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18/08/2021 às 19h31min - Atualizada em 18/08/2021 às 19h31min

Manoel da Conceição, líder da luta camponesa no Brasil

Carlos Leen
Manoel da Conceição - Foto: Divulgação
 
Na manhã desta quarta-feira, 18, o líder camponês Manoel da Conceição descansou em paz, após quatro semanas internado numa Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Macrorregional de Imperatriz.
Com 87 anos completados em 24 de julho, Manoel da Conceição foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. 

Em fevereiro de 2018, escrevi a resenha abaixo, sobre o livro biográfico da vida de Manoel da Conceição, escrito pelo historiador Adalberto Franklin, que também já nos deixou e fez sua passagem para outra plano superior. Adalberto havia prometido uma segunda parte desta biografia de Manoel. Agora com ambos na graça do Pai, o projeto não se viabilizará. Uma pena…

Antes de fazer a passagem para o plano superior, o historiador Adalberto Franklin  nos deixou talvez sua obra mais vigorosa. O livro “Manoel Conceição: sobrevivente do Brasil” (Ética Editora, 348 páginas) traz a biografia do líder camponês do interior do Maranhão, que junto com demais companheiros fundou vários sindicatos rurais e mostrou ser possível resistir as injustiças do latifúndio em plena ditadura militar.

Perseguido, preso e torturado, Manoel Conceição teve a perna amputada devido a sequelas de um tiro que levou em das umas tantas emboscadas que sofreu. Graças à intervenção do Papa Paulo 6° escapou para o exílio e foi morar  em Genebra, na Suíça, onde seu depoimento ganhou o mundo e as páginas do livro “Cette terre à nous”, da jornalista Ana Maria Galano, publicado na França.

(“Esta terra é nossa” só seria publicado no Brasil em 1980, pela editora Vozes). 

A saga no livro de Adalberto Franklin traz com riqueza de detalhes os primeiros contatos de Manoel com as injustiças sociais do campo, mais precisamente na região do Pindaré, onde homens e mulheres eram mortos constantemente pela ganância de grandes fazendeiros e a conivência do aparelho estatal. A polícia também era protagonista dos maus tratos sofridos pelos trabalhadores rurais.  O líder camponês começou organizando o sindicato de trabalhadores rurais no vale do Pindaré-Mirim, no Maranhão, posteriormente contribuiu na organização de entidades importantes no cenário nacional como a Central Única dos Trabalhadores – CUT, o Partido dos Trabalhadores – PT e o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural – CENTRU.

A obra é fundamental para se conhecer o Maranhão profundo onde a conjuntura política da época é apresentada com o rigor detalhado e  personagens como José Sarney, governador do Maranhão, são revelados em toda a sua sordidez e contradições. Consta no livro a responsabilidade do velho oligarca no sofrimento de Manoel e a posterior tentativa de comprá-lo oferendo-lhe regalias. Manoel prontamente responde-lhe “Minha perna é minha classe” !

Adalberto certa vez disse-me que iria escrever a segunda parte do livro, dando detalhes sobre a época que Manoel morou fora do Brasil, onde viajou para várias partes do mundo, denunciando o regime civil-militar do Brasil e se encontrou com vários lideres socialistas. Sua casa era ponto de encontro de outros brasileiros, sindicalistas, intelectuais artistas, políticos. Germinava ali o que seria o então Partido dos Trabalhadores. Infelizmente corremos o risco de não termos esta segunda parte. O autor não teve tempo de publicar e o biografado em idade avançada já não guarda muito bem as lembranças. 

A saga de “Manoel Conceição: sobrevivente do Brasil” é um misto de narrativa histórica e drama realista envolventes. Poderia tranquilamente virar um grande longa-metragem de ação pelo ritmo que passa. Uma triste história como foi a de tantos outros brasileiros e maranhenses mais com um grande final para aqueles que acreditam na justiça. O legado de Manoel jamais será esquecido. Já seus algozes estão no lixo da história. 

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