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06/01/2024 às 00h00min - Atualizada em 06/01/2024 às 00h00min

Caminhos por onde andei

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

 ZÉ QUIRINO É  GENTE QUE FAZ!

- Que homem extraordinário é o Sr. ZÉ Quirino?!!!

Zé Quirino é um homem de pouco menos de cinquenta anos mas pelo trabalho rústico e diário, cabelos grisalhos, aparenta um pouco mais. Quirino é a personificação, expressão, a materialidade do trabalho. Seu nome, suas ações, suas bem-aventuranças são o próprio trabalho!

Conheci essa ser humano extraordinário, na passagem deste Natal (2023), na cidade de Wanderlândia, no Estado do Tocantins, onde estive, hospedado, ao lado de sua casa. Zé Quirino é um “barriga cheia”, mãos cheias e mesa farta por excelência. Tanto gosta disso, quando faz questão disso. Em sua confortável casa de grande  varanda, tem uma grande mesa, ladeada de bancos em madeira, cuja mesa já cedo da manhã, faz-se posta com o café da manhã: leite, pães, bolos, iguarias, manteiga, e tudo o mais com absoluta fartura!

Seu Zé Quirino empenha-se em chamar seus vizinhos que passam e largamente convidá-los para o café. E ainda que dispensem o convite, Seu Quirino insiste, torna insistir - é quando encostam e lhe dão o prazer de compartilhar aquele saboroso café matinal, cuja mesa fica exposta até... bem mais tarde.
E quando é lá, antes mesmo do meio dia, essa mesma mesa já está posta com uma variedade de comidas às respectivas panelas:  arroz, feijão, carne cozida, carne frita, carne assada e tudo o mais. E quem passa até mesmo na rua, logo ali ao lado, seu Quirino já os convida indistinta e insistentemente para o almoço. Quirino é assim: É a sua natureza, seus princípios, a sua índole!

A casa do Sr. Zé Quirino é uma fartura só. A partir das cadeiras de ferro revestidas em vime que são dispostas, solenemente, à espera e à disposição de quem as ocupem.  Pendurados à beira da casa, cachos de banana —uns  já maduros, outros por amadurecer esperando a sua vez. Seu Quirino, compraz-se com sua mesa partilhada quer por seus familiares: Genros, noras, netos, filhos e quem passar pela rua, no periférico Bairro do Planalto, em Wanderlândia-Tocantins, com os papagaios verdes “trelando” lá em cima, na rota do cerrado e dos buritizeiros, ali por perto, ou inda que à busca de juçareiras dos quintais, também ali por perto.

 Seu Zé Quirino tem um lote de terras  de mediano tamanho,  do outro lado da rua, próximo de sua casa, a dois quarteirões.  Lá ele cria e recria porcos, planta macaxeira e mantém o seu cavalo manga larga machador que é o seu xodó, animal de estimação. De grande valor, para Seu Quirino, seu cavalo não tem preço. Já enjeitou até carro, diz. As pessoas param para ver o desempenho, do animal,  a sua corrida, a sua marcha, a sua cavalgada. Tão dócil, pode montar até criança, diz. Quirino tem um lema de vida, como ele mesmo diz: “Não refuga um almoço, nem a saúde, nem o trabalho, nem uma “gambira”. Gambira é um negócio, uma troca uma compra e  venda.

 - “Pelo visto, Seu Quirino, com o seu cavalo o senhor já enjeitou várias gambiras”, provoquei. – “É, porque o meu cavalo não tem preço”. Quirino diz que dorme duas horas na noite. Deita-se tarde, parte da noite, faz a vigília da sua casa, do seu pequeno sítio de porcos e outras produções que ali tem, bem como do seu cavalo inegociável, para o qual dispõe de arreios e sela e complementos de montaria, tudo decente. Levanta-se ainda cedo da manhã, antes da barra do dia. Numa propriedade em frente à sua casa, tem outra casa e nesta as suas tralhas de montaria, sua produção de gordura suína, sua máquina de debulhar milho, sua “carretinha” de transportar porcos, suas diversas facas de “estima”, cada qual com sua estória.

Pelo que pude observar, de fato, Seu Zé Quirino  “não refuga uma gambira,” ele tanto compra quanto vende o dia inteiro. Vende macaxeira do sítio, vende carne suína, seja o animal inteiro, seja a retalho em quilos (ou peças). E nessa “gambirada”, dinheiro não lhe falta, ao bolso. Que homem extraordinário é o Sr. Zé Quirino!

Para o almoço, à véspera do Natal, um filho seu pegou uma “labra” de carne de sol e... assou. Em seguida, cortou-a em pequenos pedaços sobre a tábua e esta sobre a mesa. Daí,  Seu Zé Quirino, pegou um garfo e saiu distribuindo pequenas porções a um e outro, numa franca e estampada divisão de sua mesa, do seu almoço. Achando que era pouco em seguida, ele mesmo distribuía latas de cerveja (aos adultos)  e refrigerante a todos ali, na maior simpatia e na melhor boa vontade, num declarado espírito de cordialidade, integração e sociabilidade.

Ao me despedir de Seu Zé Quirino naquele final  de tarde, ele me entregou uma sacola de umas  manguinhas saborosíssimas do seu quintal e… uma boa quantidade de farinha de puba que ele mesmo produz e então nós partilhamos com um saboroso “leite de bacaba”.

- Zé Quirino de Wanderlândia, no Tocantins: Que homem extraordinário?!!! Que ser humano fora de série! Ao lado de sua esposa e filhos e netos e genros, Quirino diz-se um homem feliz, tem tudo o que precisa e nada lhe falta. Que homem extraordinário é o Sr. Zé Quirino?! Que Deus, o nosso Criador, mantenha-o sempre assim. A humanidade sobre a terra e debaixo do céu, precisaria de só mais algumas almas com o caráter, a honradez, a hospitalidade, a garra,  a coragem, a disposição,  a  boa vontade e o exemplo  desse homem extraordinário.

Zé Quirino, de Wanderlândia-Tocantins, é, afinal, GENTE QUE FAZ.

* Viegas –interpreta e questiona o social.
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