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25/08/2023 às 19h12min - Atualizada em 25/08/2023 às 19h30min

As árvores da Praça Castelo Branco, hoje Praça da Cultura Renato Cortez Moreira

Fernando Santos Cunha Filho
Praça da Cultura nos dias de hoje: local traz lembranças que marcaram gerações de crianças e jovens da cidade - Fotos: Biblioteca IBGE
  
Lembrar das árvores que fizeram parte da minha infância é fazer uma viagem ao passado, é reviver ótimos e inesquecíveis momentos. A praça ainda existe, não como antigamente, suas velhas e (minhas) amadas árvores do passado não mais existem, foram substituídas ao longo do tempo por outras árvores.

Então, voltaremos ao passado, ao meu passado, quando tinha 3 e 4 anos de idade, visitei esta bela pracinha pela primeira vez, fiquei extasiado com tudo que meus olhos alcançavam, o parquinho colorido, os belos e resistentes bancos de granito, os jardins gramados, os blocos sextavados de concreto que formavam o piso, e, enfim, as pequenas árvores cercadas por grades de madeiras que as protegiam. Esta pracinha acompanhou e ainda hoje acompanha a minha vida, e a de muitos adultos da minha geração. Os bancos de concreto eram nossas “mesas de jogos”, quando crianças, pois ali eram a base para jogarmos o famoso jogo do bafo, com as figurinhas dos álbuns que constantemente eram vendidos na cidade. Juntávamos as dezenas de figurinhas repetidas e, nestes famosos bancos, arriscávamos a sorte. 

Quando adolescentes, nossos corações aceleravam a “mil batimentos” nos encontros românticos que marcávamos na pracinha, e tinham estes já falados bancos como testemunhas mudas de tudo que acontecia. Bons tempos. E as árvores? Já adultas, estavam ali a presenciar tudo, cúmplices em seu silêncio eterno. Estas árvores, que infelizmente não recordo a qual espécie pertenciam, produziam umas flores vermelhas em cachos, que quando ainda eram botões, possuía em seus interiores, um líquido incolor e inodoro, que alguns garotos sabiam como ninguém espremê-los em longos jatos, que nos deixavam molhados completamente quando atingidos por este líquido, mas ninguém reclamava... Coisas de meninos... 

Falando da Praça da Cultura Renato Moreira, antiga Praça Castelo Branco, não posso deixar de escrever sobre o Cine Muiraquitã, que tanta alegria proporcionava a criançada, aos jovens e aos adultos da pequena Imperatriz. A praça ao lado do cinema, ou o cinema ao lado da praça? Não importa, mas o que importa é que a pracinha funcionava como uma ampla sala de espera deste templo da sétima arte. Nas sessões matinais e vesperais, as crianças faziam a festa no parquinho, esperando o início do filme, e quando entravam no cinema, estavam suadas e cobertas de areia, mas isto nada significava diante da magia da grande tela. Nas sessões noturnas, os jovens aguardavam conversando, paquerando e, alguns mais afortunados, com seus românticos pares, namoravam sentados nos vários bancos que pontuavam o local. Era um aprazível ambiente público. Todos atentos, esperavam a extensa programação musical que precedia o início das sessões, onde o locutor, com sua grave voz colocava músicas ofertadas pelos ouvintes, a maioria moradores das redondezas da praça, as canções do ídolo Roberto Carlos dominavam a “parada” de sucesso. Quando tocava a música que todos conheciam como “prefixo”, todos corriam para dentro do cinema. Pracinha, pracinha dos meus sonhos, da minha infância, do jogo do bafo, das figurinhas repetidas, do parquinho colorido, dos primeiros encontros da adolescência e, principalmente, das belas árvores.

Hoje, quando passo por ela, não há como não viajar ao passado, pena que tão abandonada e suja, logo tenho que voltar a triste realidade do presente.

O texto acima é um dos vários textos que escrevi, que fazem parte do meu livro As Árvores da Minha Vida, lançado no Salão do Livro de Imperatriz, SALIMP, no ano de 2017, livro este no qual narro um pouco da minha história, junto com a Imperatriz da minha época de infância, adolescência e juventude, tendo como referência as árvores que pontuaram minha vida naquela época.

 

SOBRE O AUTOR

Fernando Santos Cunha Filho é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Imperatriz (IHGI). É escritor e pesquisador. É autor do site Museu Virtual de Imperatriz É acadêmico do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão.

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