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16/09/2023 às 00h00min - Atualizada em 16/09/2023 às 00h00min

Caminhos por onde andei

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

CARTA ABERTA A JABUR SABAG

Meu preclaro amigo Jabur Sabag – peço que me receba com as minhas cordiais saudações e com a estima que sempre te devotei, ainda, quiçá, mesmo sem você saber.

Jabur, lá se vai no tempo dobrando as mangas do tempo aquele velho tempo, por volta de 1975, quando eu por aqui, tomando pé, quer dizer, amoldando-me ao social daquele tempo te conheci e quando a gente se cumprimentava num singelo olá /olá. E era só isso. Mas ainda assim, o suficiente para despertar em mim a simpatia e a estima que sempre devotei a você. E, nesse passo, a nossa inter-relação social.

Era um tempo de Boate Balaio, de Panificadora Dular, de Clube Tocantins, Boate Barranco, lugares inocentes e sociáveis em que a gente se cruzava e ainda que sem saber, consolidava-se a amizade do quanto pairava no ar e no meu ou nosso imaginário. E era só isso. Você, ao que me lembro, tinha um fusca e eu também tinha um fusca. Então, quando um fusca passava pelo outro, no ar uma “buzinada” e sua recíproca., E era só isso. Mas ainda assim, nessa simplicidade um liame saudável era a nossa rotina. E era só isso.

Guardo de você, Jabur, uma velha lembrança. É que numa tarde eu vi você na companhia do teu pai, naquele posto de combustíveis do final da Avenida Getúlio Vargas, à marginal da Rodovia BR-010. Tive a impressão de que ambos passavam  o local em revista. Pouco depois eu ouvia dizer que o posto era teu. E era só isso.

Anos mais tarde, tantos anos mais tarde, numa auspiciosa manhã de domingo, assim um tanto casual, estive nesse dito  posto e ali realizava-se uma Santa Missa. Você não estava. Falei com tua esposa; ela que a conheci na tua companhia, ainda nos tempos de Boate Balaio e Panificadora DuLar. Ela que justificou a tua ausência. Naquela Santa Eucaristia, ainda me lembro, serviram-se na Homilia, pedaços de pão convencional ao invés da Hóstia Consagrada. Achei a solenidade e o ato de uma cristandade e originalidade extraordinárias! E quando encerrou-se o Santo Ofício, eu estava exultante, leve e feliz, embora sentindo a tua sentida ausência.

O mundo continuou na giratória e eu via que não te via por aqui. Um dia, novamente, encontrei-me com tua esposa e perguntei por você. Ela, ao que lembro, me disse que você estaria “auto-exilado” em tua fazenda situada nas cercanias do vizinho Povoado do Bananal. E foi só isso.

Mais tarde, encontrando-me de passagem, com a eterna viuvez de tua irmã, Labibi, esta uma confreira, ainda solteira, de amena cordialidade, dos velhos tempos de Boate Balaio e Panificadora Dular, voltei a perguntar por você, ela me  confirmou que você estaria “recanteado” em tua fazenda, no Bananal. Disse-lhe que gostaria de visitá-lo. E nisso eu senti um brilho em seu olhar. O olhar entre distante e aproximado de uma Labibi em sua eterna viuvez. E fiquei de a ti, fazer uma visita. Vai hoje, vai amanhã; não vai hoje, não vai amanhã. E nesse vai e não vai, acabei não indo.

E para a minha dor vestida de mágoa e frustração, tomei conhecimento por terceiros, de que você, Jabur, fechou os olhos, despediu-se desta vida e partiu para sempre rumo à eternidade. Fiquei chocado! Doeu-me na alma não te ter visitado em tua fazenda, no Bananal, ali pertinho, qual me prometi. E naquele vai hoje, vai amanhã; não vai hoje não vai amanhã, acabei não indo. E você se foi e eu agora remoendo as minhas saudades e a dor de não te ter visitado. Logo eu que imaginava fosse em princípio recebido por um cachorrão....  rau-rau, rau-rau-rau - em tua fazenda e daí os meus medos. Mas nada disso justifica a minha mea-culpa, - fraco e omissa que fui. Mas que doeu, isso eu te afirmo: DOEU!

Agora, Jabur, por último, eu que em Santa Teresa, cumprimento ao manto da estima, do respeito e da solidariedade, a eterna viuvez de tua irmã Labibi que me parece materializada na fragilidade magrinha daquela criatura em si recolhida, então eu ouço as dedicatórias das Santas Missas que te são devotadas, aos domingos, na Matriz de Santa Teresa.

E a minha mente passeia e revê aquele velho tempo, que já vai dobrando as mangas do tempo, de quando a gente se cruzava aos cumprimentos, pelas buzinadas dos nossos fuscas, e outras vezes de mera passagem na Boate Balaio ou na Panificadora Dular, ou ainda que pelas ruas e lugares da vida por aí, quando agente ali, sem saber, dava vida a uma confraria e aos liames do social de um tempo que já dobra as mangas do tempo. Um tempo em que a gente era feliz e não sabia.

E eu que nesta vida fiquei para chorar os vultos que comigo conviveram ou que por mim passaram, sou eu agora, Jabur, chorando você. É para você agora, meu caro Jabur Sabag, aquele abraço que não te dei na tua fazenda, no Bananal., na visita que não te fiz. Saiba, que  tenho saudade e gratas lembranças de você. Tem nada não. Depois a gente se vê. Vejamos! Enquanto isso, Jabur, por aqui, a VIDA CONTINUA! Descansa em paz, meu amigo e meu irmão.

* Viegas interpreta e questiona o social.
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