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04/11/2023 às 00h00min - Atualizada em 04/11/2023 às 00h00min

Crônica da Cidade

AURELIANO NETO

AURELIANO NETO

Doutor Manoel AURELIANO Ferreira NETO é magistrado aposentado do Tribunal de Justiça do Maranhão, e membro da AML e AIL - [email protected]

Sobre a guerra: textos interessantíssimos

Por que a guerra? Quem faz a guerra? Quais os benefícios da guerra e quem deles tira proveito? O que está havendo no mundo nosso de cada dia? Sem nenhum motivo, a não ser em uma guerra individual, no dia 25 de outubro, na cidade de Lewiston, no Estado de Maine, dos Estados Unidos, um atirador, reservista do exército, mata 18 pessoas e fere 13. Dois dias depois dessa tragédia armamentista, é encontrado morto. Já, aqui, nesta nossa pátria amada, em que as armas de fogo foram liberadas para quem quiser delas fazer uso, com a finalidade de autodefender-se ou brincar de tiro ao alvo, um jovem apossa-se de um revólver ou uma pistola do seu pai, vai a escola, onde também estuda, e mata uma jovem.

Todos esses trágicos fatos estão sendo divulgados nos nossos meios de comunicação, que, no curso do dia, transformaram a sua linguagem jornalística e o conteúdo das notícias num diálogo permanente com a morte. Antes, era a guerra entre Rússia e Ucrânia, ora em fase de esquecimento, ou de quase nenhuma referência; hoje, é a guerra do grupo Hamas e Israel, ou Israel e Hamas. Ressalte-se: pelas notícias divulgadas pelos meios informativos, comprometidos ou não ideologicamente com a poderosa máquina bélica judia, não se trata bem de uma guerra, num sentido de ataque e defesa, mas apenas de mortíferos ataques israelenses, com extremo potencial destrutivo. Diz o mais recente relato: “Israel voltou a bombardear nesta quarta-feira (1) o campo de refugiados de Jabalia, na Faixa de Gaza, informa a agência Al Jazeera. Nesta terça-feira (31), Israel já havia feito um ataque ao mesmo local. Segundo a agência de notícias, ‘o ataque aéreo israelense teve como alvo um bloco residencial na área de al-Falouja, em Jabalia. O bloco está densamente povoado. Os sobreviventes estão tentando ajudar as pessoas que estão sob os escombros das casas que foram danificadas ou destruídas. Bombas de vários tamanhos foram usadas, destruindo bairros inteiros’. Ainda conforme os relatos, os bombardeios foram ‘intensos e indiscriminados’. Estima-se que centenas de pessoas estão presas sob os escombros. A agência informa que Israel havia avisado aos palestinos por meio de panfletos para que deixassem o local.”

Como se deduz desses fatos, não se trata de uma guerra, em que o inimigo ataca e o outro se defende, e vice-versa. Mas uma suposta guerra na região Palestina, na Faixa de Gaza, em que um contendor extremamente armado, até mesmo com bomba nuclear, ataca e outro sucumbe nos escombros da destruição, sem a mínima possibilidade de defender-se.

Vamos a alguns textos publicados por estudiosos e analistas dessa macabra situação, que vem abalando o mundo dito civilizado.
Vladimir Safatle publicou o texto O suicídio de uma nação e o extermínio de um povo, no qual ressalta que o governo de Benjamin Netanyahu carece do grupo Hamas para manter-se no poder, pois “acredita que a única coisa capaz de unificar o país é a guerra”. Essa situação vem se consolidando desde o primeiro-ministro Itzak Rabin, que foi assassinado não por um membro do Hamas, nem por um palestino, mas por colono judeu. As posições fundamentalistas prevaleceram, e o processo de construção de uma paz morreu. A guerra nunca será a solução, pois não se chegará a um vencedor. E acrescenta Safatle: “A única possibilidade de realmente vencer a guerra seria através do puro, simples e impensável extermínio de fato dos palestinos.”

Como ocorreu com a Liga das Nações, a ONU perdeu força para equacionar esses conflitos, não conseguindo sequer aprovar um simples e necessário comunicado do Conselho de Segurança. A tentativa do governo brasileiro buscava uma solução negociada para alcançar-se a paz. Os Estados Unidos utilizaram o seu poder de veto, numa demonstração de que ainda detêm força nas relações internacionais. Mas essa correlação de forças mudou. O veto norte-americano foi o tiro de misericórdia na ONU. Nem Israel, como está ocorrendo, nem o Hamas, ou qualquer outro, cumprirão resoluções que se originem da ONU. O enfraquecimento da Liga das Nações foi um dos elementos geradores da 2ª Guerra, e o da ONU, só Deus sabe.

Em texto publicado por Martín Martinelli, sob o título Palestina e Israel na reconfiguração do sistema mundial, esse professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidad Nacional de Luján, Argentina, cita Joe Biden, quando em 1986, no Congresso dos EUA, fez esta declaração: “Israel é o melhor investimento de três mil milhões de dólares por ano que fazemos. Se Israel não existisse, os Estados Unidos teriam de inventar um Israel para proteger os nossos interesses na região.” Nestas palavras, encontra-se um fortíssimo motivo para essa guerra, que pode levar o mundo para um colapso definitivo.  Em adendo apocalíptico a esses desumanos interesses estratégicos, a última notícia consta que Departamento de Defesa dos Estados Unidos anunciou a intenção de desenvolver uma nova bomba atômica, com o propósito de atacar bunkers e centros de comando subterrâneos.

Do exame de todas essas irracionalidades, a conclusão a que chego é que certíssima está a psicanalista Inez Lemos, que, no texto Quem produz a guerra? publicado recentemente, nos brinda com esta lição: “Guerra é a prova de que Freud tem razão, há algo na condição humana que vai muito além do princípio do prazer. Chama-se pulsão de morte, gozo em ver o outro sofrer ou em provocar sofrimento em si próprio - perversão, maledicência, maldade, sadomasoquismo, crueldade. Tudo que produz prazer em sentir o outro em situação inferior, em desvantagem, é da ordem do patológico. Na lógica neoliberal não há espaço para dilemas trágicos, diante do imperativo de disputar e vencer, reverencia- se a matança, pouco importa se a guerra é injusta. Os motivos? Ambição por território, megalomania.”  Emir Sader, sociólogo e cientista político, na introdução do seu texto Um novo século de guerra? faz esta indagação: “A imagem das crianças palestinas é a mais expressiva e dolorosa do nosso tempo. Vamos nos acostumar a viver em guerra?”. Pelo andar dos tempos antigos e atuais, parece que sim.

* Membro da AML e AIL
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