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29/04/2023 às 00h00min - Atualizada em 29/04/2023 às 00h00min

O Símbolo da Medicina

NAILTON LYRA

NAILTON LYRA

O Doutor ​NAILTON Jorge Ferreira LYRA é médico e Conselheiro do CRM/MA e Conselheiro do CFM representando o Estado do Maranhão


O verdadeiro símbolo da Medicina tem uma serpente que o envolve em uma espiral, conhecido como bastão de Asclépio.

Asclépio é considerado o Deus da Medicina desde a antiguidade e seu culto teve início na Grécia de onde se espalhou por toda a Europa.

Em todas as esculturas procedentes dos templos de Asclépio e em moedas antigas, o deus está portando o bastão com a serpente. O significado de cada um desses elementos tem sido motivo de controvérsia. Ao bastão, três interpretações têm sido consideradas plausíveis: representação da árvore da vida, símbolo de autoridade e de poder (de curar) e apoio e defesa para as caminhadas, já que os médicos da época eram itinerantes e percorriam grandes distâncias a pé.

Quanto à serpente, a explicação é mais fácil. A serpente sempre exerceu um fascínio entre todos os povos e todas as civilizações e tem sido associada ao poder de preservar a vida. Sua habilidade em formar um círculo com seu corpo é vista como um símbolo da eternidade, e a mudança periódica da pele, como um sinal de rejuvenescimento. Como um ser ctônico, pode viver tanto na superfície da Terra como em seu interior, mundo visível e invisível para o ser humano. A ela se atribuem outros predicados, como astúcia, prudência e sabedoria. A serpente está ligada a outros deuses da mitologia grega, como Atenas, Hera, Demeter, Hermes e a seus equivalentes romanos.

O culto a Asclépio tem grande importância até o século III DC. Com o crescente domínio do cristianismo e o culto aos Deuses pagãos banidos, o bastão de Asclépio ficou esquecido até o século XVI quando ressurge como o símbolo da Medicina.

O símbolo de Hermes, chamado Caduceu, é erroneamente empregado nos USA como símbolo da medicina, sendo, na verdade, símbolo do comércio.

Na última década apareceu uma interpretação esdrúxula, de cunho popular, do significado do símbolo da medicina, associando-o à parasitose causada pelo nematódeo Dracunculus Medinensis, conhecido popularmente como serpente ardente, dragão ou filaria de Medina, verme da Guiné.

Esse verme produz uma úlcera na pele por onde exterioriza sua extremidade proximal. Como a úlcera é muito dolorosa o doente procura alívio banhando a úlcera e, nessa ocasião, o verme expele larvas pela boca que contaminam a água, que, fechando o ciclo com novas infecções.

O verme pode ser extraído ainda com vida antes da formação da úlcera pelo seguinte processo: faz-se uma incisão na pele justo à frente do verme e aguarda-se que ele aflore à superfície. Toma-se uma pequena vareta, como um palito fosfórico, e nela se enrola com o máximo cuidado a extremidade do verme e aguarda-se sua progressiva exteriorização, que pode levar dias. A cada dia, enrola-se na varinha o segmento exteriorizado, até a completa saída do verme  

A dracunculose existe desde tempos imemoriais, tendo sido detectada em múmias egípcias. O procedimento terapêutico descrito é tradicional, não se podendo dizer desde quando é empregado. A varinha e o nematódeo nela enrolado têm sido considerados ultimamente como a origem do bastão de Asclépio. O símbolo da medicina seria uma simples publicidade do médico, anunciando sua habilidade em extrair um parasito subcutâneo.

Esta fantasiosa interpretação, como dissemos, é recente, e reduziu o bastão de Asclépio a um palito, em algumas interpretações a um palito de fósforo!?

E a serpente reduzida a um verme da filariose!

Pobre Asclépio, outrora Deus da Medicina e Cirurgia, Mestre da Cura, agora perdendo seu título para um nematoide microscópico (verme) e um palito de fósforo.

Medusa vai ter agora minhocas na cabeça e Zeus? Vai mudar de lado?

Tempos de Fake News até na antiga mitologia!


 
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