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06/04/2023 às 21h49min - Atualizada em 06/04/2023 às 21h49min

A palavra mata, mas também salva

Elson Araújo
 
Para quem gosta de escrever, não existe nada mais satisfatório do que um retorno, um comentário sobre o que foi publicado. Por menor e mais simples que seja a glosa, o autor fica contente e satisfeito. Pode ser de bem, ou de mal. O importante é saber que alguém leu o que foi escrito, e de alguma forma se sentiu tocado a comentar alguma coisa.

Ano passado, pela Lei de Incentivo Cultural Aldir Blanc, tive a oportunidade de publicar meu primeiro livro solo, Universo Aberto. Uma reunião de contos, crônicas e aforismos. Muitos dos textos, já publicados no nosso espaço de todas as semanas em O PROGRESSO.

O livro chegou ao Clube de Leitura da Biblioteca Maria Firmina dos Reis, da cidade de João Lisboa, entidade de um onde saiu, um ano depois, sob a batuta da socióloga Maria Natividade, o prazeroso convite para que fizesse uma espécie de lançamento/apresentação do livro. Já nem tinha mais exemplares, mas graça à minha amiga Giselda Castro, da Editora Estampa, onde o livro foi editado, deu-se um jeito e o evento foi realizado com sucesso.

A coluna de hoje é um resumo do que, ao final do lançamento, tive a oportunidade de falar às pessoas, de João Lisboa e Imperatriz, que ali estiveram para prestigiar o evento. Por intuição, acredito que vale a pena compartilhar com o leitor deste espaço.

A FALA DO AUTOR

Não há como as palavras iniciais não serem de gratidão. Obrigado ao Clube de Leitura da Biblioteca Maria Firmina dos Reis, na pessoa da professora Maria Natividade, por tão singela oportunidade de apresentar nosso livro.

Não sei o nome de todo mundo, mas fica o agradecimento a todos que direta, e indiretamente, contribuíram para a realização deste evento.

Gratidão aos familiares que também vieram!!

Conforme me ensinou uma amiga, aqui presente, a doutora Liana Melo, recebo tudo com amor, e devolvo com gratidão.

Sobre Universo Aberto, o nome é autoexplicativo a obra é nosso primeiro livro solo. Antes, só havia participado de antologias, e publicado nas páginas do Jornal O Progresso e nas redes sociais. Trata-se de um livro feito com muito carinho.  Poderia configurá-lo como um livro metafórico concebido a partir da exploração dos nossos cinco identificados e conhecidos sentidos. Desconfio que somos dotados de mais uns três, ainda não catalogados (risos), por meios dos quais é possível interagir com o mundo ao nosso redor, num movimento de troca, afinal, somos todos um.

Desde ontem fiquei a imaginar o que aqui falaria, além do exercício da gratidão. Já no finalzinho do dia, no exercício de interação com os sentidos, compreendi que seria interessante falar sobre o movimento das palavras. Os cientistas já descobriram que vivemos num mundo sistêmico onde tudo vibra e se comunica. Com a palavra, não seria diferente. Em qualquer formato, ela é vibracional.

Poderosa é a palavra, até no silêncio. Uma palavra mata, mas também salva. Desperta sentimentos, de amor e ódio, de construção e destruição.  Desperta amor, e devoção e até mesmo a ingratidão.

Na história da humanidade são assinaladas diversas revoluções, as quais mudaram ou influenciaram, sobremaneira, a caminhada do homem sobre a Terra. A cognitiva, a agrícola, a científica, a revolução industrial, para citar algumas. No entanto, e conversava sobre isso recentemente com o confrade Ribamar Silva, no meu entendimento a revolução mais importante que ocorreu no mundo teve início quando integrantes de alguns grupamentos humanos, numa visível tentativa de contar uma história, fizeram isso a partir de inscrições nas paredes das rochas e cavernas. Aqui mesmo, na nossa região, em Carolina, já foram encontradas algumas dessas inscrições que hoje atraem turistas e estudiosos de várias partes do mundo. Quantas histórias não estão ali encerradas, não é mesmo?

O País está cheio desses achados! Acredito que foi a parti dali, do exercício para interpretar os registros dos feitos das comunidades primitivas eternizado nas rochas, e do exercício  contínuo da compreensão daquilo ali grafado, é  que surgiram os primeiros escritores e os primeiros leitores, e o mundo não parou mais.

A humanidade passou a ser conduzida pelo verbo, ou seja, a palavra em suas múltiplas versões ou interpretações.

Hoje fala-se muito em tráfico de drogas, mas a história registra que já houve tráfico de palavras. Muitas palavras incendiárias, nascidas da oralidade e inquietações humanas, ganharam o mundo costuradas em casacos, fardas de soldados e outros esconderijos. Isso aconteceu muito no movimento pela emancipação dos nossos irmãos negros nos Estados Unidos.

A palavra mata, mas também salva.

Mas, aqui estamos nós hoje longe das cavernas, no entanto, de alguma maneira tentando, por meio da poesia, do conto, da crônica, registrar nossa história na expectativa de que esta encontre eco a partir de alguém que se interesse por ela, tente decifrá-la, e a partir disso quem sabe, também escrever e contar a sua.

Muito já foi dito sobre a palavra, nos diversos gêneros literários. Mas quero encerrar evocando a verdadeira poesia que é a abertura do evangelho de João. Ali é retratado um pouco do poder dessa palavra que hoje manejamos a partir do que falamos, do que escrevemos, do que ouvimos e do que lemos.

No começo aquele que é a palavra já existia. Ele estava com Deus e era Deus. Desde o princípio, a palavra estava com Deus. Por meio da palavra Deus fez todas as coisas, e nada do que existe foi feito sem ela.

A palavra era fonte da vida, essa vida trouxe a luz para todas as pessoas.


Como disse ao longo dessa nossa fala, uma palavra mata, mas também salva e que mesmo no silêncio ela exala e distribui poder, conforme é possível se extrair do texto sagrado, escrito há mais de dois mil anos.

Que a palavra, a boa palavra seja sempre cultivada, e fonte de vida, seja qual for o formato e que mude o mundo, mude para melhor.

Muito obrigado!!
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