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20/11/2021 às 00h00min - Atualizada em 20/11/2021 às 00h00min

A Roupa Branca

NAILTON LYRA

NAILTON LYRA

O Doutor ​NAILTON Jorge Ferreira LYRA é médico e Conselheiro do CRM/MA e Conselheiro do CFM representando o Estado do Maranhão

   
Qual a razão dos médicos e demais profissionais de saúde usar roupa branca?

A evolução do vestuário médico acompanha a história da medicina ao longo dos séculos.

Até o Século XIX os médicos e profissionais de saúde não usavam o branco, essa evolução veio a partir de meados do século XIX e início do XX evoluindo até hoje aos aventais e roupas brancas e ao predominante azul e verde dos centros cirúrgicos e outras instalações onde são necessários cuidados especiais para prevenir a contaminação de todos e principalmente dos pacientes

Paulo Tubino e Elaine Alves em artigo que recomendo aos interessados consultem apresentam uma excelente evolução histórica do vestuário médico no  livro ”História da Medicina”.

De um modo geral, os pacientes esperam serem tratados em consultórios, hospitais ou clínicas por alguém vestido de branco, puxe pela memória leitor e vai ver que a primeira lembrança de seu médico é uma pessoa vestida de branco, acertei? Acho que sim. A vestimenta branca tem acompanhado a profissão médica por mais de cem anos, e também os demais profissionais de saúde.

Mas nem sempre foi assim, na antiguidade às doenças eram ligadas a espíritos sobrenaturais, aos pecados, as impurezas da alma e outras coisas que hoje achamos bem estranhas, então, as pessoas mais importantes da comunidade na Mesopotâmia, na Pérsia, no Egito eram os sacerdotes, a quem estava o cargo as curas, normalmente usavam roupas longas, sacerdotais.

Na Grécia, Asclépio, Esculápio para os romanos usavam túnica branca e exerciam seu mister em templos, extremamente limpos bem como Hipócrates, o pai da medicina. Galeno, o mais famoso médico de Roma usava também túnicas em cores claras.

A seguir veio à idade das trevas, aonde com peste negra temos a clássica figura do “Doktor Schnabel Von Rom” (doutor bicudo de Roma) com sua vestimenta longa e máscara em forma de bico de ave para visitar os doentes com a peste e uma longa vara para examiná-los, bem de longe. Nessa época as cirurgias eram realizadas pelos denominados barbeiros, sendo esta atividade desprezada pelos médicos, essas cirurgias eram amputações, sangrias aplicação de sanguessugas e outras coisas mais aterradoras, a anestesia não existia, depois contarei sobre a primeira anestesia.

Com o aparecimento das armas de fogo as guerras tornaram-se mais violentas e começou algum progresso na cirurgia, tem uma interessante sobre a cirurgia da fistula anal de um Rei francês, Luís XIV. Para depois.

No quadro “A lição de anatomia” de Rembrandt o médico aparece com indumentária escura com uma vistosa gola branca (a gravata da época). Os quadros clássicos “A visita do Doutor” de Frans van Mieris e “O médico Rural” de David Teniers mostram médicos que atendiam em roupas escuras, preferiam o preto, o verde musgo ou o marrom, por quê? Para esconder manchas de sujeira. Aliás, o grande cirurgião era aquele com uma espécie de guarda pó bem sujo com sangue, pus e outras sujeiras. Eram exibidas com orgulho!, Fato que começou a ser desmentido por Ignaz Philipp Semmelweis, médico húngaro que foi o pioneiro em procedimentos antissépticos.

Devemos, contudo, evitar o uso indiscriminado de aventais e jalecos nas ruas, o parecer 20/2019 do CRM DF recomenda que roupas laborais não sejam usadas fora do ambiente laboral, cuja função é a proteção de todos. o uso dessa maneira já provocou comentários desagradáveis sobre nossa profissão, aqui não os citarei.

O branco produz sobre nossa alma o mesmo efeito do silêncio absoluto e esse silêncio não está morto PIS transborda de possibilidades vivas (Wassily Kandinsky).

Lembro como hoje o jaleco branco, calça de brim branca, o estetoscópio pendurado no pescoço, motivo de orgulho e júbilo pela nobre profissão abraçada.

QUANTAS SAUDADES DO HUCAM (Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Espírito Santo).

*Fontes de pesquisa CREMESP Dr. Desiré Callegari e livro História da Medicina de Paulo Tubino e Elaine Alves.
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