MENU

16/12/2023 às 00h00min - Atualizada em 16/12/2023 às 00h00min

Caminhos por onde andei

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

 

A SAGA DE MARTINHO MATINHO FOLHÁ 

Martinho Folhá era o último filho de Mané Folhá. Martinho ainda era um molecote, aos 13, 14 anos, quando deixou a casa paterna, um mísero casebre. e tocou-se para as bandas de Curaiapá, nos confins de sei adonde . E nunca mais voltou à sua terra, tampouco à casa dos pais.

Quando Martino já era “homem refeito”, cinqüenta e tantos anos, assim sem mais nem menos, da noite para o dia, baixou à casa os pais, na velha Baixa da Folha. Assim um tanto desconfiado e sozinho andava de um lado para o outro naqueles ermos caminhos, como quem perscrutava saber de alguma coisa. E, como sozinho não logrou o quanto pretendia, não aguentou e perguntou: Adonde é que é mesmo que fica a tapera de Getúlio?

Getúlio havia sido um preto-velho, cheio de “mungangas”, com o pescoço cheio de rosários e contas, metido a macumbeiro e a feiticeiro, remanescente da escravidão, que morava ali por perto e mais adiante, já chegando no terreiro do Carro Virô que dizem, teria sido um terreiro de escravos. No que foi a antiga Tapera de Getúlio, havia um cajueiro (de caju amarelo), à beira do caminho que a distinguia. Contavam as pessoas que na tapera de Getúlio, às proximidades desse dito cajueiro, costumava aparecer umas VISAGENS  que aterrorizavam as pessoas. Tipo caixão de defunto, branquinho que só!

Era esse justo lugar a que Martinho Folhá interessava-se em saber onde ficava pois que em sonho, lá nos cafundós por onde morava, a ele foi dado um “pote de dinheiro” que ali estaria enterrado. E não deu outra:  Martinho, na noite, arrancou o “pote de dinheiro” e, nessa mesma noite capou o gato, escafedeu-se, foi simbora para os seus cafundós de onde veio e nunca mais... nunca mais voltou ao seu velho lugar BAIXA DA FOLHA, onde ali caíram os dentes dos seus míseros pais: Mané Folhá e Tereza Folhá. Justo ali onde ainda moravam suas irmãs MACHIMIANA, OZÉBIA E JULHANA Folhá.

Dias depois, as pessoas passavam por aquele cajueiro, onde fora a tapera de Getúlio e tudo o que viam era um breve revolvido de terra, pouco adiante da margem do caminho, em frente ao cajueiro  à beira da estrada, do outro lado onde costumava aparecer visagens que aterrorizavam as pessoas. fosse no lendário popular, fosse a outros que enfrentaram as difíceis situações diante de um caixão de defunto que ali costumava aparecer durante as noites.Aparecer para uns, não para outros que tinham o “corpo fechado”.

Passados mais de setenta anos, Martinho Folhá é lembrado como um sujeito esperto e corajoso  que veio daquele fim de mundo só para “rencar” um pote de dinheiro. E ainda por cima de tudo deixou todo o mundo “banzando” só de saber que ali, na tapera de Getúlio, à flor da terra, tinha uma fortuna que ninguém sequer adivinhava e que a ele, Martinho Folhá, que tinha saído da Baixa da Folha ainda moleque, foi simbora pro fim do mundo e voltou ali tantos anos depois, só para “rencar” aquela fortuna!!!
*****************************

 

PARA HOJE

A realidade disse: Alimente um cão por três dias e ele lembrará de você por trinta anos. Alimente um humano por trinta anos e ele te esquecerá em 3 dias.

Vi um áudio-vídeo desses que a gente recebe ao celular: Um homem houvera cuidado (alimentado) um leão por algum tempo. Depois foi embora, mas.. um dia voltou. Ao chegar ao velho território (um capoeirão) espargiu um grito qual aquele de quando chamava o leão à alimentação. O que se viu foi o leão, bem mais envelhecido, correndo em disparada! E saltou sobre aquele homem, quando os dois enrolaram-se ao chão em abraços, como se juntos matassem uma velha saudade. O vídeo fica por ai.

Sobrou à audiência entender a mensagem de gratidão e reconhecimento de um animal para com o ser humano, cuja recíproca - ser humano versus ser humano nem sempre é equivalente ou verdadeira. Daí que está escrito nas tábuas e numa velha canção: O MUNDO JUDIA MAS TAMBÉM ENSINA....

 

AS TREITAS DE ZÉ BICUDO

Zé Bicudo era um homem estranho. Não era amigo de ninguém. Ninguém também era seu amigo. Dele todos desconfiavam e renegavam. Diziam “por uma boca só”,  que ele virava “labisonho”.

Bicudo, demonstrava prazer e intimidade com os soturnos das noites, por cujos caminhos ermos costumava aventurar-se (nas noites), à procura de uma bodega de cachaça. E onde tinha uma bodega de cachaça lá ele se abarrancava, até que lhe pedissem licença para fechar e mandá-lo embora.

Naquela noite, Bicudo já tinha bebido umas duas cachaças e estava lá, de pé, calado, sisudo e estranho como sempre. Todos o viam como um sujeito dos diabos.  Estava nessa quando de repente, ali encosta e apeia um sujeito que se dizia garimpeiro. Chegou, ignorou ou simulou ignorar o velho labisonho e pediu uma “cachaça lavada”. Que era uma dose além da medida. E mais outra dose lavada. Aí, puxou um revólver 3, cano curno, preto, e bááááááááá´, em cima do balcão. “É... porque se  um sujeito virado bicho e  me cercar no caminho, eu meto bala”. E báááááááááá, com o seu revolver em cima do balcão.

Bicudo estava ali, mas era como se não estivesse. O garimpeiro o ignorou propositadamente. E ainda lhe mandou  uma indireta atrás da outra. Bicudo não se agüentava em si mesmo.  Caía uma chuvisco insistente e o garimpeiro mesmo assim montou em seu cavalo e, pouco mais diante ainda deu um tiro para cima, só para provocar. Bicudo não se deu por vencido, foi lá fora, pôs as duas mãos em forma de concha à boca para facilitar a projeção do som e... UIVOU  como cachorro.E tornou a uivar. Quem ouviu aqueles uivados dizia que era Bicudo chamndo e invocando o  capeta, em suas maldições.

Naquela noite, o cavalo chegou  casa, em corda de rastro, sozinho. A família desconfiou e já ficou em polvorosa! Algo errado! Mas o chuveirão tomava conta da noite, relampejando lá em cima. Em família, naquela noite, foi um clima de velório.

No dia seguinte, amanhecido o dia, saíram à procura do garimpeiro. A certa altura, notaram um mato amassado à beira da estrada. Resolveram procurar por ali. E então encontram o sujeito caído ao chão, todo mijado e... “obrado”. Dizia ele que de nada se “alembrava.” E o revólver? O revolver perdeu-se para todo o sempre. E perdido ficou. E quando a família foi investigar, souberam que naquela  dita bodega o que tinha e como tinha acontecido. E então pegaram o caminho de volta. E não é que pouco lá adiante encontraram Zé Bicudo ainda UIVANDO como cachorro? E todos com medo, entenderam (ou sub entenderam) o que tinha acontecido. E então puseram os rabo entre as pernas e... fim de papo.

* Viegas interpreta e questiona o social.
Link
Leia Também »
Comentários »