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04/11/2022 às 23h29min - Atualizada em 04/11/2022 às 23h29min

Uma cidade, várias tribos

Elson Araújo
 
A gente estuda, ou já estudou que o homem é um ser sociável porque vive em grupos, junto a outros semelhantes. Esta definição, a do homem como ser social é bem velhinha, é do século III a.C.  É atribuída ao grego Aristóteles.  Acredito que se não fosse ele, outro observador social teria chegado facilmente a esta mesma conclusão. Augusto Conte, no século XVIII, portanto muito lá na frente, fez dessa matéria uma das bases de seus estudos. Antes dele, outro iluminado, dessa vez um poeta inglês que viveu entre os séculos XVI/XVII, o jacobita John Mayra Donne também já havia proseado sobre o tema, ao poemar que “nenhum homem é uma ilha”

Vez por outra tal frase costuma ser citada para demonstrar a aptidão natural do homem para viver em sociedade.  Vou até aproveitar a oportunidade para deixar registrado o trecho do poema de Donne, um dos maiores da sua época, de onde a famosa frase fora extraída.

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E é por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti. (John Donne 1572-1631)

O poeta, no contexto da época, referia-se ao absurdo que ele considerava a guerra civil travada em seu país nos idos de 1649. No entanto, ao longo dos séculos, o “nenhum homem é uma ilha”, com frequência passou a ser utilizado para destacar a necessidade intrínseca do não isolamento social do ser humano.

É sabido que tamanha foi a fama do poema de Donne que acabou por inspirar outras manifestações, como livros e filmes. Por quem os sinos dobram, por exemplo, tornou-se o título de uma das principais obras do norte-americano Ernest Hemingway.

O tema da crônica dessa semana surgiu de uma agradável conversa com o servidor público e produtor cultural Axel Brito durante “a caminhada nossa de todos os dias, na Beira Rio. Na ocasião ele destacava com um certo entusiasmo como a cidade está cheia de grupos organizados em torno de uma prática saudável, que é a corrida de rua, as inúmeras delas já realizadas por aqui, e como hoje elas se tornaram uma fonte e ponte para a conquista de uma boa saúde, novas amizades e até mesmo negócios. Brito citou nominalmente o empresário Darci Baiano que de simples praticante, hoje é um dos maiores incentivadores e organizadores das corridas de rua, no Estado.

Completei a conversa com meu amigo Axel acrescentando que Imperatriz é uma cidade de muitas tribos e que esses ajuntamentos comprovam o que aparentemente é uma obviedade, e já diziam o filosofo grego do século III A.c  e  o poeta inglês do século XVII, que o homem é um ser sociável, e que nenhum homem é uma ilha.

Lembrei ao Axel que além dos corredores, Imperatriz é cheia de diversos outros grupos onde as pessoas se sentem aceitas e pertencentes e que se agrupam em torno de um prazer, de um objetivo, de uma atividade comum; e que essa interação faz bem para saúde do corpo e da alma.  Aí aparecem as confrarias, a do Olimpão é um exemplo, os grupos de leitura, a galera do skate, que se reúne na Mané Garricha, e de onde brotou para o mundo a medalhista olímpica Rayssa Leal, a fadinha do skate. E tem ainda os ciclistas e os motociclistas. A cidade conta com diversos grupos dessas duas atividades. E antes que esqueça, aparece com muita força também o ativo pessoal do hip-hop.

Enfim, encerrei a conversa com o produtor cultural ratificando que Imperatriz é desse jeito, plural:  uma cidade que reúne todas as cores, todas as raças, todos os amores; uma cidade de todos os encontros, de encantos mil, com tribos de tudo quanto é canto e que é, sem dúvida, um delicioso pedacinho do Brasil.
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