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26/08/2022 às 23h14min - Atualizada em 26/08/2022 às 23h14min

O JULGAMENTO DE JÓ

Elson Araújo
 
Na disputa com Gênesis de livro mais antigo da Bíblia, o Livro de Jó é importante não só, no dizer de Alfred Tennyson, por ser o “maior poema dos tempos antigos e modernos”, mas pela sua constituição histórica. O Gênesis, pelas pesquisas realizadas até agora, teria sido escrito pelo profeta Moisés cerca 1400 anos antes do nascimento de Cristo. Pesquisadores foram a fundo, e mesmo com controvérsias, garantem que Jó foi escrito pelo menos 500 anos antes.

A obra inaugura os chamados livros poéticos e sapienciais da Bíblia, que chamam a atenção pela beleza, harmonia e emoção a partir da relação de amor entre Deus e seu povo, sem falar na expressão dos sentimentos mais verdadeiros para com o Criador. Jó, é assim, um livro cheio de sentimento e emoções. Mas não deixa de ser um livro também histórico, e até certo ponto atual, apesar de seus mais de quatro mil anos.

Quando se conclui a leitura de Jó aparecem logo mil perguntas. A primeira delas é quantas lições são possíveis extrair dessa obra?

Pergunto e logo respondo: depende de como a leitura é feita, e da forma como o leitor recebe, trata e reflete aquele texto do Velho Testamento. De pronto, vejo ali um julgamento! O julgamento de um justo e consciente cidadão da sua inocência, e que mesmo diante do sofrimento extremo em nenhum momento abriu mão de se manifestar/se defender, perante o Deus, que tanto amava, e os homens.

Lição nobre, a de jamais se calar diante de uma injustiça, principalmente quando a injustiçado é a própria pessoa.

Esta é apenas uma nuance do que pode ser extraído daquela poesia triste.  Jó, um homem reto, sincero, e temente a Deus e que   procurava sempre se desviar do mal. A trajetória de um homem cuja fé em Deus é testada ao extremo. Perde a família inteira, toda fortuna.  Fica na miséria e doente. E tudo porque o “cramulhão” numa conversa com Deus insinuou que a fidelidade dele residia, em outras palavras, ao fato de levar uma vida farta e abundante. Manipulador, Satanás convence a Deus a lhe autorizar estender a mão contra Jó e dele tirar-lhe tudo

“Toca-lhe em tudo quanto tem e verás se não blasfema contra ti na tua face” disse o diabo, levando assim o desafiado Criador a permitir que tudo de Jó, menos a vida, fosse retirado.

Infere-se que tal permissão só ocorreu por conta da confiança que Deus tinha em Jó, seu servo fiel.  Dessa forma, ele não O traiu no momento em que se insurgiu por conta da injustiça a que julgava submetido.

Veja que o carretel de desgraças contra o homem da Terra de Uz fora carreado por Satanás com a autorização do Pai. Tamanho sofrimento que em determinado momento o pobre Jó desejou até nem ter nascido.

A partir do toque do maligno inicia-se um verdadeiro julgamento. No tempo de Jó passar pelo que passou era sinônimo de castigo por algum pecado contra Deus, e nesse quesito ele dizia-se um inocente convicto a ponto de se insurgir, e em sua defesa questionar o Criador, e contraditar os amigos que o acusavam e o instavam a aceitar que havia pecado, e que pelos pecados estaria sendo castigado.
 
O que se desnuda no conjunto do texto é um verdadeiro julgamento. Jó aparece como o réu, seus os amigos como acusadores, Deus como o grande magistrado e Satanás como espectador e o verdadeiro causador de toda aquela desgraça.

Jó, mesmo depois reconhecendo/se arrependido das blasfêmias proferidas, deixou registrada sua indignação. Não se calou!

Outros questionamentos poderiam ser feitos, mas fica aqui só mais um, para encerrar?  Se Jó tivesse ficado calado e aceitado passivamente aquela desgraça que se abateu sobre ele será que o Grande Magistrado o teria perdoado e devolvido, em dobro, tudo que o diabo dele havia tirado?
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