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25/06/2021 às 23h20min - Atualizada em 25/06/2021 às 23h20min

Há sempre uma saída

Elson Araújo
Na expectativa do nada que poderia acontecer naquele dia decidiu isolar-se. O medo tomou conta de todo o corpo. Suava muito. Era um suor frio e gelado.  Chegou em casa e fechou todas as portas. Desligou o celular e todas as luzes do ambiente. 

Deitou-se, preferindo o chão, ao sofá. Fechou os olhos. As lágrimas desciam copiosamente, e mesmo assim não houve alívio algum. Estava triste, muito triste, mas não conseguia entender o que estava acontecendo nem o porquê de tanta tristeza. Se pelo menos conseguisse dormir, mas nem isso. Já fechava dois dias seguidos naquela agonia. 

Naquele dia fez todas as orações e rezas aprendidas ao longo da vida, porém não adiantou nada as providências até ali adotadas. A escuridão e as horas só aumentaram o ritmo das batidas do coração e das imagens mentais, uma atrás da outra, tal qual aquelas do cinema mudo: em preto e branco. O colorido da vida, até no pensamento, tinha desaparecido. Não conseguia pensar em cores. 

A cabeça doía. Uma dor lancinante, insuportável. 

Levantou-se! 

Cambaleante, lembrou de alguém que podia lhe ajudar a sair daquela situação. Questionou-se porque não havia pedido ajuda antes. Estava naquela situação havia meses, mas não sabia do que se tratava, e por acreditar que resolveria tudo sozinho, resistia ao ato de pedir ajuda. 

Tateou na escuridão à procura do telefone que havia largado desligado em algum canto da casa. Temia acender a luz e aumentar a dor de cabeça que o torturava. Mesmo assim, o fez. Sentiu uma pontada forte na cabeça, que naquele instante parecia que ia explodir. O mundo girou!  Não conseguiu encontrar o telefone.  

Pensou que morreria ali mesmo. Naqueles instantes torturantes teve a atenção encaminhada para uma caneta e um caderno na mesa de centro. Com as mãos trêmulas conseguiu na marra, numa letra quase ininteligível, escrever duas frases: - Não aguento mais!... 

Presumiu-se que o homem ainda tinha mais coisas a relatar naquela missiva, mas não deu tempo. Foi encontrado horas depois por socorristas.  A última frase escrita na folha de papel foi: - não me deixem morrer! 

O homem não morreu. Depois de cinco dias internado recebeu alta. O relato acima foi feito por ele mesmo  há dois anos num encontro casual comigo. 

- Tenho uma história para você escrever. Só não diz meu nome. Promete?  

Firmei com ele ali na hora, caso viesse a escrever algo a respeito, o compromisso de jamais revelar seu nome. 

Rapaz, quase morri. Estava com depressão, e não sabia. Agora estou bem. Procurei ajuda e, graças a Deus, quase recuperado.
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