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23/12/2023 às 00h00min - Atualizada em 23/12/2023 às 00h00min

Caminhos por onde andei

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

PAPAI NOEL... 

Li, com desdobrada atenção, por aqui, o texto de ELSON ARÚJO:  QUANDO DEIXEI DE ACREDITAR EM PAPAI NOEL. Elson diz que  “A ruptura com essa lúdica crença num personagem lendário da cultura cristã ocidental foi traumática. Numa só noite/madrugada fui acometido de sentimentos incompreensíveis para um menino, ainda na primeira infância. Devo ter chorado por pelo menos um dia. Tinha seis anos de idade, vivi um verdadeiro luto. Isso foi há 49 anos idos (1974), quando ELSON fingia que dormia aguardando PAPAI NOEL  com o seu presente debaixo do pé da rede. E... nada...

(É que naquela ano, o saxofonista e barbeiro ZUZINHA), seu pai, não dispunha da grana para a compra de presente para todos os filhos. Ressentido com PAPAI NOEL à falta do uma Camionete C-10, verde,  que gostaria de ganhar (fosse hoje poderia ser uma HILUX), acabou dançando na maionese. E haja ficar emburrado!  

Foi aí que entrou em cena a sua irmã, professora, que se desdobrou em explicações sobre a origem de tal presente que não tinha nada de PAPAI NOEL e sim vinha do bolso do próprio pai em carne e osso, com quem o Elson, certamente, contatava diariamente. De conseqüência, aquele ”generoso”  PAPAI NOEL, no imaginário do garoto, sentou na curva e perdeu-se dos agrados daquele que veio a se tornar o nosso “jurisfilófoso”, além de outros méritos.

ABRO PARENTE-SE: De lembrar também que, de uma só canetada, ELSON trouxe para a cena de suas Lembranças Noelinas, o nome do Prefeito Joaquim Balthazar, de Axixá do Tocantins-TO, assassinado por pistoleiros. Um crime (e processo) que tinha uns seis denunciados (envolvidos ou mandante (?), e que deu em nada. A pedido, ainda folheei os autos no pagar das luzes. Mas foi só isso. FECHO PARÊNTESE.

O tema mexeu comigo porque também em carne e osso tive minhas broncas com PAPAI NOEL. Foi assim: Cheguei a São Luís, por volta de 1957/58, ao 12 anos para o retrancado “Exame de admissão ao Ginásio”. Logo, onde? Na Esco0la Técnica Federal! Era eu um bicho do mato perdido na multidão, naquela ruazinha  em que escorria um riacho de esgoto a céu aberto. Era fim de ano. Lembro-me de tudo!

Ocorreu que a certa manhã, quando saí à porta, assim do nada, vi moleques brincando com seus brinquedos: Carrinhos, palhacinhos apitos, corneta, bolas. Um tempo de “Brinquedos Estrela”! Deles com vistosas  roupas novas, inclusive. E todos diziam que receberam aquilo de PAPAI NOEL, que lhes teria deixado debaixo da cama. Cada um contava suas vantagens. E eu só vendo e ouvindo. E a turma “zuando” com seus brinquedos. Até o “Mário Perigo”, famoso como  “moleque de rua” e exímio “driblador de bonde”, estava pelo meio. E eu só vendo e ouvindo aquilo tudo.

Ah! Éh?! Já fiquei na bronca porque PAPAI NOEL nunca fora à nossa casa e nunca me deu nada. Nem a mim nem aos meus irmãos. Só porque a nossa morada era uma esfarrapada casa de palha? Só por que ficava no interior? No  mato? Só por que a gente era pobrezinho e não tinha nada?

Achei então que aquele PAPAI NOEL de Mario Perigo, de “Luizinho Perdido” e dos outros – todos da cidade - não fora à nossa casa por puro preconceito, por causa da nossa pobreza. E fiquei pê da vida com Papai Noel. E mandei cartas um atrás da outra para os meus pais no interior, delatando a situação. E a minha mágoa.

Mais tarde, lá pelos 17/18 aos, quando concluí o Curso de Datilografia e, ao gosto da escrita à máquina de escrever, passei a fazer cartas para a casa paterna,à máquina,  sempre remoendo contra o preconceito de PAPAI NOEL. Achei que era pouco e logo que comecei a escrever os primeiros artigos para o Jornal, Papai Noel, estava lá, nas minhas flechadas. E foi bronca! E foi guerra! Te juro que eu tinha duros e graves amargores contra Papai Noel.

Ocorria então que todos os anos, final de ano, lá vinha a  imagem e as lembranças de Papai Noel e tudo recomeçava. Em seguida e sem mais demora, passei a observar que as minhas brigas com Papai Noel, resultavam em nada e que só eu perdia. E a cada final de ano era um desfecho negativo atrás do outro. Parece que nada dava certo para mim.

Resolvi então FAZER AS PAZES com papai Noel. E lhe pedi perdão. Vi então que as coisas melhoravam, contornavam-se.  E concluí que aquele Papai Noel era um sentimento cristão que povoava o meu (e nosso) imaginário. Que ele seria um enviado da CRIAÇÃO qual um bálsamo a curar nossas feridas e povoar o nosso imaginário e assim nos trazer presentes de alegria, de contentamento em nossa mente infanto-juvenil, de pés no chão, para que  continuássemos inocentes e afastados da culpa e do pecado. E quando pensava e praticava assim, logo as coisas melhoravam.

Hoje, Pai Noel e eu somos bons amigos. Não  há mais “reimas” nem aborrecimentos. Afinal esse mesmo Papai Noel,  já me deu vida e meios para conquistar os meus próprios horizontes. E... sem essa de ficar esperando Papai Noel deixar alguma coisa debaixo da minha cama. “Faz por ti que eu te ajudarei”, diz a velha lição. ditério.

Então, obrigado Papai Noel por você existir com a missão a que a vida te deu: Famoso, barbudo, cabelos brancos, vestuário do teu jeito, generoso com saco às costas e aquele sorriso:   HÔ, HÔ, HÔ, todo teu. Amém? Amém!!!´

 
* Viegas interpreta e questiona o social.
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