MENU

22/07/2023 às 00h00min - Atualizada em 22/07/2023 às 00h00min

Caminhos por onde andei

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

  

Simplesmente, demais! 

Esta semana, ainda cedo da manhã, fui ao meu “capoteiro de estimação” na Vila Nova, o Zé Antônio, o BIQUEIRINHA. Temos uma relação de clientela e amizade faz mais de trinta anos! De tão freguês, já nem pago pelos serviços prestados. Estou ali, quando chega um pirralho de seus dois anos, no máximo, empurrando uma velha bicicleta, só a carcaça, apontando para o pneu dianteiro furado e vazio e com a corrente em pura ferrugem arrastando ao chão. E, claramente, querendo conserto.

O pirralho logo me despertou a atenção: Simpático, bonito, falante, inteligente, comunicativo, expressivo e determinado. Querendo conserto de sua carcaça de bicicleta. Dispensei-lhe a atenção, tentei conversar - ele até que correspondia, mas estava interessado mesmo era no conserto de sua bicicleta.
De outro lado, o filho do capoteiro, um garotinho de uns três anos não  se mostrava nada amistoso, estava zangado. Então, para contornar a situação coloquei-o  no meu carro. E ele aceitou. Estava se divertindo por lá, foi quando o outro da bicicleta chegou, roubou a cena e tomou de conta do ambiente, este que se fazia desequilibrado porque ninguém ali não se interessou em solucionar a sua pretensão.

 Para equilibrar aquela tormenta, resolvi, então, por o filho do capoteiro frente a frente com o moleque da bicicleta, para os dois brincarem e amenizar a situação. Incrível ali foi a simpatia, o filme amistoso com que se revelou: O filho do Zé Antônio, tentando aproximar-se do garoto da bicicleta. Fez-lhe festa, sorriu-lhe, tentou agradar-lhe, gesticulava,  mas nada o agradava. O moleque queria mesmo era o conserto de sua bicicleta. E eu vendo aquilo tudo, sem poder fazer nada.

Já estava impressionado com aquele pimpolho, sua inteligência, seu dinamismo, sua falácia, quando sem mais demora ali chega uma morena, pequena estatura (do tipo mulher pequena), vestida num short igualmente pequeno que lhe aflorava os traços de sua anatomia frontal, pouco abaixo da linha da cintura. Arre!

Aquilo tudo me deixava perplexo: o moleque inteligente e comunicativo e  a anatomia de sua mãe que acabava de chegar. Logo exaltei a simpatia do menino no que a mãe endossou: “Bonito, sabido e fala até demais”. Era mesmo! O menino falava, falava até demais, entretanto era ali a anatomia que se desenhava daquela mulher pequena e mãe daquele moleque precoce e aquilo tudo falando e gritando até demais.

Estou nessa quando de repente, à breve orientação da mãe, o menino sai no vapor sobre a calçada avariada, ao risco de um incidente, empurrando a sua carcaça de bicicleta, rumo à sua casa ali por perto, ao dobrar da esquina, num local insalubre, enquanto a mãe com silhueta e tudo também desapareceu na esquina, deixando-me a imaginar sobre aquela anatomia e aquele universo. E tudo ali demais! Simplesmente, demais! O dia então foi pequeno para rever o filme que ali se passou... no meu imaginário...

No dia seguinte fui ao capoteiro. Queria rever o menino inteligente e falante. Pegar sua carcaça de bicicleta e levá-la a uma “recauchutagem” – o que enfim não deu certo. Não achei o moleque. Até pensei em um bicicletinha novinha em folha mas... aí... até que poderiam perguntar: “O que quer esse cara”?  Mas o que eu quisera mesmo era ter aquele menino em minha vida e eu em sua vida para juntos, somarmos e multiplicarmos em nossas vidas. Afinal, aquele garoto tem futuro e o seu futuro é agora. A gente lê. Claramente! Até porque não é todo o dia que em minha e nossa frente, surge um menino... SIMPLESMENTE, DEMAIS!

* Viegas questiona e interpreta o social.
Link
Leia Também »
Comentários »