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28/10/2023 às 00h00min - Atualizada em 28/10/2023 às 00h00min

Crônica da Cidade

AURELIANO NETO

AURELIANO NETO

Doutor Manoel AURELIANO Ferreira NETO é magistrado aposentado do Tribunal de Justiça do Maranhão, e membro da AML e AIL - [email protected]

GUERRA – Hamas, Israel e Palestina

Não sei se o homem já nasceu com o espírito belicoso, vocacionado inatamente para guerra. Sei que devota um amor patológico à guerra. Destruir e matar são verbos inerentes ao ser humano. Thomas Hobbes, citado por Pierre Clastres, em Arqueologia da violência, importante obra elaborada com base em pesquisas de antropologia política, opõe o estado de Sociedade, que é para ele a sociedade do Estado, “à figura não real, mas lógica do homem em sua condição natural”, respondendo a seguinte pergunta: “Ora, pelo que é que se distingue a condição natural dos homens?” – Pela ‘guerra de todos contra todos’.” Nessa obra, tem-se a constatação sociológica de que as sociedades primitivas eram violentas, “seu ser social é um ser-para-a-guerra”. Reflitamos um pouco: a história já registrou inúmeras guerras, todas contaminadas pelo vírus da destruição. Tivemos a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais e estamos na iminência da terceira. Quem sabe, a última. A Primeira Grande Guerra foi de trincheira, de reduzida mobilização; a Segunda Guerra se caracterizou por ser de grande mobilização bélica, com o uso maciço de aviões, tanques e bombas lançadas de longas distâncias.

O mundo não parou com a sua vocação para matar e destruir. As guerras continuaram. A do Vietnã, sob os auspícios norte-americanos, o saldo atingiu 4,2 milhões de mortos. Irã-Iraque, com 700 mil mortos. O genocídio de Ruanda, com 937 mil mortos. A guerra soviético-afegã, com 1,5 milhão de mortos. A guerra da Correia, com três de milhões de mortos, entre soldados e civis. A guerra do Iraque, país invadido pelos Estados Unidos da América, sob o falso pretexto de ter ou fabricar armas nucleares, outros tantos milhares de mortos. Por esse histórico, constata-se que há todo um mapa de conflitos que se poderia iniciar com a guerra Persa, ocorrida entre 480-479 a.C., com 300 mil mortos. Mas pergunta-se: Qual o sentido de toda essa violência do homem contra o homem? Conquista de território? Questão de disputa ideológica? Embates culturais? Fundamentalismo religioso? Interesses econômicos, agregados a conquistas geopolíticas do mundo?

Guerra faz parte do DNA da história do homem, caracterizada, em quaisquer dessas circunstâncias, na luta pelo poder. O poder imperial da conquista pela força. Não há santos. Nem todos são demônios. A razão depende com quem se está alinhado ideologicamente. E, claro, economicamente. Esses conflitos, localizados ou não, rendem altíssimas somas de dólares para a indústria armamentista.

Israel e o Hamas estão numa luta em território palestino. A mídia brasileira, com reduzida exceção, tem apoiado o povo judeu. Fato esse notório, bastando que se leiam as nossas principais publicações e que se ouçam e vejam os noticiários de nossos meios de comunicação, especialmente das TVs. Há um predomínio de interesses econômicos de Israel, diga-se, dos judeus, com apoio estratégico, econômico e militar norte-americano. Quem não se alinha, recebe logo a alcunha depreciativa de anão. Expressão esta utilizada por um diplomata de Israel, quando o governo brasileiro considerou desproporcional a reação sionista, ao desferir seus mortais ataques contra o território palestino, com o bombardeio de hospital e assassinatos de crianças e mulheres.

As notícias, divulgadas pelas mídias, são desalentadoras, e a conclusão óbvia é de que os palestinos serão vítimas do mesmo holocausto que vitimou os judeus, só que em circunstâncias diferentes, porquanto com a justificativa do ato criminoso do grupo terrorista Hamas.

Se os principais atores desse conflito, que se vem alongando durante anos e anos, não buscarem um entendimento, que não seja a imposição pelas armas, a região palestina pode ser o pavio para a uma guerra mais abrangente. Historicamente, Palestina era local da então denominada Terra Santa, onde viviam árabes no Império Otomano. Os judeus migraram em massa para a região e criaram Estado de Israel. Consoante esclarece a historiadora portuguesa Maria José Aragão, na sua obra Israel X Palestina – Origens, história e atualidade do conflito, p. 46, “no verão de 1947, uma comissão especial das Nações Unidas visitou a Palestina e elaborou um relatório a favor da divisão do território da Palestina entre árabes e judeus, com uma zona internacional em Jerusalém. Essa solução foi aceita pela Agência Judaica, mas rejeitada pelos árabes. Em 29 de novembro de 1947, as Nações Unidas, em assembleia geral, votaram a favor da divisão do território. Desse modo, deviam assim nascer duas nações, uma árabe e outra judaica.”

Dessa decisão das Nações Unidas, a Agência Judaica declarou, em 1948, o estabelecimento do Estado de Israel... Mas os conflitos não cessaram; pelo contrário, se intensificaram, até os dias atuais, com sucessivas guerras. Em 1967, a guerra dos Seis Dias; e, em 1973, a do Yom Kippur (o Dia do Perdão), e outras; agora, a decorrente do ataque terrorista do grupo Hamas, que alega o seu direito de resistência à opressão de Israel em território palestino.  

O jornalista Chris Hedges, vencedor do Pulitzer Prize (maior prêmio do jornalismo nos EUA) e correspondente estrangeiro do New York Times, diz que o mundo está na iminência de uma guerra total, ou, se não, a caminho de um genocídio, considerando o apoio dado a Israel pelos Estados Unidos e ainda a pretendida destruição da nação palestina, que se encontra na faixa costeira de Gaza, com um total de mais de dois milhões de palestinos. Chris Hedges esclarece ainda: “Quando a religião e o nacionalismo são usados para santificar o assassinato, não existem regras. É uma batalha entre a luz e as trevas, o bem e o mal, Deus e Satanás. O discurso racional é banido.” Do exame desses fatos e antes da solução final, que pode chegar até nós, devemos nos perguntar: com tantas guerras e destruições, a que distância o mundo se encontra da última guerra, dessa vez mundial?

* Membro da AML e AIL
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