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16/06/2023 às 10h59min - Atualizada em 16/06/2023 às 10h59min

Síndrome da Fadiga Crônica: especialista aponta dificuldade em pesquisas e diagnósticos para a doença no país

De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a doença afeta mais mulheres de 40 a 50 anos.

Lívia Azevedo
Brasil 61
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

  
Uma doença de difícil diagnóstico e que merece atenção. A síndrome da fadiga crônica não apresenta uma causa médica específica para um tratamento definido. Por conta disso, existe proporcionalmente um número reduzido de pesquisas. O principal sintoma é o cansaço extremo. Mas diferentes fatores podem indicar a doença. Ela, geralmente, afeta mais mulheres de 30 a 50 anos. No entanto, pode atingir homens e outras faixas etárias. O doutor em endocrinologia clínica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Flavio Cadegiani, diz que, atualmente, existem poucas pesquisas sobre o tratamento de fadiga em si, porque normalmente o tratamento feito é o de uma doença que levou à fadiga.

“Fazer pesquisa clínica em síndrome da fadiga crônica é muito difícil porque, por definição, não existe uma causa médica palpável que você consiga tratar e cada pessoa afetada pela síndrome da fadiga crônica tem uma combinação única de alterações que não são tão tangíveis em exames de sangue, por exemplo, e existem muitas formas de melhora também”, relata.

Segundo o endocrinologista, pela síndrome ser pouco estudada atrasa a descoberta de tratamentos. “Você não tem um tratamento que provavelmente vai ajudar a todos porque ela é multifatorial então você tem um tratamento que vai ajudar mais alguns do que outros então isso acaba desencorajando a pesquisa clínica na área”. Cadegiani também revela que, até o momento, nenhum medicamento provou sua eficácia no tratamento da síndrome. “A gente não vislumbra algum grande medicamento que venha a melhorar o quadro de fadiga... os medicamentos testados eles não têm grandes resultados porque ajudam só uma parcela das pessoas”, lamenta.

A síndrome da fadiga crônica tem como principal característica o cansaço extremo. Ela pode perdurar por pelo menos seis meses, não tem causa aparente e não melhora com repouso. “Ela afeta o funcionamento mental e físico, você também tem quadros de dores principalmente musculares e tem sintomas de sono frequente e alterações de humor”, informa o médico.

O que pode levar à fadiga?

De acordo com o médico endocrinologista, existem mais de 100 causas de fadiga. “Podem ser má qualidade do sono, alterações hormonais, problemas da tireoide, início de menopausa, baixa de testosterona em homens. Além da falta de vitaminas - B12, ácido fólico, vitamina D - e desnutrição”, exemplifica. Já as causas de fadiga crônica ele diz que estão mais relacionadas a estados crônicos de desidratação; doenças autoimunes não investigadas; problemas pulmonares, cardíacos, neurológicos entre outros. 

Diagnóstico e tratamento da síndrome da fadiga crônica

A Síndrome de Fadiga Crônica não tem causa médica detectável. Segundo Flavio Cadegiani, é uma síndrome com diagnóstico de exclusão. “Quando você exclui causas de fadiga crônica médicas, causas médicas de alterações nos exames, alterações bioquímicas, alterações em imagens, e não encontra nenhuma causa, trata-se da Síndrome de Fadiga Crônica”, destaca. Ele diz que, neste caso, os médicos trabalham para diminuir a intensidade dos quadros de fadiga e a frequência com que essas fadigas vêm. “O principal é tratar a causa base da fadiga. Se for sono, usar todas as modalidades de tratamento de sono; às vezes algum tratamento até farmacológico de curto prazo; higiene do sono, que é fundamental. Se forem vitaminas, hormônios, fazemos tratamentos para melhorar os níveis de energia. Às vezes, a pessoa entra em um quadro em que que tratar a causa base não ajuda em 100%. Nestes casos, a gente prioriza otimizar alguns aspectos médicos para conseguir tirar a pessoa da fadiga pelo menos temporariamente”, explica o médico.

Impactos na sociedade

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, Marco Antônio Araújo da Rocha Loures, além dos transtornos físicos, a síndrome ainda pode trazer consequências econômicas e sociais.

“Não se tem ainda um impacto econômico, mas com certeza ele é grande porque existe um afastamento do trabalho, por um tempo prolongado, não é um afastamento de uma ou duas semanas é um afastamento de meses e muitas dessas pessoas recebem pela Previdência. E, logicamente, acaba tendo um impacto muito grande porque também não estão produzindo na sua área de trabalho”, avalia. 

O médico reumatologista lembra que a síndrome da fadiga crônica é um sintoma comum a diversas doenças, portanto, quanto mais precoce o diagnóstico melhor o tratamento e a evolução.

Projeto na Câmara regulamenta tratamento no SUS

Um projeto que regulamenta o tratamento de fibromialgia e fadiga crônica no Sistema Único de Saúde (SUS) está em andamento na Câmara dos Deputados. Atualmente, pacientes com essas doenças já têm direito a receber atendimento integral pelo SUS (incluindo tratamento multidisciplinar nas áreas de medicina, psicologia e fisioterapia), acesso a exames complementares e a terapias reconhecidas, inclusive fisioterapia e atividade física. Mas, com a aprovação do projeto, essa garantia poderá ganhar status de lei. A novidade da proposta é a inclusão do acompanhamento nutricional e do fornecimento de medicamentos.

O PL 3.525/2019 foi aprovado no Senado em março deste ano. Entretanto, uma vez que a matéria foi modificada no Senado, acabou retornando para nova análise da Câmara. Atualmente, o projeto aguarda parecer do relator na Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família (CPASF).


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