loja e a freguesa do recente acesso.

Pegaram os dois, tudo o quanto lhes convinha, em seguida, a dona do veículo foi convidada a acompanhá-los. Ela então ingressou no carro, sob a direção do assaltante mais velho. E seguem os três com destino à saída da cidade que na minha mente de leitor e, daquele firme de terror, era como se fossem para  aeroporto local.

Na distância, desceram os dois com o produto do roubo e partilharam a contento, ficando cada qual com a sua parte. E o mais velho sempre ao volante, retornaram rumo ao centro da cidade. Era um “filme imaginário” que eu, sôfrego e ansioso naquela leitura, assistia. E rumaram os três na rota do centro.

A certa altura o assaltante/condutor, na tranquilidade com que sempre se comportou, para o carro, estende e entrega a chave à dona do veículo e disse-lhe: ”Agora a senhora toca para onde quiser”.(Foi a frase que ficou). A proprietária então, personagem daquele “filme” imaginário que na minha mente se atravessava, tocou rumo ao centro, levando o assaltante-mor ao seu lado. Em dado momento, o “carona”, solicitou: Agora a senhora para que eu vou descer.

E desceu, levando consigo a sua porção do assalto. E resulta daí o enredo (ou trailer(?), da CARTA PRECATÓRIA que aportou em Imperatriz, para a minha leitura, algum tempo depois do ocorrido, faz uns quanta e tantos anos.

Esta semana, a minha mente de leitor e “espectador” acendeu uma lâmpada e a mente me mandou um recado: “Taí, escreve um texto.” E eu disse: Mais uma vez? A mente me respondeu: Sim, mais uma vez., a primeira já faz muitos anos, ninguém lembra mais.

Taí o texto que tem para mim o “sabor acre” de um imaginário filme de suspense. E nesse território (nessa senda, nesse cenário), muitas nuances da vida a mim se desenham, ao tempo em que reconstituem velhas lembranças e a sensação de que aquela CARTA PRECATÓRIA me exibia um filme imaginário de tantos suspenses, que me deixavam entre sôfrego e ofegante, e com as adrenalinas nas alturas. Foi-se aquele velho tempo. Mas... tudo na vida é um tempo.

Hoje eu gostaria de poder cumprimentar (e saudar), as personagens dessa trama: A proprietária da loja (que ficou de mãos simbolicamente atadas), as empregadas/vendedoras que de livre e espontânea pressão, trancafiaram-se no banheiro e... A DONA DO CARRO – ela que entrou de gaiata nesse navio, já tomado das águas daquele maldito, hilariante e “cinematográfico” assalto.
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*Viegas é o filho de Antônio de Inez (que estudava na cidade). Texto protegido por Lei de Copyright ©*(Lei nº 9.610/98). 
©Todos os direitos reservados ao autor.
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