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28/10/2023 às 00h00min - Atualizada em 28/10/2023 às 00h00min

Caminhos por onde andei

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

SAHARA CAMILLY: - uma lição! 

Nos casuais da vida, conheci Sahara Camilly, uma jovem dublê de feirante, 13 anos de idade. Camilly, como assim gosta de ser chamada, além de bonita é simpática, inteligente e educada. Disse-me que cursa a 9ª série, pela manhã, e trabalha na feira à tarde. De seus ganhos paga internet e a energia de sua casa. Mostrou-se satisfeita com os seus encargos, fruto do seu trabalho.

A banca de venda de verduras em que exerce na feira, é do seu pai que trabalha pela manhã (e ela à tarde, em que o movimento é menor). Interpreto.  Poucas (e não muitas) coisas: quiabo e pimenta de cheiro. Só isso. Quando conversei com Camilly ela estava só e sentada à sua banca de verduras. Não levantou a voz, nem se escondeu em si.  Foi de todo espontânea, comunicativa e decente.

Não perguntei muita coisa à mocinha. Afinal, além de encontrar-se só à sua banca e eu assim um tanto de passagem, víamo-nos ali na feira pela primeira vez. Após uma breve interação, ela, contudo, me perguntou se eu seria um PROFESSOR. Foi aí que se desenvolveu a nossa conversa. Achei interessante e prescrutadora  a pergunta, mas limitei-me apenas a dizer NÃO.

Passada agora uma semana, eu me lembro da CAMILLY – aquela mocinha, 13 anos, 9ª série, feirante na parte da tarde, com quem gostaria de conversar consigo, novamente. E, se eu disse lá em cima que a conheci “nos casuais da vida”, posso afirmar que a lição me ensina que “nada em nossa vida nos acontece por acaso”. Camilly é uma dessas lições. E se eu escrevo o seu nome dessa forma, foi ela quem acentuou e me ensinou a escrever.

JÚLIO BANDEIRA
Júlio Bandeira era, a toda prova, um bom sujeito. Extremamente trabalhador e igualmente honesto e responsável. Júlio vivia no trabalho, do trabalho e pelo trabalho, Seu nome e sua vida, enfim, eram o trabalho.

Nascido e criado na parte alta da cidade, para as bandas da beira rio, Júlio tinha plena intimidade com o rio. Vivia no rio. Vivia do rio. Fazia canoas, pequenos barcos, também tocava o seu barco. Faz anos, tinha uma chácara na beira rio; rio abaixo, onde tinha criação de peixes, de aves, de suínos e outros. Além de plantio de frutas e produção de polpas respectivas. E assim tocava a vida ao lado de sua família. Júlio, tal o seu silêncio, era como se não existisse.

Nas circunstanciais da vida, ao mexer com uma bomba elétrica com ramificações de fio por dentro d’água, morreu eletrocutado. Júlio faz falta à sua família, ao seu trabalho, e a esta cidade que, se tivesse somente mais uns três JÚLIO BANDEIRA, estaria muito bem servida. Em caráter, dignidade e cidadania e trabalho.

ESTA CIDADE
Esta cidade já teve valores humanos que foram verdadeiros cidadãos, formados ao caráter e à dignidade cidadã. Eles que foram verdadeiras pedras de sustentação; pedras que se dissiparam com o tempo, com a passagem da vida. Assim foi Gumercindo Milhomem, foi Guilherme Cortez, foi Lima da SUCAM, foi Coló Milhomem, foi Chico Ribeiro (Café Uiraruí), Julimar Queiroz (Café Marivete), Simplício Moreira (a quem não conheci), Pedro Barbeiro (Oficial de Justiça), Dr. José Delfino SIPAÚBA (Juiz de Direito),  Maria Costa (parteira, das antigas, que cuidou e criou para mais de trinta), Seu Tota (fumo  SUPERBOM),  Luís DANDA (Armazém Paraíba),  Seu Ramos (antigo rádiotécnico e outras técnicas), Saló Santana  (dignidade e humildade em pessoa), Professor Arnaldo (Língua Portuguesa), Francisquinho (Farmácia dos Bons Remédios), Seu Alencar (da Farmácia do mesmo nome), Francisco Batalha (Drogaria Batalha), Edmar (Ótica Real), Deusino Silva (barbeiro), Zuzinha (do Saxofone), Seu José Pernambuco (da madeireira), Dona Josina (do cuscuz, no Mercado Bom Jesus), e tantos outros e outras.

 * Viegas questiona o social.
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