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25/09/2021 às 00h00min - Atualizada em 25/09/2021 às 00h00min

Voa meu pensamento, voa!

(Este texto foi criado, na origem para a minha crônica, no rádio/AM, porém INÉDITO até aqui. De sorte assim que não se trata de um texto “requentado”, embora na sua vocação, seja para o rádio. )

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.


  
Falando nisso, pensei comigo: “Estou esquentando muito meus textos para o JORNAL, vou escrever um texto originário, específico para o JORNAL e escrevi “VOA MEU PENSAMENTO, VOA”, num relato que mostra a minha saga, ao puro pensamento, “voando” entre mangas e mangueiras, nas alturas. E olha que são várias! E olha que até faz tempo!

Te juro, gostei da conclusão da obra mas... ficou a cara “cuspida e escarrada” de um texto para o RÁDIO. Olha o drama. E então fiquei na minha e só depois mandarei para O PROGRESSO.

Agora, escuta só! Estava dia desses na “Baixada da Rua Rio de Janeiro”, setor do Maranhão Novo/Entroncamento, por aqui e... quando me dou por conta, olha o que eu vejo lááá em cima: Uma mangueira com INACESSÍVEIS e ESTONTEANTES e MARAVILHOSAS mangas vermelhas, de um vermelho escarlate e incandescente lá em cima! Já fiquei num pé e noutro...

O conjunto entre os pontos vermelho/escarlate das mangas e o verde viçoso e INENARRÁVEL da folhagem, como num tecido espesso suspenso nas alturas, aquilo me deixou levitando no ar. Lembrei-me então das mangas e mangueiras – lá em cima – que escrevi em VOA MEU PENSAMENTO, VOA. Era como se quisesse emendar o texto, aproveitando aquela PRECIOSIDADE.

Ato contínuo, uma IDEIA INSANA toma conta mim. E eu de puro egocentrismo, logo pensei: “Vou propor comprar essas mangas”. Mas aí... quando vou ver, a casa está fechada e tem uma placa: “VENDE-SE”. E eu que estava levitando no ar, ao desvario, como que fora de mim, por aquelas LINDÍSSIMAS MANGAS de um vermelho/escarlate e tudo num instante, voltei a pisar ao chão. E  na casa fechada, lá em cima, na parede, uma repressora placa: VENDE-SE. Mas, ainda assim não vou desistir: vou ligar para o número indicado na placa.

- Não por egoísmo. Mas foi com essa obstinação que deixei a roça de capina lá no sertão para me tornar advogado, aqui na cidade. No grito, na marra, na raça e no tapa!

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LEMBRANÇAS DE UM FIM DE TARDE
Era um fim de tarde. O sol caía lento no horizonte.  Ao sair da lavoura do meu pai, naquela tarde, - da porteira (que compõe a cerca) olhei para trás e vi uma planície amarelo-dourada, da roça de arroz do meu pai. Fiquei fascinado, com aquela riqueza, feitas de caprichos. Capricho do meu pai, capricho da natureza. Ao mesmo tempo em que eu me questionava sobre a dura luta – o serviço pesado que é a lida numa roça, num roçado. E saí dali conversando com o meu silêncio, que gostaria de descrever numa reportagem, qual nas revistas da época Manchete e O CRUZEIRO - feitas de tantas ilustrações e fotografias. Lembra-se das revistas Manchete e O Cruzeiro?

E segui com esse ideário na mente. Lá adiante o Rio Grande que ali chama-se RIO E DOCA, em homenagem ao seu benfeitor o meu avô Doca Barros estava com água nas alturas. E eu um garoto, 13 / 14 anos, 3ª ginasial, que já vinha da dura luta do roçado, agora enfrentando, sozinho, a difícil travessia sobre a pinguela com animal a nado. Na mente o ideal de uma reportagem na revista Manchete com fotografia e tudo, sobre tudo aquilo ali. Um documentáááário! Ainda me lembro dessa tarde - ano 1958, 59, por aí assim.

E assim passou-se a minhas 3ª série, passou aquela lavoura de arroz, passou o meu pai, passou o meu a avô, passou a Revista Manchete. O Rio de Doca permanece. E se eu não escrevi nem vi publicada a matéria que idealizei naquele fim de tarde, escrevi, porém, outros textos relatando semelhantes situações e caprichos e a dura luta do roceiro na sua roça, sua lavoura e meio de vida.

Agora naquele meu chão baixadeiro, acaba de passar o corte (a colheita) do arroz. Agora mesmo a luta é com a ROCINHA – uma roça pequena, “temporona” que aproveita a estação, ou como ali se diz “o abaixamento” – é que vai-se deixando o inverno e vai chegando o varão. A rocinha é uma roça de mandioca, mandioca de fazer farinha. Farinha, ali, é o dinheiro do “de comer”; do viver. O pão nosso de cada dia.

E o meu pequeno Povoado laranjal, um polo de casas de farinha. Laranjal  que na minha criancice tinha sete casas hoje tem 22 moradias. Mas ainda assim, as coisas mudaram: tem uma estradinha carroçável, tem luz elétrica, tem aposentadorias rurais; dinheiro pequeno corre de mão em mão. Os tempos mudaram. Só não mudou o Rio de Doca e paixão o amor que tenho pelo meu pequeno Laranjal. Laranjal dos meus ancestrais.

A este tempo, no meu Povoado Laranjal, os lavradores ocupam-se também da farinhada. Farinhada, um serviço duro, das cinco da manhã às dez da noite  - uma crua luta pela sobrevivência. Mas essa é a lei da vida.

Agora a propósito deste texto  eu me lembro daquela fim de tarde, 3ª série ginasial, 13, 14 anos de idade depois de um duro dia se serviço, a contemplar a lavoura de arroz Do meu pai, seguido pelas agruras, já no começo da noite, da travessia sobre o Rio Grande e o persistente desejo de escrever um tema – como já o fiz tantas outras vezes e refaço agora, 62 anos depois, nesta PÁGINA DE SAUDADE!!!
  • Viegas questiona o social
 
 
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