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28/10/2023 às 00h00min - Atualizada em 28/10/2023 às 00h00min

UMA MARANHENSE

MARIA HELENA VENTURA

MARIA HELENA VENTURA

MARIA HELENA VENTURA é membro da Academia Imperatrizense de Letras-AIL

 
Você se lembra quem escreveu o 1º Romance publicado no Brasil?

Até o ano de 1859 não se tinha notícias de que alguém houvesse publicado no Brasil, um Romance.

Nessa época, nosso país havia se transformado num grande celeiro de negros brutalmente arrancados das matas africanas para serem vendidos como mercadoria e transformados em escravos.

Maria Firmina dos Reis nascida em São Luís do Maranhão filha de escrava alforriada chamada Leonor Felipa dos Reis e de pai branco que não a reconheceu como filha, sendo por isso registrada apenas com o sobrenome da mãe.

Em 1822, enquanto D. Pedro I dava seu grito de “Independência ou Morte” às margens do Riacho Ipiranga, em São Paulo, com o propósito de separar o Brasil do jugo português, Maria Firmina também chegava ao mundo nesse ano, para também dar um grito de Independência, mas, às injustiças humanas.

Maria Firmina dos Reis nasceu negra, mas livre. Aos 5 anos de idade ficou órfã de mãe. Foi, por isso, conduzida para o povoado Guimarães do Maranhão (hoje com cerca de11 mil habitantes) a fim de ser criada por uma tia. Como esta era detentora de algumas posses, a menina Firmina frequentou escolas regularmente.

 Conseguiu aos 25 anos, formar-se em professora e foi aprovada em concurso público do Governo do Maranhão para a Cadeira de “Instrução Primária”. Não obstante, precisou receber autorização para exercer o cargo.

Algo surpreendente para a época foi o fato da professora Firmina ter criado em Guimarães, a 1º primeira escola gratuita onde conviviam, na mesma sala, meninos e meninas.

Aos 37 anos, ou seja, em 1860, Firmina usando o pseudônimo: “Uma Maranhense”, escreveu o 1º Romance publicado no Brasil e, segundo alguns estudiosos, o primeiro também na América Latina, com o título “Úrsula”. A obra trazia nuances da temática abolicionista.  A trajetória da autora é marcada por pioneirismo literário e engajamento social. Lembrando que se   passaram 28 anos para que fosse proclamada a Abolição da Escravatura. Nessa época já havia 26 mil escravos africanos no Maranhão.

O discurso abolicionista da escritora antecedeu até mesmo o poema “O Navio Negreiro” de Castro Alves e o romance “Iracema” de José de Alencar.

Pasmem, queridos leitores: O livro ÚRSULA foi “encontrado” 112 anos depois de sua publicação (1860 a 1972). Por motivo de só haver o pseudônimo – “Uma Maranhense”, houve dificuldade em descobrir a autora do livro, o que só veio acontecer mais tarde. Novamente, o livro caiu no “esquecimento” por mais 13 anos.

Morreu pobre e cega aos 95 anos sem receber nenhum tipo de honraria. Sua casa foi invadida por ladrões e seus pertences destruídos. Salvou-se, inexplicavelmente, o acervo de sua produção literária contendo as seguintes obras: Úrsula – Romance. Gupeva - Novela indianista. A Escrava – Conto abolicionista. Cantos a Beira Mar – Poesias. O Corvo – Obra mostrando os dramas sofridos pelo povo negro. Hino de libertação dos escravos – música em comemoração à Abolição. Publicações em jornais e revistas.
 
O Museu do Tribunal do Justiça do Maranhão criou uma ala dedicada às Obras da Escritora.

Hoje, as universidades se debruçam sobre os escritos da Mulher, Negra, Escritora, Poeta, Compositora, Abolicionista e Educadora que lutou contra as desigualdades sociais.

Finalmente, “Úrsula”, o 1º romance publicado no Brasil e na América Latina pela 1º romancista brasileira, Maria Firmina dos Reis, passou a ser considerado uma Obra-Prima.
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Maria Helena Ventura é membro da AIL – Academia Imperatrizense de Letras.
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