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07/10/2023 às 00h00min - Atualizada em 07/10/2023 às 00h10min

Caminhos por onde andei

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

VIDA REAL

O doutor simplesmente foi à casa do velho vaqueiro e, achando que teria vida fácil, chamou uma de suas filhas – uma linda mulher – e, direto: eu vim te buscar. Eu quero viver com você. Tô na tua e... tudo o mais.

- O quê? Isso não é assim. Não vou sair de qualquer jeito. Só sai casada, da casa do meu pai. Então casaram-se e foram viver. Ela uma gata inteira. Inteirona! Coisa de fechar o trânsito, dona que era daquelas linhas esculturais e daquele par de pernas e... tudo o mais.
Num belo dia maridão chegou em casa, assim um tanto “doidão” que era: “Eu não vou te enganar”. Tu não mereces. Mas eu estou apaixonado por uma colega (de profissão), uma amiga. Eu vou viver com ela. Eu estou me despedindo de você. Sumário. Desse jeito!

- Aí, com um filho, a mulher só queria uma pensão alimentícia (para o filho e para si),  daquele tamanhão, que só quinze mil reais que ela já recebia, não dava para nada. E haja cana de braço! Também, com aquelas linhas esculturais, aquele rosto lindaço, aquela sensualidade à flor da pele e aquele par de pernas!!!!!!!!!  sai  de cima. Quer dizer:  SAI DEBAIXO.

GARIMPO
O cara foi aventurar a vida no garimpo. Por lá, pegou uma malária de arrebentar as trompas. Na cidade para onde voltou, sem ninguém e sem nada, foi localizado por uma benfazeja senhora, quando tiritava de frio, ao relento, na rua. A senhora de mero espírito solidário dispensou-lhe assistência humanitária. E, sem mais demora, o sujeito melhorou.

Ao melhorar, acabou indo bater na casa de sua benfeitora, onde tratou com o seu (dela) marido. Maridão era um carcamano interesseiro em “escravizar” a quem lhe comesse do seu almoço. - Que tu fazes na vida? Perguntou. - Eu estava no Garimpo de Serra Pelada. E logo mandou aquele sujeito administrar a sua parte no garimpo fornecendo-lhe rancho, despesas e dinheiro para o sustento da “peãozada.”

O homem logo logo gritava com o patrão: Ta faltando isto, ta faltando aquilo. Desse jeito não dá. Ou toca o garimpo ou larga de mão. A esse ponto o patrão já estava nas mãos daquele sujeito. E para piorar a situação. Aquele que  tiritava de frio, faminto, quase  morto de forme e sede quando fora encontrado, conjecturava: Essa mulher nem me conhecia, nunca tinha me visto na vida, e dona de um par de penas como ela só, será que ela estava a fim de mim? Ele se perguntava. Assim são esses e outros tantos seres humanos. Se aveche não.

ERA VERÃO
Era verão. Eu estava naquela cidade da região do “Japão Maranhense”. Famosa e mal afamada. Na companhia do Clodomar, um veterano local, amigo e benfeitor de suas cepas. E fui bater na casa de um senhor que carregava todas as famas: pistoleiro, bandoleiro, sanguinário, brigador e matador. Mandava recado para desafetos para briga em dia e na feira. Sua modesta casa de palha  era sozinha e, basicamente, dentro do mato nas suas terras intocáveis.

Logo percebi que todos lhes tinham medo.  Eu, porém, nutria um interesse – em conhecer e conversar com aquele homem, de quem tanto ouvira falar.  E ele, sem mais demora logo me disse que um seu amigo e “compadre”, num dia, cedo da manhã, dele se aproximou e fez-lhe uma queixa: “compadre, eu queria conversar com você um assunto de família mas estou com cerimônia”. - ”Que que é isso, compadre, não se aveche, nós somos amigos, você pode falar.” - É  que esse seu rapaz aí, que você cria,  mexeu com a minha filha”, uma menina “tolinha” que eu tenho lá em casa. ”O quê compadre!? – “É isso compadre. Então, sentenciou o bandoleiro:  Negócio de família é sagrado”. A honra de família é o sangue. Tem que ser  respeitada. Custe o u custar.  Se aveche não compadre, eu vou dar um jeito. A esse ponto o bandoleiro já sabia que o “moleque”, estaria preso numa cidade mais adiante  dali a uma boa distância.

 E disse o bandoleiro: ”O menino era meu afilhado e minha cria, eu gostava dele  como se fosse um filho!”. “E então montei na minha burra, botei um canivete (amoladinho que era uma beleza), na cintura e me toquei. Lua bonita!, viajei a noite inteira,15 léguas (90 quilômetros). E cheguei lá na cidadezinha onde o moleque tava preso, de manhã cedo.  Chegue na Delegacia: Bom dia senhores! Os senhores me dão licença, vim aqui só dar um côro num moleque meu filho de criação e afilhado, que é para saber respeitar família alheia.

Abriram a porta. Entrei  no xadrez, fecharam a porta. E eu disse: meu filho não se mexa. Não se mexa que é melhor pra você. E CAPEI O MOLEQUE e botei sal pra não inflamar.  Isso é pra você nunca mais mexer com família alheia. Siga em frente nem olhe mais para trás. Que para trás você não tem nada, não deixou nada. Só os seus mal feitos.

-Pronto! Situação resolvida! E fim de conversa. Ainda comi um frito, no mesmo caldeirão, junto com um filho, tão bandoleiro quanto o velho pai. E peguei o carro do Clodomar, voltando por dentro de sua roça de abacaxi. Uma lavoura de fachada que, entre outras coisas, servia pra justificar a riqueza e o meio de vida daquele anfitrião.

* Viegas interpreta e questiona o social.
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