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10/06/2021 às 18h52min - Atualizada em 10/06/2021 às 18h52min

Lições da pandemia: Estar perto não significa estar próximo; estar longe não significa estar distante

Iracilda Viana
A pandemia tem nos intimado a reinventar, criar e modificar muitos dos nossos hábitos e dos nossos contatos com as pessoas. A dinâmica dos relacionamentos conjugais, namorados, amantes e similares foram diretamente modificadas em função das estratégias de distanciamento social. Trabalho e escola foram para dentro de casa coexistindo em um espaço muitas vezes exíguo e que teve que ser adaptado a essa nova realidade. No casamento, casais passaram a conviver presencialmente 24 horas por dia. Essa convivência é na maioria das vezes mediada por fatores estressores que podem facilitar e ou intensificar desentendimentos. Pesquisa realizada na Universidade de Denver, EUA, no início da pandemia citada por Stanley e Markman (2020) demonstra que o fato do casal em função das regras de distanciamento estarem privados de atividades prazerosas como ir ao cinema, praia, passeios, sair com amigos, que enriqueciam o convívio conjugal, pode ter efeito negativo sobre a intimidade e sentimentos de ligação entre o casal. No Brasil, segundo dados do Conselho Notarial, no segundo semestre de 2020 foi registrado em cartórios 43,8 mil processos de divórcios, representando um aumento de 15% em relação ao mesmo período do ano de 2019. De acordo com o Portal do Poder Judiciário do Estado do Maranhão o Maranhão está entre os 24 estados com maior número de divórcios. Durante a quarentena decretada pela pandemia do novo coronavírus, entre os meses de maio e junho 2020, aumentou 79%. O número de casamentos registrados em cartórios do país despencou 33,3% em 2020 de janeiro a agosto, em comparação com mesmo período do ano anterior. Mas será que a pandemia é responsável pela separação de um casal?  De acordo com dados de um trabalho realizado pelo Núcleo de Pesquisa das Relações Familiares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2020, o isolamento social em função da pandemia não é culpado dos problemas conjugais. O resultado da pesquisa demonstrou que o isolamento social provocou um aumento da intensidade do clima emocional existente anteriormente entre o casal, ou seja, o que estava bom ficou melhor e o que não estava veio à tona. Então pode-se inferir que a pandemia potencializou os problemas existentes ao ponto de provocar uma separação, mas também parece ter potencializado os efeitos positivos da convivência do casal. Sabe-se que uma separação não ocorre quando se assinam os papéis, e de que também não há UM motivo para a separação acontecer. Separar é um processo contínuo, que vai minguando aos poucos e continua mesmo depois da assinatura do divórcio. Também é verdadeiro que a separação possa ter acontecido antes da concretude do divórcio e este apenas formaliza. De qualquer maneira, é bem verdade que quando nos casamos projetamos viver para sempre juntos. Não se casa para separar. O cenário pandêmico tem colocado a consistência dos relacionamentos à prova e a nossa capacidade de driblar as adversidades. A pandemia pode ser uma oportunidade para fortalecer a intimidade e proximidade entre os casais além de nos abrir para novos aprendizados em tempos de crise.

Iracilda Viana, psicóloga, Secretaria
Estadual de Saúde do Maranhão
Docente UFMA - Imperatriz
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