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30/12/2023 às 00h00min - Atualizada em 30/12/2023 às 00h00min

Nailton Lyra Escreve

NAILTON LYRA

NAILTON LYRA

O Doutor ​NAILTON Jorge Ferreira LYRA é médico e Conselheiro do CRM/MA e Conselheiro do CFM representando o Estado do Maranhão


 

Um pequeno conto “cirúrgico” de Natal 

Inverno de 1809, com um vigor acima do observado em outros anos, mês de dezembro, no sertão da cidade de Danville, Kentucky a Sra. Jane Crawford, que residia a cerca de sessenta milhas de distância, (multiplique por 1,6), foi atendida em seu rancho pelo médico Ephraim McDowell, tinha o diagnóstico feito por ouros médicos de gravidez atrasada de gêmeos, mas ao final da gravidez não houve parto e sim aumento do sofrimento. O Cirurgião foi chamado e vencendo a distância a cavalo, comunicou à paciente que se tratava de um tumor de ovário e que a única esperança de vida seria remover o tumor;  e antes, nunca houve uma cirurgia desse tipo bem-sucedida.
 
A senhora Crawford, ainda que doente, aceitou ir para a cidade de Danville a cavalo para ficar na casa do médico, o qual avaliaria a possibilidade da cirurgia. Lembrando que nessa época não havia ocorrido a descoberta das drogas anestésicas.
 
A notícia abateu a todos, a senhora Crawford, a seu esposo e a toda a família.
 
Não havia cura para os tumores abdominais no início do século XIX.
 
A senhora Crawford sofria... o sofrimento era normal na vida daquelas pessoas simples do Oeste americano.

Mas esse sofrimento foi se tornando insuportável.

Próximo ao Natal, ela puxou o médico pela camisa com toda a força que ainda tinha e pediu ao médico: “Doutor, arranca isso de mim”.

Em sua formação na cidade de Edimburgo, na Escócia, aprendeu que era possível a retirada de tumores de ovário. Possível sim, mas não factível, pois a simples abertura da cavidade abdominal naquela época era fatal.

Ephraim relutava... sua reputação estava em jogo... mas logo toda a vila soube (sem rede social) de seus planos e os pacientes já não mais o procuravam. Seu cunhado, auxiliar nas cirurgias, o abandonou.

Mas Ephraim não podia abandonar Jane em seu imenso sofrimento.

Na manhã de Natal de 1809, Ephraim McDowell, com uma incisão no lado esquerdo da paciente, realizou a retirada do tumor por uma incisão de 23 cm.
 
O tumor, contendo uma substância gelatinosa, pesou 22,5 libras (uma libra tem 0,45 kg).

A paciente permaneceu acordada e consciente durante o procedimento, sem qualquer anestesia.

Enquanto isso a população preparava o enforcamento do médico em praça pública, caso a paciente morresse.

O xerife, ao final do procedimento que durou 25 minutos, adentrou à casa do médico e constatou o final exitoso do procedimento. Comunicou à turba que desmontou o laço da forca que estava em uma árvore pronto para execução do Dr. Ephraim.

Com cinco dias de pós-operatório ele se surpreendeu com a paciente fraca, mas de pé, arrumando a cama.

Seu conhecimento, vontade de ajudar, tenacidade ética e, principalmente coragem, permitira à senhora Jane celebrar mais 32 natais com sua família, enquanto aquele poderia ser seu último Natal.

Sobreviveu no Oeste selvagem por 12 anos a mais que o Dr. Ephraim, que realizou mais três procedimentos de retirada de tumor de ovário em sua vida.

Desejo que tenhamos coragem para fazer o que é certo, mesmo diante da adversidade, e assim manter o espírito natalino de renovação da fé, paz, saúde e caridade.

Feliz Natal e bom Ano Novo a todos!
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