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19/04/2024 às 20h01min - Atualizada em 19/04/2024 às 20h15min

Mulher indígena conclui graduação aos 57 anos após superar desafios e incentiva jovens a estudar

Para ela, a faculdade é um caminho para as mulheres indígenas buscarem sua independência

Assessoria
Vanda Xerente - FotoDaniel dos Santos
 
A presença de povos indígenas no campus da Universidade Federal do Tocantins (UFT) em Miracema é tão forte que o nome de uma de suas unidades foi batizado como Warã, palavra em língua akwe, do povo Xerente. Os estudantes estão distribuídos nos quatro cursos ofertados: Educação Física, Pedagogia, Psicologia e Serviço Social.

O campus de Miracema tem proporcionalmente a maior presença dos povos indígenas da UFT. São 131 estudantes indígenas atualmente. Isso representa mais de 33% dos indígenas vinculados à instituição. Um dos motivos para que isso ocorra é que o município de Miracema está localizado próximo ao território do povo Xerente, no município vizinho de Tocantínia. E é de lá onde começa a história da estudante de Serviço Social Vanda Sibakadi Gomes da Silva Xerente.

Movida a desafios
Nascida na aldeia Cachoeirinha, no município de Tocantínia, a vida de Vanda é movida a desafios. O desafio atual está próximo de ser concluído. Ainda neste semestre, Vanda defende seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para ter seu diploma de graduação em Serviço Social aos 57 anos de idade.

Vanda foi criada pelos avós paternos na aldeia. “Meu avô era cacique da aldeia. Não tinha estudo, mas queria muito que eu estudasse e me mandou para a cidade com 11 anos para estudar. Perdi meus avós nesse período. E eles eram meu apoio. A partir daí foi um desafio para mim. Terminei meus estudos com o segundo grau profissionalizante em Técnico de Enfermagem”, afirmou.

E a menina xerente foi desafiar o mundo. Destino: estava indo para Brasília. Neste país lugar melhor não há? “Imagine: mulher, do então norte de Goiás e indígena. Mas foi um sucesso! Consegui trabalhar no Hospital das Forças Armadas por 13 anos e tive minha família”, disse.

 Após 15 anos acostumada com a agitação de Brasília, Vanda só retornou após a sua separação do ex-marido, mas agora com três filhos. E foi outro desafio. Porque o primeiro serviço foi de volta à aldeia, que nem luz não tinha. Atualmente, ela trabalha no Hospital Regional de Miracema e produz artesanatos feitos com capim dourado.

Aos 50 anos de idade, Vanda prestou vestibular para a UFT e passou em Enfermagem. “Mas eu não tinha como largar meu serviço em Miracema para fazer o curso em Palmas. Então preferi Serviço Social que eu conseguiria conciliar sem sair de Miracema”, citou.

Prestes a concluir sua graduação em Serviço Social, Vanda lembra do seu avô, que plantou a semente dos estudos com ela há décadas. “Eu queria que ele estivesse vivo hoje. Eu sei que uma parte da minha história depende do meu avô. Ele queria que eu estudasse. E quando eu fui para Brasília, ou eu estudava ou eu trabalhava. Então tive de trabalhar. Somente agora em 2017, mais de 30 anos fora do colégio, é que prestei o vestibular”, afirmou.

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