Essa eu li num jornal, acho que já faz mais de trinta anos. Lembro-me da gênese dos fatos, quer dizer de pontos da narrativa, mas não dos detalhes. Foi na Coluna do célebre Sebastião Nery. E, salvo engano, no Jornal Estado do Maranhão.
Com o advento da Revolução de 1964, o Governo Militar nomeava prefeitos nas capitais, como também nomeava Governadores. MARCO MACIEL, em Pernambuco era um prócer do Governo Militar e foi guindado a PREFEITO do Recife. Maciel tinha um dileto amigo, “carne com unha” gente de proa, um executivo de nomeada com o qual guardava funda afinidade e reciprocamente.
E então ungido MACIEL, de graça, à Prefeitura do Recife, o seu AMIGO logo pensou com os seus botões: estarei no primeiro escalão, no primeiro time, na primeira hora. E assim esperou. Esperou, esperou, esperou e nada! E para sua decepção, nada de convite chegar.
Àquele época, salvo engano, os mandatos do Executivo iniciavam-se no mês de março. O AMIGO estava exultante! Confiante! Sua hora haveria de chegar. O convite haveria de chegar. E passa março e passa abril e passa maio e nada! E o temo vai passando. Quando chega em NOVEMBRO, o AMIGO, decepcionado e pê da vida, recebe um telefonema: Era MARCO MACIEL, convidando-o a assumir um posto do primeiro escalão daquela prefeitura que herdou de mão beijada do Governo Militar.
O AMIGO, decepcionado e sentindo-se duramente ferido pois não esperava, nem o silêncio prolongado, nem essa distância toda de MACIEL fez-se de rogado e então replicou: “Eu esperei que você me convidasse já naqueles dias da tua posse”. No que MACIEL replica: “Eu te deixei para novembro”. Aí o amigo contra-ataca: EU NÃO SOU HOMEM DE NOVEMBRO”. Segundo o cronista, a conversa teve fim, o convite teve fim e... a amizade de ambos também teve fim. E eu aqui... do outro lado do balcão... fico vendo o ópio, o veneno, a flecha que é o poder.
Hoje, quando alguém trata comigo e marca o trato para nove horas... dez horas eu replico: EU NÃO SOU HOMEM DE DEZ HORAS. E prossigo: que tratar comigo estarei ponto às oito horas (que é quando o expediente convencional começa, mas se for o caso – DESDE ÀS CINCO JÁ ESTAREI NO PONTO. E às dez horas, já estarei no meio do mundo.
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“...EU SOU CARA”
Argemiro de Bastião era conhecido como AGERMIRO. Argemiro era assim: Ele sorria da desgraça e com a desgraça. Procurava uma encrenca onde não tinha. Um dia ele chegou na casa da “Cafusa” e admirou veneradamente uma faca que a enxergou a um canto. Que ferro bonito! Apanhou a faca, contorcia em malabarismos por entre os braços e, extasiado, exclamava: Que ferro bonito!!!
No Cantagalo onde foi morar, arrumou uma encrenca. Na encrenca com a própria arma do adversário matou o seu contendor. “Tu me matou”, disse a vítima, no que Argemiro em sua defesa e sorrindo responde: “Tu mesmo que te matou”.
Argemiro foi a julgamento e passou uma temporada na penitenciária.
De volta à sua terra, ele capitalizava o seu tempo na penitenciária, qual diploma em seu currículo, contando suas loas e diabólicas vitórias na prisão. E contava sorrindo as peripécias e “vantagens”. Demais disso, dizia ele que na Penitenciária trabalhava na cozinha. Tinha lá os seus amigos, dizia-se “homem de confiança” e só comia do bom e do melhor. Mas deixava bem claro que “Penitenciária é lugar para homem e quem não é homem com H, não aguenta o sufoco que é penitenciária. Era aí onde ele se espelhava, se gabava!
E assim ele deixava um sorriso escorrer pelo canto da boca; sorriso que se espalhava na sua voz e por todo o seu semblante. Era como se batesse ao peito, exibisse sua perversidade e seus malefícios satânicos e dissesse em peito aberto:
”Eu sou o cara”. E era! Todo mundo lhe abria passagem. – Argemiro de Bastião, huuuum... ali só parece que tem parte com o capeta! Exclamavam as pessoas longe de Argemiro.
* Viegas questiona o social