FUI AO CEMITÉRIO...
... no dia 02 de novembro... Dia de Finado!
Você se acha insubstituível? Visite o cemitério!
Por que fui ao cemitério?
Por entender que há uma crença existente e focada em alusão entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos e, no espaço do cemitério; na medida de cada recinto a elasticidade da vida ao subjetivar as memorias e lembranças do seu ente querido.
Andando por aquela cidade composta de casas com arcabouço da eternidade; umas construídas com sinal de posses e outras feitas com aceno de baixa renda; como mostra os protótipos dos dormitórios perpétuos; por sinal, também, sem plano diretor nas suas edificações.
Foi inaugurado há 134 anos [1889], numa área de 10.000m2, cognominado de “São João Batista,” para atender a demanda daqueles que partirão sem dia mês e ano previsto; certo de que vão chegar até lá; para este ou para outro com alcunha diferente.
Ali é um território residencial onde reina o mais absoluto silêncio… com suas exceções, como exemplo: no transporte fúnebre para nova e infinita morada; na despedida há muitas lágrimas, umas suportáveis e outras escandalosas, com sentimentos duráveis até 07 dias de sofríveis exéquias.
Passando por esse remorso – viúvos, viúvas e filhos - já estão vagando em outros hemisférios à procura de outras ramas para lhes assegurarem libidinosamente e financeiramente para continuação do incitado banzeiro nostálgico.
Bom! Vamos deixar de “lero-lero” e seguir viagem...
Trilhando pelas ruas tortuosas da necrópole por falta de topografia na época, até chegar ao lugar onde o velho “guerreiro” estar guardado para sempre; viveu a vida da maneira como planejou; sofreu pouco, não teve o dissabor de enterrar nenhuma cria sua...
Visitei a morada da mamãe, que foi premiada para residir naquele condomínio que não aceita permuta de inquilino..., mas consente agasalhar outros depois de cinco anos de residência; juntando de lado o que sobrou de 206 ossos do corpo sepultado por consideração e pedido familiar… é o coração de mãe! Até depois de morta.
Como se fosse acomodar os utensílios no apartamento sempiterno.
Andei, observei, analisei e comparei: como a vida é surpreendida pelo puro esquecimento do tempo… momentaneamente... só na reminiscência.
A vida e morte constituem os limites extremos de existências humana nesta terra cantada em prosa e desencantada ao assoprar da luz da vela [vida] e caminhando para o endereço de outro oriente desconhecido.
Como bem sintetizou o poema de João Cabral Neto – vida e morte... uma estrofe só.
“Nenhum dos mortos daqui
Vem vestido de caixão.
Portanto, eles não se enterram,
São enterrados no chão”.
Pois, então, diante desse silêncio ocupacional, com mansões e casebres, mas com os “patrimônios” das mesmas espécies e com o mesmo valor venal.
Pelo qual, fez lembrar qual é o significado de “A Finitude”?
Qualidade, propriedade....
- é ter a consciência de que o amanhã pode não chegar. Que “amanhã” pode ser tarde demais... é que a vida nos traz no dia a dia em todas suas oportunidades.
A filosofia nos ensina, que:
... a gente aprende com a dor, o que a felicidade não pode ensinar....
O campo-santo, o mais velho da cidade… todos ali sepultados tiveram suas histórias, umas mais e outros menos; mas continuam com laços familiares e sociais como referência, independente, do designer da cripta [túmulo] que terá o seu repouso para sempre.
Quantas personalidades importantes: prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, poetas, escritores, religiosos, políticos, educadores, médicos, estão acolá deitados para a imortalidade… até porque a morte não respeita diplomas, posições sociais e nem credenciais… ninguém é melhor do que ninguém.
Esses são insubstituíveis; temos certeza de que não serão jamais substituídos ou trocados... agora, não é só em cemitério não… o governo, políticos, órgãos estatais, galhardamente, cheios de “imprescindíveis” também (””) como aparência ilusória.
Nesse trajeto de finamento do início e do fim; lembrei-me do que disse um pensador sobre essa viagem sem retorno...
“Não é difícil morrer nesta vida. Viver é muito mais difícil”.
“A morte é só uma mudança de estado; depois dela, passamos a viver em outra dimensão”... ou melhor traduzindo… é um desencaixe sem volta.
Diante dessa indiscreta ressaca de saudades e separações de nossos entes queridos… concluo o meu pensamento neste momento com esta composição contextual na visão de Machado de Assis...
“A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal”.
Um Bom Final de Semana.