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17/07/2023 às 17h38min - Atualizada em 18/07/2023 às 00h00min

Emergência climática pode canalizar milhões em recursos para etanol de milho na Amazônia Legal

Magnata do agronegócio nos EUA pretende alavancar investimentos “verdes” de governos e bancos para atingir emissões negativas de carbono com método que não tem comprovação de eficácia

Fábio Bispo, especial para o Joio e para a InfoAmazônia
Assessoria de Imprensa
Divulgação/FS

Por Fábio Bispo, especial para o Joio e para a InfoAmazônia

Na Amazônia e no Pantanal, o cultivo da cana-de-açúcar já foi abolido para evitar que a produção do etanol incentivasse o desmatamento e a invasão de áreas protegidas. Com a proibição da cana, o milho entrou em cena, especialmente no Mato Grosso. A produção do grão no estado quadruplicou em mais de uma década, de 9,58 milhões de toneladas em 2011/2012, para as mais de 46 milhões de toneladas esperadas para a temporada 2022/23.

Apesar de a FS alegar rigoroso controle ambental dos seus fornecedores de milho e eucalipto, O Joio e O Trigo identificou que os próprios executivos da empresa no Brasil estão ligados ao desmatamento ilegal no Mato Grosso e no Amapá, onde a companhia mantém negócios.

 

Fonte: IMEA, 2018

Em março deste ano, a FS foi habilitada no novo formato do programa RenovaBio, do BNDES, que fornece crédito com descontos nas taxas de juros para clientes que comprovam melhorias de indicadores ambientais. Além disso, desde 2020, a FS já emitiu 558 mil CBIOs, que são certificados de carbono por emissões evitadas no RenovaBio, sendo cada um deles equivalente a 1 tonelada de CO2 evitado.

A FS Bioenergia é fruto da união de Rastetter com influentes empresários do agronegócio brasileiro, entre os quais estão alguns dos maiores proprietários de terras na Amazônia, como o prefeito de Lucas do Rio Verde (MT), Miguel Vaz Ribeiro (Cidadania), e o ex-prefeito da mesma cidade, Marino Franz.

 

Rastetter inaugurou a primeira usina de etanol 100% de milho do país, em 2017. Foto: Reprodução/PBS

Rastetter não esconde a sua simpatia por políticos. Em 2016, despejou parte da sua fortuna no partido Republicano de Donald Trump. No mesmo período, atuou como conselheiro para o agronegócio do ex-presidente americano e tentou influenciar na política local de Iowa.

 

O americano foi homenageado em hospital em Lucas do Rio Verde, MT Foto: Ascom/ Prefeitura de Lucas do Rio Verde

Dias antes, Rastetter já havia recebido das mãos do vice-governador, Otaviano Pivetta (Republicanos), que foi três vezes prefeito de Lucas do Rio Verde, a maior honraria do estado: “Libertou os produtores de milho do Mato Grosso”, declarou o governador. O CEO da FS, Rafael Abud, também investiu em políticos. Na campanha de 2022 o empresário distribuiu R$ 250 mil em doações. Entre os candidatos que apoiou estão o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), responsável pelo projeto de lei que resultou nos fundos de investimento do agronegócio e que vai presidir a Comissão da Transição Energética da Câmara; Alceu Moreira (MDB-RS), que articula maior espaço para os biocombustíveis na economia do país; e o atual líder da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion (PP-PR).

Principal sócio do negócio de Rustetter para produção de etanol no Brasil, o empresário Marino Franz foi multado em R$ 793 mil por realizar manejo (desmatamento) de uma área de 792 hectares sem autorização dos órgaos ambientais em duas fazendas no Mato Grosso, em 2015. Natural de Santa Catarina, Franz iniciou seus negócios através de uma distribuidora de fertilizantes e agrotóxicos, e expandiu suas atividades para o mercado de etanol de milho e soja.

A corrida para construção de dutos em projetos para captura de carbono vem acompanhada de um prêmio que está associado aos milhões que essas companhias podem arrecadar.

Parte da falta de fé no projeto Midwest Carbon tem como motivador o histórico de sustentabilidade de Rastetter em seus negócios. A Heartland Pork Enterprises, sua primeira empresa de produção de carne, é acusada de expulsar do mercado agricultores familiares em Iowa – um mercado que ele passou a liderar, introduzindo o confinamento de suínos em larga escala.

 

Protesto contra o projeto de dutos em Iowa. Foto: Divulgacão

Eficiência climática contestada

Já no campo da ciência, o armazenamento e estocagem de CO² divide opiniões. A primeira delas diz respeito à eficiência desses projetos, que, para serem viáveis, teriam de incluir grandes operações, envolvendo diversas unidades poluidoras.

Mesmo sem regulamentação por aqui, a FS tenta licenciar seu projeto para captura e armazenamento de carbono, e já detém uma licença para fazer a perfuração de um poço de teste para sua usina em Lucas do Rio Verde. O licenciamento é conduzido pela Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso.


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