O Jardim

Um amigo tem um pequeno jardim no quintal, que também é pequeno. Não há muitas flores, mas elas estão sempre por lá dando vida àquele minúsculo universo doméstico. São de várias espécies. Algumas só dão flores de ano em ano, outras o ano inteiro. O certo é que elas estão sempre por ali alegrando aquela parte da casa, dessas de conjunto. 

Como inevitável nanatureza a presença daquelas vivas flores atraem outros personagens, além da figura do meu amigo e da família dele. De inofensivos insetos, atépassarinhos. O cenário se completa. 

Concordamos que entre os visitantes o mais belo de todos é o beija- flor. Dois, me disse meu amigo, costumam bater ponto ali todos os dias. Um é chegado a marrom, o outro é verde prateado. Ambos de uma beleza ímpar, hipnótica. 

Meu amigo me contou ainda que acorda bem cedinho todos os dias para vê-los no ritual matinal do “beijar flores”. Ás vezes, a visita é tão rápida quanto o bater de suas asas, outras é mais demorada; eaí é possível arriscar até tirar um retrato deles, um verdadeiro desafio.

Dia desse meu amigo disse que ficou preocupado, pesaroso até. É que em determinada manhã “os meninos” não apareceram. Sabe o que aconteceu?  É que a moça que trabalha lá na casa dele, na melhor das intenções e querendo fazer uma boa ação, ao invés de podar as plantas da forma devida, exagerou no serviço. Como diria minha mãe, “não sobrou uma flor para remédio. ” 

A conclusão foi elementar.  O sumiço dos belos beija-flores tinha nexo causal com o desaparecimento das flores. Daí, decorreu horas de tristeza e reclamações. 

Em tom de consolo disse ao meu amigo, que é poeta, e tinha ligado para mim contando toda a história:  

-Veja a lição que fica disso tudo, meu amigo. Sem flor não tem beija-flor, eles não vêm.  É a mesma coisa com a poesia:  sem poesia, sem poeta, não há amor, porque o amor é poesia, poesia em movimento-
Duas semanas depois o celular voltou a  tocar. Do outro lado da linha: 

-Irmão, meu  pequeno jardim renasceu!

Os beija-flores voltaram.