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17/05/2024 às 16h44min - Atualizada em 17/05/2024 às 16h44min

Crônica da Cidade

AURELIANO NETO

AURELIANO NETO

Doutor Manoel AURELIANO Ferreira NETO é magistrado aposentado do Tribunal de Justiça do Maranhão, e membro da AML e AIL - [email protected]

Sean Connery - Bond..., James Bond!

Anos 60; cinemas de rua: Éden, Cine Teatro Arthur Azevedo, Ryalto, Rival, Rox, Cine Monte Castelo, Rex e, no Anil, Rivoli, bem distante para uma cidade, como a velha São Luís, onde o deslocamento era feito por linhas escassas de poucos ônibus e bondes – o meio de transporte mais popular. Eu e a minha patota (ainda havia patota!?) freqüentávamos, a depender do escasso e suado dinheirinho, o Éden (um luxo para os sábados e domingos), o Ryalto (com mais assiduidade), na rua do Passeio, e o Rival, na esquina com a rua Grande. Os filmes: seriados e um faroeste, com Alan Ladd, John Wayne, Burt Lancaster, Errol Flynn, o eterno Robin Hood, ou alguma grande fita (?) que passava na semana antecedente no Éden e, na seguinte, nos outros cinemas, como o Rex, do João Paulo, bem próximo a uma para de bonde. O cine Rex, uma aconchegante sala de cinema, com uma larga entrada e um som dos melhores da época. Era prazeroso percorrer aquela distância para, numa soirée, num tranqüilo e ensolarado dia de sábado, assistir a um bom filme, que não se conseguira ver no Éden, da rua Grande. Como perder um 007 Contra o Satânico Dr. No? Como deixar de admirar a beleza explícita e sensual de Ursula Andress?

Por essas e outras, vêm-me à lembrança aqueles felizes anos 60, ou porque não terminaram, ou, se terminaram, não deveriam terminar, nas clássicas e popularizadas expressões de Zuenir Ventura e de Joaquim Ferreira dos Santos, que as imortalizaram nos títulos de suas obras em que tratam dos anos de 1958 (o ano que não devia terminar) e 1968 (o ano que não terminou).

My name is Bond, James Bond. O dito frasístico que se tornou a marca de 007, personagem-herói dos filmes do agente secreto inglês, que ficou famoso no mundo do cinema e nos sonhos de uma juventude que vivia de um herói charmoso e imbatível. Bond, James Bond, assim se apresentava o infalível ídolo da espionagem, que encantava jovens, adultos e velhos, e desafiava e vencia todas as mentes e males satânicos que punham em perigo os valores mais caros do universo ocidental. 007 ou James Bond enfrentava todos esses perigos, apenas fazendo uso de uma reles e inofensiva pistola semi-automática – em comparação para esses nossos dias de violência em que vivemos -, sem recorrer qualquer outro instrumento de defesa ou ataque, a não ser o charme e a sagacidade pessoais. Superava todas as armadilhas, provocadas pelos diabólicos chantagistas atômicos, trazendo para a tela os conflitos que marcavam a guerra fria, atualmente mais quente do que nunca.

Sean Connery, ator falecido aos 90 anos de idade, foi o primeiro James Bond. E eu direi: o primeiro e o único. Foi o que melhor interpretou o agente 007. Inesquecível. Os cinemas lotavam. Da primeira à última cadeira. Não se tinha tempo sequer de ficar na sala de espera. Comprava-se o ingresso. Entrava-se e, logo, ia-se em busca da comodidade de um bom lugar. Aguardava-se inquieto o início do filme, que, desde as cenas de apresentação, despertava o espectador para a grandiosidade das aventuras que viriam. A vinheta musical, as cenas de Bond fazendo manobras com a pistola; depois, as mulheres, algumas lindas e sensuais, outras tão feias quanto satânicas, ou frias e cruéis. Atores como Robert Shaw, que, nos anos 70, foi um dos protagonistas no filme O Tubarão, e Ursula Andress, lançada para fama no primeiro filme da série, Moscou Contra o Satânico Dr. No, onde a atriz suíça aparece com um estreitíssimo e, para sua beleza, confortável biquíni branco, expondo as suas sutilezas estéticas que a eternizaram.

Connery, apesar de todo o sucesso dos filmes de 007, bem como de outras realizações cinematográficas, só veio a ser agraciado com o Oscar de melhor ator coadjuvante, em 1988, pelo papel que fez no filme Os Intocáveis. Recebeu outros prêmios, como três Globos de Ouro. E, embora tenha sido reconhecido como um grande astro do cinema, desde quando estreou na série representando James Bond, transformou-se, no curso da sua vida artística, num grande ator, privando do respeito de diretores, de companheiros de profissão e dos seus fãs.

Não perde significado o fato de 007 representar o eterno conflito entre o bem e o mal. No plano político, reflete a luta entre o capitalismo, como símbolo do bem e, na defesa do sistema, James Bond, a digladiar-se com o comunismo, representado pelos interesses soviéticos. O filme Moscou Contra 007, além de um belíssimo fundo musical, configura essas contradições entre as duas superpotências, que viviam, naqueles anos, o antagonismo da guerra fria. Bond, James Bond é o mocinho, muito bem caracterizado por Sean Connery, que, fazendo uso de todas as estratégias e da sua infalível pistola, vai eliminando os terroristas do mal; nesse filme, a grande e cruel vilã é organização Spectre. A bond girl é a lindíssima atriz Daniela Bianchi, que, como ocorre nos filmes de Hitchcock, todas louras, sem nenhuma concessão para outras epidermes. Nesse conflito, as louras, ou louríssimas, têm ascendência sobre todas as outras.

Projetando-se para fora da tela, o bem e o mal ainda não conseguiram se entender. E isso desde quando o paraíso deixou de ser paraíso. Como afirmam, com inteira convicção, Israel e Moscou, guerra é guerra, e só acaba quando termina. E quando termina? Nem Zuenir Ventura, nem Joaquim Ferreira dos Santos, nem 007 sabem a resposta. Talvez, penso eu, quando tudo acabar.

 
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